quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Dica cinematográfica: "Samurai X: Kyoto Inferno" (2014)

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Enfim é lançada a continuação do melhor filme adaptando outra mídia que o mundo já viu: "Samurai X: Kyoto Inferno"; é a continuação de Samurai X, o já clássico filme de 2013.


Eu não assisti, nem li o material original, então não tenho muita bagagem para falar, como fã, o que achei desse filme, então vou falar dele, apenas como continuação de um dos meus filmes favoritos.


Na trama, Kenshin está vivendo com Kaoru e seus amigos na escola de kendo da moça, até que ele é solicitado pelo novo governo para derrotar o samurai Sishio Makoto, um homem munido de puro mal e que quer derrubar o governo Meiji, já bem estabilizado no período da história. Mais uma vez, Kenshin deve empunhar sua espada para deter o mal, enquanto um novo rival surge, Sojiro, um samurai que jurou vingar-se do samurai com a cicatriz em cruz.


Este filme, funciona mais como um prólogo, um prelúdio para algo ainda maior, que será o seu terceiro filme (lançado no Japão quase que simultaneamente ao primeiro), apresentando personagens, reforçando a trajetória do herói, os dramas pessoais de cada um e convencendo o espectador de suas tomadas de decisão. Tudo isso é feito com bastante calma, sendo apresentado aos poucos para quem assiste, o que pode parecer um pouco chato, mas promete compensar a espera.


Aliás, todo esse tempo tomado para desenvolver a trama é muito bem utilizado, conhecemos as razões de Sishio e elas convencem, nem tanto por fazer você se compadecer com o personagem, mas por fazer você entender que ele é um louco, um vilão de verdade, conhecemos as razões de Sojiro, seu passado, seu sofrimento e isso também convence. Kenshin deve masi uma vez empunhar sua espada com relutância, mas a crueldade a qual ele (e nós) somos apresentados, acabam nos convencendo também, das suas ações.


O filme tem mais uma vez um prior técnico soberbo, com planos abertos, ângulos originais, além de um balanceamento incrível de elementos em todas as suas cenas, que são verdadeiros colírios para os olhos. Resumindo; o filme é bonito demais, esteticamente falando.


Sua trilha sonora também é marcante, muito bem pontual, auxiliando, ou melhor, complementando a criação da atmosfera desejada em suas cenas, sem se sobrepondo demais ao filme, porém fazendo parte dele, funcionando em conjunto com ele, sendo difícil imaginar como determinadas cenas seriam sem ela.


Assim como o seu antecessor, "Samurai X: Kyoto Inferno" é um filme maravilhoso, mesmo que seja um pouco menos eletrizante que o primeiro, é compreensível, levando-se em conta que essa é a introdução a algo maior, uma introdução com muitas reviravoltas, diga-se de passagem, fazendo a antecipação para o glorioso desfecho final crescer ainda mais.


4 pontos e meio

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Dica literária: "Astronauta: Singularidade" de Danilo Beyruth

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"Astronauta: Singularidade" é o segundo quadrinho da segunda leva de quadrinhos da Graphic MSP, continuação de "Astronauta: Magnetar", o primeiro quadrinho da bem-sucedida Graphic MSP.


Neste volume, o Astronauta sai em missão para investigar uma anomalia próxima a um buraco negro, junto com uma psicóloga da BRASA e um astronauta gringo misterioso.


Eu não li o primeiro volume ("Astronauta: Magnetar") e sei que deveria lê-lo, por que muitos falam bem desse quadrinho, mas por enquanto não li e vou fazer essa dica, analisando apenas esse volume. Alguns detalhes têm (ou parecem ter) relação com a edição antiga, mas nada que atrapalhe um "novo" leitor, como eu. Existem algumas explicações científicas meio didáticas ao longo da história, o que não a atrapalha, por que são muito bem colocadas, em momentos-chaves da história. Outro ponto muito legal são as referências, que mesmo que pequenas continuam presentes e são muito legais, pois te faz lembrar do antigo personagem que Maurícia de Sousa criou, só que sem os elementos humorísticos.


No entanto, para mim, "Astronauta: Singularidade" tem um defeito grave: sua narrativa. Na maioria das páginas, somos guiados pela história através de quados largos, que se estendem de um extremo ao outro da página, compilando 3 ou 4 quadros por página apenas, sem muito texto, o que faz com que a narrativa pareça ser muito corrida. E eu entendo que isso faz parte do estilo do autor, eu respeito, só não gosto.


Gosto não se discute, só se lamenta.


Em relação a arte, sem surpresas, está incrível, o estilo de desenho de Danilo Beyruth é muito bom, meio rascunhado, porém muito rico e as cores foram feitas por Cris Peter, uma artista que eu admiro a um bom tempo, por que ela é muito boa, preenchendo lacunas na arte, adicionando detalhes e criando uma ambientação perfeita para o sentimento que o desenhista quer passar.


Enfim, "Astronauta: Singularidade" tem alguns defeitos, na minha opinião, que podem não ser defeitos dependendo do seu gosto, mas ainda assim é bom, uma leitura interessante para uma tarde preguiçosa e também para completar a coleção, que tá ficando cada vez mais bonita.


