quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Dica cinematográfica: “A paixão de Joana D’Arc” (1928)

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Eu sou um hater de filmes mudo. Não os suporto. Não consigo prestar atenção neles, mas esse filme chamou muito a minha atenção e não resisti, tive que ver e o resultado me surpreendeu.

Dirigido por Carl Theodor Dreyer, com roteiro baseado nos documentos históricos do julgamento de Joana D’Arc, heroína francesa, capturada por franceses aliados aos ingleses durante a Guerra dos Cem Anos e vítima de uma conspiração que culminou com sua morte, retrata os últimos momentos da vida dela, já na prisão, enfrentando o julgamento de corruptos membros da Igreja e do estado francês.

A comparação com Jesus Cristo é justa (as figuras históricas se aproximam, sendo representativas de um mito fundacional e reforçam a tradição cristã de ficar ao lado da vítima) e a interpretação de Maria Falconetti é soberba, transmitindo tantas emoções que fica difícil desgrudar os olhos da tela.

Parte disso se deve a Dreyer que impediu que seus atores usassem maquiagens e, ao utilizar um jogo de câmeras inovador para a época, conseguiu dar mais dramaticidade a cada cena. Essa carga dramática funciona tanto para perturbar (nas cenas de torturas) quanto para relaxar (nas cenas de revelações), sendo super efetivo em suas intenções.

O original do filme se tornou perdido ao longo dos anos, foi banido na Inglaterra e só foi reencontrado (ironicamente, por que Deus existe e ele é um piadista) num sanatório para doentes mentais em Oslo. Essa versão encontra-se na edição da Criterion Collection pela qual assisti essa obra, com acompanhamento musical de Richard Einhorn, que dá o tom perfeito para a transcendentalidade e bravura da obra.

Uma obra-prima do cinema mudo, um clássico e obrigatória para todos os cinéfilos.

5 pontos

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Dica tecnológica: carregador portátil Asus

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Quando comprei meu último celular Asus ganhei esse carregador portátil e por muito tempo não o utilizei, porque a bateria do meu celular aguentava muitas horas de atividade intensa sem precisar de uma recarga. No entanto o tempo passa e as baterias de celular têm sua validade. Não é diferente com os celulares Asus e só agora comecei a utilizar o carregador portátil que ganhei, estando apto para elaborar uma merecida dica.

O carregador portátil Asus acompanha os outros produtos da marca e também tem um nome próprio, “Zenpower”. Sua bateria de 400mAh com células de lítio promete até 4 recargas totais de seu celular, ou seja, você pode fazer o celular chegar a 0% de bateria até 4 vezes antes de ter que recarregar o seu Zenpower. Não parece muito, mas você tem que lembrar que a bateria do Zenfone raramente chega a zero, mesmo após um dia de uso intenso.

Eu diria que é seguro afirmar que com o Zenpower você pode usar o seu celular por uma semana inteira sem ter que usar o carregador normal.

Além disso temos um design elegante e minimalista, com luzes de LED azuis indicando quantas “baterias” restam no Zenpower, um tamanho diminuto, duas entradas USB, uma mini e outra normal para que você possa recarregar seu celular e o Zenpower, mas não vem como o adaptador de tomada e aí vem o ponto negativo.

Na tomada o Zenpower recarrega totalmente em algumas horas, mas no USB do computador por exemplo, você pode deixar uma noite inteira que ele não irá recarregar totalmente. Provavelmente isso acontece com todos os carregadores portáteis, mas é algo que me chamou a atenção quando usei o Zenpower pela primeira vez, isso logo depois que o adquiri.

Assim como outros carregadores portáteis, o Zenpower também esquenta quando carrega, mas não chega a ser um absurdo. Uma vantagem é que seus materiais esfriam rapidamente após o uso.

De qualquer forma, o Zenpower é uma ótima pedida para aqueles que gostam de usar carregadores portáteis (não sei se alguém realmente gosta, mas conheço muita gente que realmente precisa). Atualmente, o modelo que eu tenho, não está mais sendo comercializado no Brasil, mas ele foi substituído por um ainda melhor, o modelo Slim.

