quinta-feira, 3 de setembro de 2020

O que eu perdi: "You Are Beneath Me" do End of a Year (2010)

a1018018587_16

Completando 10 anos em 2020, You Are Beneath Me é a desculpa perfeita para eu restaurar essa categoria de posts que não recebe atualizações há mais de um ano.

[bandcamp width=100% height=42 album=451097658 size=small bgcol=ffffff linkcol=0687f5 track=595934135]

You Are Beneath Me é o terceiro álbum do Self-Defense Family, que em 2010 ainda se apresenta sob a alcunha de End of A Year e é sob essa alcunha que eu lhes apresento, até porque há uma mudança na forma como a banda se comportou após a mudança de nome, pois até então eles eram muito mais hardcore puro e simples do que a banda experimental de rock que se tornaram a partir do excelente Try Me, embora os elementos que viriam a classifica-los como "rock experimental" já estivessem todos ali, em You Are Beneath Me.

A começar pela primeira faixa do álbum, a qual é simplesmente um receituário de como ouvir apropriadamente este álbum, com caixas de som ruins, distribuídas numa forma triangular ao redor da sua cabeça, além de alguns conselhos pra sua vida, como entender que seus pais merecem respeito até o momento em que eles se divorciarem e que você deve se render a mídia. Isso tudo é feito num spoken word típico do Patrick Kindlon, o talentoso vocalista que é também escritor de HQs.

Aliás, todas as canções contam com esse vocal falado, que não parece ser propositalmente colocado ali para parecer um spoken word, é apenas o jeito que o Patrick escolheu "cantar", não cantando. Para quem acompanha os outros álbuns do Self Defense Family e Drug Church (outro projeto musical do cantor), sabe que ele, hoje, tenta cantar, mas naquela época ele ainda estava pouco se lixando para isso.

[bandcamp width=100% height=42 album=451097658 size=small bgcol=ffffff linkcol=0687f5 track=1286611323]

Isso é claro que afasta muita gente, mas acho que poucos iriam negar que a banda é muito boa, harmonicamente falando. Contando com referências daquele estilo de hardcore que se popularizou em volta da capital dos EUA (a minha preferida sendo o Bad Brains), eles criam um som rápido, explosivo, mas não agressivo como muitas bandas mais próximas do metal. Há também uma veia mais próxima do indie, que na época já flertava com o hardcore nos EUA e iria culminar naquele excelente álbum do Cloud Nothings e no Title Fight.

Todas as canções, exceto a primeira, são nomeadas com base em pessoas que os membros da banda conheciam, mas isso é apenas um detalhe interessante, nada que afete os "conceitos" trabalhados, que não encontram nenhuma coesão. As letras falam de basicamente qualquer coisa, desde como ouvir o álbum, até os desejos humanos, a falta de explicação para porque alguns idiotas roubam e heranças. Tudo com um ar debochado típico dos descolados daquela época, sem achar um tema em comum que cole tudo junto. As letras estão mais para grandes aglomerados de ideias e pensamentos que transitavam pela mente do vocalista quando ele as escreveu, mais ou menos como um grande fluxo de consciência punk regrado a fortes e enérgicas melodias.

O álbum completa dez anos agora em 2020, mas ainda não recebeu todas as gratificações que merecia, pois ele adiantou muita coisa que viria a aparecer tanto na cena do indie rock quanto na cena do hardcore nos EUA e talvez fosse até por isso que a banda acabou aparecendo em grandes festivais de música após o lançamento.

[bandcamp width=100% height=42 album=451097658 size=small bgcol=ffffff linkcol=0687f5 track=19924057]

Aos que gostariam de ouvir mais, a continuação da banda como Self Defense Family não é recomendada, mas os vocais de Patrick Kindlon encontram uma continuação junto de Drug Church, que é o projeto mais próximo desse álbum no momento e é igualmente incrível.

Em todo caso, fica aqui o meu obrigado a banda por soltar essa pérola e também um parabéns por terem realizado tal projeto, que foi muito bem sucedido, envelhecendo deveras aprazível para a audição de quem curte umas boas guitarras rasgadas.