3 pontos e meio

2014 in review

The WordPress.com stats helper monkeys prepared a 2014 annual report for this blog.



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A San Francisco cable car holds 60 people. This blog was viewed about 460 times in 2014. If it were a cable car, it would take about 8 trips to carry that many people.

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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Dica cinematográfica: "I Origins" (2014)

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Fazia tempo que eu não terminava de assistir um filme pensando: "Putz grila! Que filme foda!". O único problema é que será extremamente difícil escrever essa dica sem adicionar spoilers, portanto, se prepare.


"I origins" conta a história de um biólogo molecular chamado Ian Grey. Ele sempre foi fascinado pelo olho humano e sempre que conhece alguém tira uma foto de cada um dos olhos dessa pessoa e trabalha desenvolvido um estudo que consiste em provar a evolução dos olhos de animais, desde um animal sem olhos até o desenvolvimento de olhos, a fim de refutar a pseudo-prova que criacionistas usam para anular a teoria da evolução; a de que olhos são sistemas tão complexos que seria impossível existirem sem a presença de um criador.


Numa festa da faculdade, Ian conhece Sofia, uma garota ousada e bonita, que logo chama a sua atenção e o relacionamento dos dois seria uma maravilha, não fosse por um fator: Ela acredita em Deus, já Ian não e os dois sempre discutem por causa disso.


Após uma discussão no dia em que os dois se casaram, Sofia morre de forma trágica. Ian sente-se horrível por nem ter tido a oportunidade de se despedir da mulher e algum tempo depois, sua assistente no laboratório, Karen o faz ir até o local de trabalho dos dois, mostrando que eles conseguiram desenvolver um olho em uma minhoca.


7 anos depois, Ian e Karen estão juntos, ela grávida, ele lançando um livro com seu estudo, derrubando uma das mais antigas refutações dos criacionistas.


O bebê dos dois nasce, sua retina é catalogada em um banco de dados mundial que contém a retina de milhões de pessoas e tudo corre bem, até que eles recebem uma ligação suspeita de uma doutora (uma das 5 pessoas no mundo com acesso aos dados do banco de dados de retina), dizendo que o filho deles tinha suspeita de ter autismo. Ian acha isso suspeito e os testes que a mulher faz com seu filho ainda mais suspeito e após uma pesquisa, ele descobre que o padrão da iris de seu filho era igual ao de um fazendeiro negro em Nebraska (acho).


Isso é extremamente estranho, já que o padrão da iris é único em cada ser humano. Detalhe: O fazendeiro morreu dez meses antes do nascimento do filho de Ian. Após um rápida pesquisa, ele descobre que o padrão do olho de sua ex-mulher Sofia também tinha um gêmeo, só que na Índia.


A grande questão no filme, ao meu ver, parece ser a existência de algo superior, um ser supremo que criou o universo, algo além da nossa compreensão. Deus, deuses, um panteão de divindades, isso não importa, até por que ao longo do filme não sabemos qual a religião de Sofia, mas sabemos que ela acredita no mundo espiritual, em vida após a morte, ressurreição, reencarnação até.


E conforme o filme avança para o final, parece que ele começa a pender para esse lado, da crença em algo espiritual, perto do final perdemos nossas esperanças para, enfim, recuperarmos ela.


O filme tem uma narrativa muito boa, sem forçar os momentos a acontecerem rápido demais, tudo é explorado com bastante calma e maestria. Em nenhum momento ele é didático, tornando-se chato, muito pelo contrário, os momentos onde outros filmes cairiam em uma encenação entediante entre ciência e religião, acabm cedendo espaços para discussões recheadas de metáforas e paradoxos.


Todos esses elementos, unidos a uma ótima fotografia, excelentes atuações fazem deste filme uma ótima obra de arte, que mescla diversos temas, flertando com a ficção científica, religião e drama pessoal ao mesmo tempo.


Há claro, alguns defeitos, como cenas e situações forçadas, meio absurdas, mas isso é ficção, caramba! Qual o problema com um pouco de absurdo, afinal?


4 pontos e meio

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Dica cinematográfica: "Projeto China" - 1983

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"Projeto China" é um filme escrito e dirigido por Jackie Chan, feito em 1983 e faz parte de uma série de 3 filmes feitos em parceria com Sammo Hung e Biao Yuen.

O filme se passa em Hong Kong, no final do século 19 e, apesar da rivalidade existente entre a marinha e a polícia da época, todos os marinheiros são obrigados a fazer parte da polícia, incluindo o rebelde marinheiro Dragon Mi Young, sob o comando do Capitão Tzu. Tudo isso devido a uma série de cortes no orçamento público, causados por uma série de ataques a navios por grupos piratas. A polícia acaba encontrando uma relação entre os piratas e um grupo de criminosos de Hong Kong, forçando o grupo de marinheiros voltar a ativa, mesmo que num trabalho extra oficial.

Este filme é um dos primeiros trabalhos de Jackie Chan na direção e é fácil perceber que este filme não é nenhuma obra-prima, mas contém várias cenas incríveis e já conta com o primor técnico e perfeccionista de Jackie Chan.