É a mesma coisa, mas o modelo Slim é bem mais fino, portanto mais prático, além de ter uma lanterna para emergências, diferente do meu. Tudo isso por menos de 200 reais. Vale a pena.

4 pontos

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Dica cinematográfica: “Santo Agostinho” (1972)

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Feito pelo genial Roberto Rosselini para a TV italiana, essa cinebiografia do santo e filósofo Agotinho de Hipona é uma obrigatória para todos aqueles que admiram ou querem se aprofundar no pensamento agostiniano.

Em “Santo Agostino” somos atirados em Hipona na época em que Agostinho foi nomeado bispo de lá. Acompanhamos sua nomeação e seus primeiros entraves, conflitos com as autoridades romanas, desavenças com outros católicos e membros de outras religiões, enquanto o bispo começa a escrita de uma de suas obras-primas, “A cidade de Deus”.

Ainda não sei qual a posição de Rosselini quanto a religião, mas consigo perceber nele um grande respeito pela tradição católica, não apenas por ter se dado o trabalho de fazer tantas cinebiografias de santos da Igreja, mas também pelo tratamento, digno de um historiador dado aos objetos de suas obras. No caso, temos Santo Agostino, interpretado magistralmente por Dary Berkani, que ao que tudo indica nem era ator, mas soube dar a vivacidade e o ar contemplativo que o papel exigia na medida certa.

A narrativa nos guia pelas ruas de Roma, já decadentes, apresentando essa decadência de diversas formas, mas sem um julgamento moral, ficando a cargo do espectador compreender o que vê como o fim de Roma ou não. Em meio a romanos, estrangeiros, pagãos, invasores e cristãos não muito fiéis, Agostinho nos é apresentado como um pilar de paciência, sabedoria e perseverança, sempre ouvindo a todos, esperando para tirar suas conclusões e apresentando-as de maneira coerente e calma.

O olhar de Rosselini é o olhar de um italiano que admira o seu passado, mas nunca se esquece do presente. Seu jogo de câmeras, as próprias cores utilizadas ao longo do filme e a escolha dos “atores” são mostras de uma genialidade moderna que viria a influenciar uma ampla geração de cineastas, da Nouvelle Vague aos cineastas soviéticos.

É incrível como mesmo sendo um filme para TV, o que é visto com certo preconceito, considerado uma obra de arte menor, com menos recursos, “Santo Agostinho” consegue ser um filme que fica pau a pau com outras cinebiografias, o que apresenta uma questão interessante. A cinecittà da época não era a cinecittà de hoje, era muito mais próspera, farta e até mesmo criativa. Não que hoje seja ruim, mas aquela foi sua época de ouro e até mesmo os filmes para TV eram dignos de obras épicas cinematográficas.

Enfim, um ótimo filme.

5 pontos

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Dossiê “House of Leaves”

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Reli essa obra magnífica, que já foi dica há dois anos atrás, numa semana apenas, porque a obra é simplesmente sensacional e dessa vez pude ler sem tantas confusões mentais. Após mais uma leitura e mais descobertas, merece um dossiê.

A capa: a capa desse livro já é um indicativo do que você irá encontrar. Além da arte que nos apresenta um labirinto em linhas pretas num fundo preto, uma lateral com várias fotos polaroid de casas grandes do interior dos Estados Unidos e a contra capa com apenas uma foto que logo descobrimos ter sido tirado do “Navidson Record”, ela tem uma peculiaridade que sempre me chamou muito a atenção. A capa é menor do que o livro. O formato dela até segue o padrão de livros maiores, mas a diferença é que o miolo do livro é muito maior do que o padrão e a sacada genial já começa aí, afinal o livro conta a história de uma casa cujas medidas internas são maiores que as medidas externas.

O enredo: o livro conta uma história dentro de uma história dentro de outra história. Johnny Truant e seu amigo, Lude entram na casa do falecido Zampanó, vizinho de Lude, e descobrem se tratar de um imóvel peculiar. Johnny leva para casa um monte de papéis que supostamente Zampanó havia escrito e começa a montar o quebra-cabeça: Zampanó escreveu uma análise sobre um documentário, “Navidson Record”.