Tudo isso recheado com uma dose de humor muito grande, sendo um dos filmes mais engraçados que eu já assisti do diretor, o primeiro sendo o clássico (e também fruto da mesma parceria que resultou esse filme); "Detonando em Barcelona".

Enfim, esse filme não nenhuma obra-prima, mas é ótimo, engraçado e com cenas de ação extremamente excitantes.

3 pontos

domingo, 21 de dezembro de 2014

Dica cinematográfica: "Before I Disappear" (2014)

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"Before I Disappear" é um filme melodramático/indie/alternativo de 2014.

Conta a história de Richie, um cara que desiste de viver por causa da sua ex-namorada (supostamente morta), mas antes de cometer o ato final, ele recebe uma ligação de sua irmã, pedindo para ele cuidar da sobrinha, por que ela foi presa. Os dois não se falavam há anos e rever sua sobrinha foi como conhecer alguém novo. Richie passa a cuidar de Sophia durante toda a noite, descobrindo aos poucos uma nova vontade de viver, não por ele, mas pelos outros.

O filme não é nenhuma obra-prima do gênero como os brilhantes "Se enlouquecer, não se apaixone" e "A arte da conquista", mas consegue se destacar por algumas qualidades, que chegam até a superar os "clássicos" do gênero em que se enquadra.

Uma delas é o olhar técnico do diretor, usando aquele enquadramento perfeccionista que saudou diretores como Kubrick e Wes Anderson, equilibrando os elementos, centralizando os personagens no meio do quadro, mas acaba errando a mão em alguns momentos em que um personagem fica de costas enquanto fala ou é cortado apenas para mostrar um dos dois personagens principais.

Outro ponto positivo da obra são as cenas surreais que se intrometem ao longo da película, mas sem perder completamente o sentido em relação à história, até por que Richie se droga, então faz sentido ele sofrer algumas alucinações ao longo da noite. Uma das cenas que mais chama a atenção é a cena em que Sophia dança no meio da pista de boliche e, aos olhos de Richie, todos parecem acompanhá-la.

Também não tem como não ficar com a sensação de que esse filme se trata de uma sucessão de videoclipes, alguns bons, outros nem tanto, isso por que a trilha sonora é muito presente, mas para mim, não é tão boa. Algumas músicas são ótimas, outras nem tanto.

Enfim, esse é um filme bem equilibrado, conta com ótimas atuações, muito convincentes e uma abordagem interessante dos dramas pessoais de seus personagens. Por essas e outras, o filme é uma boa pedida para passar esse final de ano de forma calma e relaxada.

3 pontos

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

As melhores dicas musicais de 2014

Chegou aquela época do ano cheia de listas opinativas dos melhores álbums do ano, melhores músicas do ano, melhores filmes do ano, que ninguém vai ouvir daqui alguns anos, mas aqui, eu decidi trazer aqueles álbums que eu escutei há muito tempo e continuo escutando, além de ter indicado eles no blog, com exceção de um álbum, que na época não de lançamento não dei muito valor, mas vira e mexe, paro para escutá-lo.

E é com esses dois álbums que abro a lista de melhores CD's de 2014:

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O que dizer desse CD delicioso do Mac Demarco? É um indie despretensioso, muito influenciado por bandas lá dos anos 90. Suas canções são marcadas pelos riffs de guitarra, que lideram a maioria das melodias, além de serem, de um modo geral, curtinhas, então não tem como enjoar das músicas que Mac Demarco criou. Confesso que não conhecia o artista antes de "Sallad Days", então posso ter sido apresentado a uma sonoridade diferente da usual dele, ou não, quem sabe? O que importa é que eu achei esse álbum muito equilibrado, gostoso de ouvir e merece estar nessa lista.


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Apesentando um som mais sofisticado e regular, "Plowing into the field of love" pode ter levantado algumas dúvidas na cabeça de seus fãs mais assíduos, no entanto, após o seu lançamento, fica claro que o Iceage ainda é Iceage, com apenas mais influências e um requinte maior, o que tem apenas a acrescentar para a banda, abrindo novos e interessantes caminhos para eles.


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Criando batidas poderosas, usando sua ótima voz, num conceito muito interessante, Teophilus London consegue chamar e prender a atenção com "Vibes", seu segunda álbum de estúdio. Leia mais sobre o álbum aqui.


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Uma banda extremamente prolífica volta com mais uma explosão de energia, guitarras distorcidas, baterias marcantes e o bom e velho rock n' roll, apenas com uma qualidade maior, deixando de lado a sonoridade lo-fi, mas sem perder a essência do que é o som de Bass Drum of Death; "Rip This" é um álbum que merece ser ouvido e tocada várias e várias vezes.


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Um CD que não é para todos os ouvidos, experimental e original, misturando elementos tão variados que fica difícil traçar a sua origem. Adult Jazz entra para o cenário musical oficialmente com "Gist Is" em grande estilo, cumprindo com sua promessa de lançar um dos grandes álbums de 2014.


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Outro álbum de estréia, Honeyblood chegou para mostrar que um bom rock de garagem não é feito apenas com garotos magrelos, metidos em calças apertadas e usando camisetas rasgadas. É possível ser feito também por meninas g@t@s em roupas de vovó, típicas pastel goths que a internet tanto ama.