The Navidson Record: o ponto alto da obra e o que mais chama a atenção. É aqui que tudo de fato acontece. Navidson é um renomado fotógrafo que se muda para uma casa no interior a fim de reatar laços com sua família. Após a descoberta de que as dimensões internas de sua casa são maiores que as externas, inicia-se nele uma paranoica busca pelo oculto naquela casa, que o leva a perder muitas coisas, seu irmão, sua mulher, filhos e partes de seu corpo, enfim... a casa acaba com a vida de Navidson, mas é nesse tenebroso final que o livro revela o seu ponto forte: ser uma história de amor, dentro do horror.

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Mark Z. Danielewski: o criador dessa obra fenomenal lançou o livro na internet, fragmentado, antes de lançar o livro. “House of Leaves” é considerado uma obra seminal dentro dos “romances de hypertexto”, um termo usado para esses livros que usam uma linguagem próxima a da internet para contar as suas histórias. No caso, as conexões que Danielewski faz são um exemplo de hiperlinguagem, mas não apenas isso, a própria estrutura da página, fragmentada, modelando a organização de palavras e letras para que possa representar o que está acontecendo são exemplos únicos dentro do “gênero”. Desconheço outro autor que faça isso. Danielewski, em sua obra mais recente, “The Familiar”, expandiu isso, criando livro que, dizem, tem mais de 600 páginas, mas poderiam ter 300 não fossem essas invenções estilísticas.

Romance de Hypertexto: não sei nem se o termo existe em português, mas estou traduzindo aqui. É um termo que não chega a descrever um gênero, mas serve como um guarda-chuva para abarcar esses livros que apresentam uma narrativa não linear e dão uma escolha ao leitor para seguir o caminho que quiser na leitura. Pense nos contos narrados por diversos autores através de meios distintos como cartas ou relatos nos contos de Borges ou ainda a análise de um único poema que constitui toda a história de “Fogo Pálido”. O leitor não é obrigado a seguir de forma linear o texto, mas a pular páginas, seguir para as notas, se concentrar nas “margens” do texto para poder montar uma coerência narrativa. Os exemplos que dei são antigos e considerados como precursores do “gênero”, que ganhou forma e força a partir do advento da internet, o que possibilitou a autores extrapolares o espaço convencional do texto, além de ferramentas que facilitam esses experimentalismos.

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Borges: uma influência clara de Danielewski na hora de fazer a obra foram os labirintos metafóricos, linguísticos e literais de Jorge Luís Borges. O autor não é citado diretamente, mas toda a construção que leva ao labirinto dentro da casa lembra os contos do autor argentino. A presença do Minotauro, que aí é muito mais metafórico do que literal, só reforça essa ideia.

Derrida: o filósofo francês responsável por cunhar o desconstrutivismo faz uma breve aparição no livro, quando a mulher de Navidson resolve fazer um apanhado de entrevistas com pessoas que viram o documentário. O desconstrutivismo, explicado de maneira bem rasa, é simplesmente a ideia de abandonar pré-conceitos acerca de uma ideia, indo a sua raiz para que se possa criar uma opinião robusta sobre o que se está discutindo ou pesquisando, nem que para isso você tenha que buscar apoio no completo oposto daquela ideia. Muito mal utilizado por muita gente ao longo do século 20, é bem utilizado aqui, nos saltos que os personagens do livro dão. Eles vivenciam diferentes experiências na busca por uma clarificação do que estão vivendo e, ao final, é a desconstrução da linguagem que acaba nos dando a “moral” final da obra.

Essas são apenas mais algumas anotações, complementares à minha dica sobre esse livro, alguns pontos que servem como guia de leitura para quem for se aventurar nessa obra magnífica.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Dica cinematográfica: "Violent" (2014)

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Este é um filme que estava aguardando muito para assistir. É um indie de verdade. Ouvi falar dele num post cheio de cenas do filme, belíssimas por sinal, e me interessei muito, no entanto, o filme, que foi lançado em 2014, nunca viu sucesso e acabou sendo lançado em DVD e em plataformas online para download apenas esse ano, 2018.

“Violent” conta a história de Dagny, uma norueguesa, que sai da casa dos pais e vai viver numa cidade maior, morando em cima da loja de materiais onde trabalhava, afim de poder ficar mais próxima da melhor amiga. O problema é que a melhor amiga está de mudança, para Oslo, deixando Dagny sozinha na cidade “grande” onde passa a viver. Lidando com diferentes personagens e descobrindo soluções para uma tragédia do passado recente, Dagny passa por um período de intenso crescimento pessoal.

Neste filme não temos grandes diálogos, nem grandes interpretações. É um típico coming-of-age centrado numa norueguesa, mas sua atmosfera acaba chamando a atenção. Em nenhum momento nos é jogado, nem mesmo de forma obscura como em “Perks of Being a Wallflower” a tragédia do passado de Dagny. A estrutura do filme é dividida em episódios e cada um deles recebe o nome de um personagem que Dagny encontra, nos exibindo Dagny mais pelo ponto de vista deles ou a forma como eles se relacionam com ela, do que pelo ponto de vista de Dagny, propriamente dito.

É desta forma que Andrew Huculiak, o diretor e roteirista do filme, cria uma atmosfera instigante. A todo momento você fica com a sensação de que há algo mais ali que não está sendo dito ou não está ficando claro para quem assiste. E, de fato, numa rápida troca de mensagens com ele pelo twitter, descobri que esse filme foi criado em uma série de acontecimentos que ocorreram na vida das pessoas que participaram da sua produção, além de representar um desafio que era escrever um filme inteiro numa língua estrangeira (Andrew não é norueguês).

Um desafio autoimposto, um conjunto de experiências pessoais, um projeto quase caseiro e você tem um dos filmes mais sensíveis e belos lançados em tempos recentes. “Violent” não choca, nem cansa, mas é um filme que surpreende, prende a atenção e alça níveis estéticos que força uma mescla de gêneros, muito bem feita aliás. Tudo isso, feito através de um excelente trabalho de arte.

Dessa forma, “Violent” acaba se tornando um desses filmes que pede por uma segunda chance, não que ele precise de uma segunda chance, mas fica lá, no fundo da sua cabeça, tocando uma suave canção que não te deixa esquecer dele. Um filme para ser revisto.

4 pontos e meio

 

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Dica literária: “Os Noivos” de Alessandro Manzoni (1827)

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Em anos recentes pude perceber em primeira mão que literatura é, realmente, uma porta para mundos desconhecidos ao me surpreender com o conhecimento de história, geografia, política e outras tantas áreas do conhecimento humano que pude obter graças aos livros. Em discussões com colegas um pouco mais exigentes, sempre acabo me lembrando de algum livro que li, que sirva de exemplo para ilustrar um argumento ou mesmo que apresente um argumento a ser defendido. E este livro é um ótimo exemplo da influência que livros podem exercer no seu conhecimento de mundo.

“Os Noivos” conta a história de (dã!) dois noivos, Renzo e Lucia, que estão prontos para se casar, mas o padre que ia celebrar a cerimônia do sacramento é ameaçado por um homem muito influente na região da vila onde esses personagens moram. Dom Rodrigo almeja conquistar a pobre Lucia e decide mandar dois de seus empregados, mercenários e homens de má índole, ameaçarem a vida do padre. Dessa forma se inicia a epopeia desses dois jovens noivos, que envolve viagens, outros personagens, tanto mais santos quanto mais assustadores, revoluções e até mesmo a Peste Negra.

A história do livro se situa entre 1628 e 1632, na Lombardia, região ao norte de Itália e é contada para nós como se o autor, Manzoni, tivesse encontrado um velho relato da região e decidisse nos revelar o conteúdo desse manuscrito. Dessa forma (muito moderna, aliás, diga-se de passagem, pois esse será uma forma narrativa muito utilizada pelos modernistas), Manzoni abre a possibilidade de inserir diversos comentários na obra, seja sobre a história dos dois noivos, apresentando personagens, fazendo comentários sobre o que deveria se passar em suas mentes e aprovando ou desaprovando suas ações, seja contextualizando a obra para facilitar a nossa compreensão, apresentando fatos históricos ou tecendo comentários acerca da geografia da região.