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Explorando diferentes temas, em um flow impecável, Mac Miller lança o seu melhor projeto até agora. "Faces" é profundo, obscuro, dançante e divertido. Uma mistura nada ortodoxa e impressionante.


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Apresentando uma sonoridade completamente nova para a banda, "Luminous" é um marco no som do The Horrors, um som que eles vinham cravando a anos e só agora foi apresentado à superfície. Agora, só o tempo dirá se esse é o diamante lapidado e pronto para a exposição, ou apenas a amostra de uma pedra preciosa ainda a ser descoberta pelos nossos ouvidos.


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No seu melhor trabalho até então, Monster Rally apresenta um conceito muito interessante, abusa de influências pouco utilizadas e exploradas, além de terminar o ano anunciando um novo trabalho colaborativo que, pelo jeito, parece estar muito bom. "Sunflower" é um EP de apenas 4 músicas, mas mostra que quantidade não é sinônimo de qualidade.


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"Rooms of the house" é uma obra-prima. A excelência traduzida em músicas, um som marcante, ora vibrante, ora introspectivo, ora violento, ora calmo, mas sempre, sempre inteligente. É uma obra de arte, que, se fosse possível, seria emoldurada. Na minha opinião, é, sim, o melhor CD do La Dispute, embora seja impossível de classificá-lo e talvez seja por isso que seja tão bom. É um CD que transmite tudo o que a banda havia transmitido ao longo dos anos, só que mais refinado, melhorado. Enfim, apenas admire.


E para terminar, uma menção honrosa a um dos melhores álbums da história e que este ano completou 10 anos desde o seu lançamento.


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"Madvillainy" não é um apenas um dos melhores álbums do MF Doom, é um dos melhores da história. Por que? Simplesmente, por que une em 20 músicas dois gênios do Hip Hop: MF Doom e Madlib. O primeiro com suas rimas extremamente inteligentes, cheias de referências, sagazes e engraçadas, o segunda com suas batidas impressionantes, utilizando canções que ninguém nunca ouviu, misturando sonoridades como ninguém e, este ano, essa obra-prima completou 10 anos desde o seu lançamento. Deve ser ouvido por todos os amantes de um bom rap e também para aqueles que querem, simplesmente, conhecer boa música de verdade.


Enfim, essa é a minha lista de melhores álbums do ano, bom natal, feliz ano novo, fiquem com Deus e um beijo aonde você quiser.


Falow.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Dica cinematográfica; "Police Story" (1985)

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"Police Story" é aquele clássico filme da Band dirigido e estrelado pelo mestre do cinema de ação Jackie Chan e é desse filme que eu vou escrever hoje.


A história acompanha alguns dias na vida de Ka Kui, um policial da polícia de Hong Kong, enquanto ele é incriminado por um chefão do crime que havia ajudado a prender, foge dos seus próprios colegas policiais que acreditam que ele assassinou um policial e arranja problemas com a namorada.


Nunca falei de Jackie Chan aqui no blog por achar que ele dispensava qualquer comentário, afinal o cara é um gênio, mas como andei vendo algumas críticas negativas ao seu trabalho, decidi escrever um pouco sobre os meus filmes favoritos do Jackie Chan e bem, que melhor forma de começar a falar dele, se não pelo clássico "Police Story"?


Neste filme, Jackie Chan já havia se consolidado como ator de filmes de ação na China, usando o seu próprio estilo, bem diferente do de Bruce Lee, exatamente para evitar comparações com o outro mestre, abusando de movimentos ágeis aprendidos quando ele ainda era adolescente e praticava atletismo, além de fazer uso de diversos objetos dispostos nos cenários e, é claro, o humor, sempre presente em todas as cenas de luta. Em "Police Story", Jackie é também o diretor, o que dá a ele muito mais liberdade para explorar tudo aquilo que ele e sua equipe de dublês poderiam fazer na tela, além de mostrar como que além de ótimo lutador, ele é ainda um ótimo diretor.


Quando eu paro para pensar neste filme, noto que este é um filme completo, bom roteiro, boas lutas, boa trilha sonora, boa direção, enfim... Não tem como decepcionar.


Suas cenas de ação estão entre as melhores cenas de luta da história e não é para menos. Um dos grandes méritos de Jackie Chan é o fato dele ser um perfeccionista, filmando e refilmando várias vezes a mesma cena até ela sair perfeita e, de preferência, sem muitos cortes, usando sempre de planos abertos, o que nos passa uma sensação de movimento e impacto muito maior.


Repare, nos filmes de ação genéricos as cenas de luta sempre focalizam os golpes, mas isso não dá uma boa ideia de movimento e impacto, por que nós não vemos, por exemplo, o braço se movendo em direção ao rosto, nem o rosto sendo jogado para trás (isso quando o golpe em si é mostrado). Já em "Police Story" nós vemos o braço de movendo e o rosto sendo jogado para trás, e claro, vemos os golpes sendo focalizados pela câmera, mas no momento certo, para dar mais dinamismo à cena.


Isso é algo que o cinema de ação perdeu atualmente e mestres como Jackie Chan dominaram com maestria.


Então o filme não tem um valor apenas como entretenimento, puro e simplesmente, ele também tem seu valor como obra de arte que é, afinal como não dizer que cenas como aquela em que o carro cai pelo barranco destruindo várias casas, ou a cena em que Ka Kui desce pelo lustre do shopping não são emblemáticas e belas, por si só?


Enfim, "Police Story" é um filme mais que recomendado pra você, que quer ver muita porrada; pra você, que quer adquirir um pouco mais de conhecimento sobre a forma de se fazer cinema; ou para você, que quer dar umas risadas, simplesmente com um clássico do cinema chinês.


5 pontos

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Dica literária: "O sol é para todos" (1960) de Harper Lee

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“O sol é para todos” é o primeiro e único livro escrito por Harper Lee, publicado em 1960, tornando-se rapidamente um sucesso de vendas.

No livro acompanhamos três anos na vida de Scout, uma garota que mora com o pai (Atticus), o irmão (Jem) e a empregada negra da família (Calpúrnia) na cidade ficcional de Maycomb County, Alabama, no meio da Grande Depressão que assolou os Estados Unidos nos anos 30. Além da ocasional presença de Dill, um garoto aventureiro que visita Maycomb todo verão.

A narrativa do livro lembra um pouco aqueles filmes da Sessão da Tarde, com crianças que se aventuram pelos cantos mais obscuros do bairro, sendo narrado por Scout, na forma de capitulos, geralmente fechados, em que cada um é mostrado um acontecimento diferente na vida da menina e das pessoas que as circulam.

Pelo fato de termos uma menina entre os 7 e 10 anos narrando o livro, somos apresentados à história de uma forma bem descontraída e inocente, mas engana-se quem acha que esse é um livro raso, fácil de engolir, pois sua história é ambientada no sul dos Estados Unidos, numa época que ainda vivia às sombras do período de escravidão, apresentando questionamentos sagazes de assuntos sérios como o racismo, o preconceito, o papel da mulher na sociedade, a diferença entre classes, compaixão, tolerância e honra. Tudo isso explorado em personagens longe do maniqueísmo habitual que iria se esperar de uma obra assim.

Pelo contrário, os personagens apresentados em “O sol é para todos” não são bons, nem maus, eles apenas vivem de acordo com aquilo que acreditam ser certo ou errado. Isso é algo muito bem explorado pelo Atticus, o pai de Scout, que lhe ensina que algumas pessoas têm opiniões erradas sobre determinados assuntos, por que são ignorantes, não por que são más e por isso não devemos odiá-las.

Esses pequenos ensinamentos são colocados no livro de forma completamente pura e inocente por Scout, que às vezes não entende o que o seu pai quer dizer, criando uma ligação com o leitor, que também pode não entender, forçando você a parar para pensar um pouco sobre determinada questão.

Tudo isso faz desse livro uma leitura ainda mais fascinante e brilhante.

A escrita de Harper Lee também merece destaque. Ela transmite em palavras os trejeitos e “gírias” caipiras típicas do sul dos Estados Unidos, presente em todas as páginas do livro, visto que ele é narrado do ponto de vista de Scout, que apesar de viver na cidade, está cercada de homens do campo, pessoas humildes e com um vocabulário menos vasto que o de seu pai.

“O sol é para todos” é um livro que eu adorei ler e está mais que recomendado, visto que os temas abordados e seus ensinamentos continuam mais necessários do que nunca, infelizmente.

4 pontos e meio

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Dica cinematográfica: "The Collector" (1965)

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"The Collector" é um filme anglo-americano de 1965, dirigido por William Wyler e baseado na obra homônima de John Fowles.

O filme conta a história de Fred, um rapaz solitário, tão obcecado por uma mulher que acaba raptando-a e trancafiando-a no porão de sua casa. Após o despertar de Miranda, ele tenta criar um vínculo com ela, mas o relacionamento dos dois está fadado ao fracasso desde o início.

Este filme é uma obra-prima do suspense, mostrando de forma sagaz o deterioramento de um relacionamento causado pela incapacidade dos dois protagonistas de se relacionar um com o outro. Miranda é uma garota extrovertida, com dotes artísticos e com uma certa arrogância odiável. Já Fred, é um rapaz que mora sozinho, tem como hobby colecionar borboletas e teve a sorte de ganhar na loteria, sentindo poderoso, desde então.

Não há espaço para maniqueísmos aqui, o seu enredo não é preto no branco, são personagens com qualidade e defeitos como qualquer um de nós e, após um tempo assistindo o filme você não sabe mais quem é o dominador e o dominado da história.

Esse detalhe deixa o filme com uma atmosfera ainda mais sufocante, por que os momentos em que o Fred demonstra o que sente por Miranda deixam uma sensação amarga de vergonha alheia em quem assiste e nos momentos em que Miranda se aproxima de Fred ficamos indignados, inconformados com o que ela está fazendo, ou dizendo.