É nesse momento que o livro abre diversas portas do conhecimento para o leitor, pois Manzoni realizou uma extensa pesquisa de campo para poder criar um ambiente que fosse o mais próximo possível das condições reais de vida na região e época retratadas no livro. Em muitos momentos, o autor nos apresenta até as fontes para que possamos consultar os dados.

Infelizmente, esse é um louro, mas é também o maior defeito da obra, pois o livro se encaixa na tradição realista de literatura e a escrita de Manzoni é burocrática, o que cansa demais o leitor. Claro que há aqueles que gostam desse estilo de literatura, se não, não existiria tantos fãs de Machado de Assis por aí (que, inclusive, era leitor assíduo de Manzoni), mas eu me canso e enjoo facilmente desse estilo de escrita, com poucos diálogos, descrições secas e nenhum espaço para simbolismo.

Apesar de lenta, a leitura é agradável, pois Manzoni criou personagens extremamente carismáticas, a pobre Lucia é um anjo e seria digna de um Technicolor, como bem comentou Pasolini. A epopeia instiga e te faz ler mais, nem que seja apenas um pouco por dia.

A edição que tenho é a editora Nova Alexandria, belíssima, capa dura e com ilustrações no início de todos os capítulos. Essa edição, além de traduzir o texto completo, ainda contém a enfadonha “História da Coluna Infame”, uma adição necessária, já que é um complemente direto para “Os Noivos”, porém é uma das coisas mais chatas que já li, um relato sobre injustiças cometidas quando a Peste Negra ainda assolava a Europa, cheio de termos jurídicos e extensas notas de rodapé a outros autores que comentaram os mesmos fatos.

Enfim, ao final, é uma história muito boa, engraçada em diversos momentos, instigante (como já disse) e que sobrevive ao tempo e às tendências literárias da época em que foi escrita.

4 pontos

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

A arte de fazer um panfleto apresentado por Sonny Liew

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Hoje não é propriamente uma dica, pois não recomendo esse quadrinho a ninguém, mas é algo que merece ser comentado e é o mais novo (talvez, já que os caras lançam quadrinho a cada respirada) quadrinho do Pipoca e Nanquim, “A arte de Charlie Chan Hock Chie”.

Este livro é como se fosse um documentário e sua história já começa na capa interna, nos apresentando dois personagens históricos que serão o centro de todo o quadrinho Lee Kuan Yew e Lim Chin Siong, membros de uma resistência popular que assolou a Singapura, quando ainda pertencia a coroa britânica e que influenciaram enormemente Charlie Chan Hick Chie, o personagem que dá nome ao quadrinho. Hock Chie é um desconhecido, mas extremamente talentoso quadrinista de Singapura e Sonny Liew nos apresenta a sua história profissional e pessoal nesse quadrinho. História que se confunde com a história recente de Singapura.

O país insular, um dos tigres asiáticos, como aprendemos nas aulas de geografia na escola passou por grandes conflitos após a II Guerra Mundial, primeiro por ser uma colônia britânica e os ingleses terem perdido muito de seu poderio militar nessa época e com isso diminuem consideravelmente sua influência na ilha. Segue-se a isso uma forte influência ideológica de esquerda na ilha, pensamento que assolou toda a Ásia na época e a partir daí surgem Lee Kuan Yew e Lim Chin Siong, líderes populares. A história se estende, mas um resumo é que os dois líderes se desentendem, o partido de Lee Kuan Yew ganha as primeiras eleições e, apesar de suas motivações ideológicas, a Singapura cresce, se tornando o tigre asiático que é.

Como bem apresentado por Sonny Liew isso tem um custo, pois Lee Kuan Yew censura a imprensa, cria programas governamentais ridículos e até revoltantes, como o de controle populacional, exercendo uma verdadeira lavagem cerebral, ele próprio se torna uma espécie de ditador populista, fortalecendo um capitalismo de estado que cria uma rede burocrática tão extensa que é praticamente impossível de se imaginar fora dela e, nesse cenário, Sonny Liew, de maneira totalmente ingênua, resolve criar um livro político.