É uma relação doentia e como já diz o pôster do filme "Quase uma história de amor", afinal, quem nunca viu uma história como a de Fred e Miranda? O filme também deixa uma questão interessante no final, a de que os personagens estão fadados a relacionamentos assim para sempre, pois nenhum deles parece disposto a mudar, em momento algum, e por isso vão continuar a cometer os mesmos erros, sempre e sempre. Entrando e saindo desse tipo de relacionamento, mesmo que longe do cativeiro.

Quanto à parte técnica o filme é um colírio para os olhos. Eu sou suspeito de falar, pois adoro filmes coloridos em Technicolor, com aquela granulação tão peculiar nas imagens, mas mesmo quem não se liga muito nesse aspecto técnico, vai se sentir bem ao ver o filme, com suas cenas bucólicas, os planos bem abertos. Uma verdadeira obra de arte.

Enfim, "The Collector" é um clássico mais que recomendado. Assistam!

4 pontos

domingo, 30 de novembro de 2014

Dica literária: "Koe no Katachi" (2014)

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"Koe no Katachi" é um mangá escrito e desenhado por Yoshitoki Ooima, serializado entre Agosto de 2013 e Novembro de 2014.

O mangá conta a história de Nishimiya Shouko, uma garota surda que se muda para uma nova escola, de ensino primário. Pelo fato dela ser surda, acaba sendo alvo das brincadeiras de mau gosto de Ishida Shouya, até que ela é forçada a sair da escola. Como resultado, Ishida acaba sendo ostracizado por todos os seus colegas de classe, durante todo o resto da sua vida escolar primária. Anos depois, já no colegial, arrependido do que fez, ele procura se reencontrar com Nishimiya, buscando redenção pessoal.

Agora que acabou, sinto-me livre para falar desse excelente mangá, que começou como um one-shot e depois foi serializado. No one-shot somos apresentados a toda a história de Ishida zoando Nishimiya em algumas páginas, finalizando com o seu reencontro em uma estação de trem. Já na serialização todo o primeiro volume do mangá é dedicado a mostrar a infância de Nishimiya e Ishida, aprofundando em seus relacionamentos com os parentes e os amigos, centrando-se mais em Ishida, mostrando que ele é um garoto que, simplesmente, não quer ficar entediado e por isso se mete em loucuras como pular da ponte e zoar Nishimiya, chamando a atenção de todos. No entanto, ele, no fundo, não tem amigos, que só se aproximam dele por que não vêem outra opção e por isso, acabam fazendo Ishida ser alvo de ostracismo, após a saída de Nishimiya da escola.

No final do primeiro volume, a série pula alguns anos e Ishida já está no colegial, ainda sem amigos ou expectativas para o futuro. Ele passou os últimos anos dedicando-se a aprender a língua de sinal, até o dia em que se reencontra com Nishimiya e, então, ele dedica-se a tornar-se amigo dela, surpreendendo a garota.

A partir daí, o mangá desenvolve as relações de Ishida com Nishimiya e as pessoas do seu lado, mostrando como Ishida volta a confiar nas pessoas e descobre-se apaixonado pela garota. Conhecemos também o passado de Nishimiya e sua relação com a família, que mostra-se bastante complicada também.

Como todo mangá, infelizmente, as relações amorosas não são aprofundadas (não rola nem um beijo entre os dois), mas não é longo o suficiente para enjoar os leitores. Sem contar que o desenvolvimento de personagens é impressionante, dando a atenção necessária para que os leitores criem empatia com cada um deles, até mesmo os secundários, que também são bem explorados e necessários para o desenrolar da trama.

Um dos pontos que me chamou a atenção foi o fato do autor ter contado com o auxílio da "associação japonesa para pessoas com deficiência auditiva" (ou algo assim, não sei qual seria a tradução exata) para fazer os sinais exatos da língua de sinais no mangá. Algo que é muito interessante, por que funciona para atrair o interesse dos leitores á língua de sinais e conferir mais realismo à história, principalmente quando ela começa a ser contado do ponto de vista da Nishimiya.

A arte também é muito boa, não sendo espetacular, mas sendo muito competente e bem equilibrada.

Enfim, "Koe no Katachi" é um ótimo mangá, já finalizou então leiam sem medo de ser cancelada ou virar uma porcaria.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Dica cinematográfica: "O menino e o mundo" (2014)

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"O menino e o mundo" é um filme brasileiro de animação lançado nos cinemas nacionais no ano de 2014.

O filme conta a história de um garoto, que sentindo falta do pai, decide sair de casa para procurá-lo, descobrindo um mundo cheio de máquinas bizarras com aparências animalescas, sociedades futuristas e vidas de pessoas diferentes, com seus próprios dramas, hobbies, sonhos e esperanças.

O filme não tem falas, ou melhor, até tem, mas não são inteligíveis. Ainda não sei se eles falam alguma língua diferente, com a qual não estou familiarizado, ou se suas vozes são tocadas de trás para frente (opção mais plausível). Toda a história é contada sem que saibamos os nomes de seus personagens, alguns que mais parecem alegorias de tipos que encontramos no nosso mundo, como morador de favela que vai pro trabalho antes do sol nascer e só volta para casa depois que o sol se põe, até mesmo o pai do garoto, que é a personificação do homem do interior que vai para a cidade grande procurando uma oportunidade de melhores condições de vida.

No entanto, a falta de diálogos é compensada pela trilha sonora, simplesmente sensacional, com tons muito originais, em sua maioria instrumental (apenas uma canção é cantada, pelo incrível Emicida, também de trás para frente), traduzindo para os nossos ouvidos quais as sensações que o menino está sentindo em cada um dos momentos de sua aventura por esse mundo mágico.

Aliado à isso, está a arte do filme. É uma animação muito texturizada, seus personagens parecem terem sido desenhados com giz de cera, algumas partes do cenário parecem colagens de páginas de revistas e a movimentação de tudo é feita de forma a criar um ambiente lírico, aberto à imaginação do espectador, dando ainda mais originalidade à essa obra.

O único pecado que eu acho que a obra comete é ao querer aliar à ótima história uma crítica social, que, em alguns momentos, é clara e direta, como no momento em que o garoto pensa encontrar o seu pai, mas descobre estar vendo apenas uma multidão de homens iguais. No entanto, em diversos momentos a crítica torna-se confusa, como no final, em que duas aves gigantes brigam acima da cidade (esse momento é de fácil compreensão, mas uma das aves apresenta-se confusa para o espectador).

Felizmente, isso não prejudica de forma alguma o filme, que poderia muito bem existir sem essas partes.

O final também torna-se um pouco confuso para acompanhar, confesso que ainda não o entendi, mas quem disse que precisa-se entender o final de um filme para ele ser considerado bom ou não? Afinal, não é esse mistério, essa libertada dada à imaginação do espectador que faz filmes tornarem-se clássicos?

Enfim, "O menino e o mundo" é um ótimo filme, uma produção nacional digna de nota, que serve para ensinar à outras produções o que é um filme de animação bom, de verdade. Esse sim, merecia concorrer ao Oscar.

4 pontos e meio

domingo, 9 de novembro de 2014

Um texto com os meus pensamentos sobre o final de Naruto.

naruto pais


Quando eu soube que o Naruto ia acabar eu fiquei eufórico, alegre de verdade, foi, provavelmente, o dia mais feliz de Outubro para mim. Basicamente, eu fiquei assim:



No entanto, eu estava muito atrasado. Acho que eu não lia o mangá desde o ano passado, pelo menos, então eu tive que ler uns 300 capítulos em uma semana, ficando assim:



Durante a minha leitura, eu lembrei por que eu havia parado de ler o mangá de Naruto. Quando Naruto explodiu (isso quando eu tinha uns 11 anos) e todos os meus amigos liam e assistiam o Naruto, eu achava aquilo o máximo, é oque me fez entrar de cabeça no mundo otaku, mas conforme você vai crescendo, ganha maturidade, você começa a questionar algumas coisas, como por exemplo, por que o excesso de peitos grandes saltando no meio da sua tela? Por que os japoneses tem um senso de humor tão ruim? Por que as lutas duram tantos capítulos? Por que os romances nunca são desenvolvidos? Por que os personagens gritam tão histericamente? Por que porcarias assim fazem sucesso com pessoas de 20 e tantos anos? À partir daí, você se toca de que a maioria dos mangás são puro lixo, produzido apenas para suprir uma demanda gigantesca de mercado.



Por essas razões, eu parei de nadar tão profundamente no mundo otaku e hoje em dia, cada anime que assisto ou mangá que eu leio passa por uma rigorosa malha fina antes de eu me atrever a assisti-lo. Após isso, parei de ler Fairy Tail, parei de comprar mangás só para ver  como eram na banca e pesquiso muito antes de assistir os 3 primeiros episódios de algum anime para decidir acompanhá-lo. No entanto, com Naruto é diferente. Naruto foi uma bomba no mundo ocidental, era o Cavaleiros do Zodíaco dos anos 2000, o Dragon Ball Z da minha geração, a maioria dos otakus entre 17 e 23 anos hoje, entrou nesse mundo através de Naruto, então muita gente dá importância para essa história, importância merecida aliás.



Então, eu decidi voltar a ler o mangá, ficando assim em alguns momentos:



Em outros, eu ficava assim:



E finalmente, alcancei o capítulo 695.



Mas finalmente, consegui alcançar o capítulo 695 e comecei a acompanhá-lo em tempo real. Mas eu estive sempre com um pé atrás em relação ao final da série. Primeiro, por que as últimas lutas foram exageradamente épicas. Entenda, não há nada de errado com lutas épicas, elas são ótimas, mas desde o final do arco da akatsuki, o mangá passa por uma sucessão de lutas épicas tão grandes que enjoa. Simplesmente, nada do que acontece ali impressiona, apenas cansa. Sem contar que os motivos dos personagens começam a perder sentido, então eu fiquei assim quando a luta final do Sasuke e do Naruto começou:



E tão rápido quanto começou, ela acabou e eu não podia estar mais desinteressado no seu desfecho quanto eu estava ao terminar de ler o capítulo 699.



Só que aquele era um capítulo duplo, então eu comecei a ler o capítulo 700, que, sinceramente, pareceu a mim muito interessante, tornando-se satisfatoriamente bom.



E eu não preciso nem dizer como eu fiquei quando vi a Hinata ao lado de sua filha com o Naruto, né?



E então a possibilidade de mais histórias do universo Naruto, mas dessa vez com os filhos dos personagens principais.



Eu estava esperando que o Sasuke morresse sim, mas se você quer saber, esse final foi muito melhor do que teria sido se o Sasuke tivesse morrido.


No final, a série do Naruto não é nenhuma obra de arte genial, leitura obrigatória para qualquer fã de um bom mangá, mas teve um final extremamente satisfatório, se não perfeito, para uma série cheia de altos e baixos e que nos últimos anos estava tendo só baixos e fundos.


Agora que ela acabou, dá até para dar uma nota 3.


3 pontos


Estou até pensando em comprar o último volume pra ter aqui guardado, se o último capítulo tiver páginas coloridas.


Quanto às novas histórias, eu espero que sejam lançadas em volumes únicos ou one-shots mesmo, por que se não, nem compensa acompanhar. Mas eu vou ficar no aguardo e ansioso, se aparecerem os filhos dos personagens principais.


naruto filhos


terça-feira, 4 de novembro de 2014

Dica musical: "Vibes!" de Theophilus London (2014)

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"Vibes!" é o segundo álbum de Theophilus London, um rapper/fashionista/cantor pop trinidadiano, com base nos Estados Unidos, onde mora e produz suas músicas.


Coloquei ali diferentes "títulos" para o cantor, por que é um pouco difícil clasificar sua música, ao menos em "Vibes!", como rap. Visto que não tem tantas rimas, são canções mais curtas e menos focadas na mensagem e mais no estilo, seja lírico ou sonoro.


Em "Vibes!" somos logo apresentados a esse estilo do cantor com "Water Me", uma canção curta, muito centralizada em sua batida, um tanto futurística, meio oitentista, parecendo um sampler da trilha sonora de algum filme como "Time Masters" ou "Planeta Fantástico", o que é legal, aliado a uma letra que não deixa transpor, com clareza, a sua mensagem, tornando-se, de certa forma, enigmática, sendo uma abertura brilhante para um CD tão bom.


Inclusive, a palavra "enigmático" pode ser a palavra que melhor descreve esse CD, ao lado de "sofisticado", pois é assim que ele é. Cheio de nuances, batidas certeiras, com mudanças pequenas em momentos claramente reservados para elas. Nada se sobrepõe, nada gera confusão, não existe caos aqui, apenas ordem e clareza, mas sem leveza, pois é um CD enigmático, seja em suas batidas, seja nas letras curtas.


3 pontos e meio

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Dica cinematográfica: "A dama de Xangai" (1947)

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"A dama de Xangai" é um filme policial, filmado no estilo noir de 1947.

Conta a história de Michael O'Hara, um marinheiro com passado obscuro que se encanta pela bela e jovem Elsa Bannister, mulher de um famoso advogado criminal, o sr. Arthur Bannister. Após o primeiro encontro com a mulher, Michael recebe a visita de seu marido, que o oferece um emprego em seu iate, que sairia de Nova Iorque e iria até São Francisco, passando pela baía do Panamá. Induzido pelos colegas, que também conseguiram um emprego no luxuoso barco, Michael aceita o trabalho, sentindo-se cada vez mais atraído pela mulher. Durante a viagem, conhece George Grisby, sócio de Arthur, que oferece a Michael 5 mil dólares, caso este o mate. Michael decide aceitar o plano e, com o dinheiro, tenciona fugir com Elsa, mas Grisby morre antes da hora e o marinheiro é acusado de homicídio, correndo o risco de ser sentenciado a morte.

Este é um ótimo filme policial, incluído entre os filmes noir pela sua narrativa, com voz em off de Michael O'Hara narrando o filme todo, a femme fatale e a trama surpreendente e envolvente. O filme começa um pouco mais lento, apresentando muito bem cada um de seus personagens, mas sempre com um ar de mistério para não dar na cara quais são as reais intenções dos personagens, mas logo após o assassinato de Grisby, o ritmo acelera e a narrativa deixa de ter ares aventurescos, com uma mudança constante de ambientação, para ter um ar mais soturno, investigativo, mas sem tornar-se pesado demais. Do meio para o final, todas as máscaras caem, o filme torna-se cada vez mais psicológico e os mistérios se solucionam.

Os diálogos também são um espetáculo à parte, com destaque para a parte em que Michael é convidado para sentar-se com o sr. e a sra. Bannister e se surpreende ao constatar que a ideia de diversão deles é ficar sentado ao redor de uma fogueira, enquanto todos se ofendem. Após isso, ele começa um maravilhoso diálogo em que descreve uma de suas viagens ao Brasil, onde em Fortaleza viu-se cercado de tubarões, enquanto pescava, um deles se machucou no anzol e o sangue se espalhou, atiçando os outros tubarões. Acabou que todos os tubarões acabaram se comendo, num frenesi mortal e selvagem, prevendo o que já aconteceria no final do filme.

É uma metáfora, que também serve como crítica social, ainda nos dias de hoje.

"A dama de Xangai" é um filme que me surpreendeu, principalmente por não ser um filme tedioso, mas sim um filme divertido, legal, gostoso de assistir.

4 pontos