Apesar da forma como o livro se vende, esse é um livro sobre política e o pior, política de esquerda. O que já é chato, fica ainda pior.

Sonny Liew nos apresenta uma história que foi de sucesso, mas a um custo alto, sem nunca condená-la explicitamente, afinal, é um sucesso, mas faz pior ao apresentar Lim Chin Siong, o líder de “esquerda radical”, como ele mesmo diz no livro, como se fosse uma alternativa melhor e que iria fazer tudo do mesmo jeito. E provavelmente fosse fazer mesmo, como Sonny Liew deixa até implícito no final da obra, afinal, os dois são farinha do mesmo saco. A verdade é que Singapura estava entre a panela e a frigideira nessa época.

Sonny Liew entende pouco ou nada de economia ao condenar o governo por se render aos “capitalistas”, embora ele não saiba que privilégios estatais não sejam uma forma muito capitalista de negócio. Sonny Liew deixa de fora a “direita” e os “conservadores”, como se nunca tivessem atuado em Singapura, mencionando-os apenas numa breve nota e que deixa claro que sua atuação foi mais benéfica do que os dois grandes líderes de alguma forma ou outra exaltados nessa obra. Sonny Liew ainda apresenta “diferentes olhares sobre os fatos”, o que de forma alguma é algo ruim, per se, embora isso tenha que ser feito de maneira cuidadosa e eu não fui conferir as fontes para verificar isso. Enfim, Sonny Liew nos apresenta uma obra panfletária que seria nojenta, se não fosse genial.

Kuehnelt-Leddin alerta que a esquerda foi dominando aos poucos as artes, começando por um financiamento das belas artes após a revolução francesa, depois escolas e por fim centros de divulgação cultural e assim eles criam as melhores peças de teatro, os melhores filmes, as melhores músicas e afins. São peças de arte que, apesar de vazias de significado ou com um significado revoltante, são belíssimas e nós temos que dar o braço a torcer e apenas abaixar a cabeça para a sua superioridade artística, enquanto ficamos contando dinheiro, abrindo nossos próprios negócios e tocando a vida. É triste, porque é real e esse livro é uma prova disso.

A escolha narrativa de apresentar uma história dentro de outra, aliado ao talento artístico de Sonny Liew, que domina todos os ramos possíveis das belas artes, de rascunho a pintura com tinta à óleo, faz desse livro uma leitura extremamente prazerosa, se você se liga no lado artístico de um quadrinho. Tá certo que todo quadrinho é uma obra de arte por si, mas nem todos admiram uma arte bem feita e essa arte não é bem feita, é perfeitamente feita.

É o ponto alto e o que salva o investimento, pois essa história não teria graça nenhuma, mas ao vermos ela pelos olhos de um artista que a acompanha de perto e muda o seu estilo conforme as tendências mundiais de quadrinho mudam é um colírio para os olhos. Sem contar as inúmeros referências que satisfazem qualquer nerd.

Sem contar o cuidado fenomenal que o Pipoca e Nanquim dá aos seus livros. Este é mais um capa dura, com sobre capa e detalhes em baixo relevo na capa, feito com um cuidado editorial exemplar e que só mostra o amor que os caras têm pelo material que trazem para o Brasil. Confesso que este é o primeiro livro que compro da editora, porque eles o venderam muito bem no canal deles do Youtube e tenho vontade de adquirir outros, acho que o próximo será o Beasts of Burden, que tô com vontade de ler há tempos.

Enfim, não recomendo esse livro se você é um cérebro pensante, mas se quer ver uma obra de arte admirável, compre-o.

3 pontos

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Dica higiênica: pasta de dente Colgate Luminous White

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Nenhum blog de dicas higiênicas pode passar sua existência sem recomendar em algum ponto esse produto, pois ele é verdadeiramente fenomenal.

A Colgate é outra marca já muito bem estabelecida nesse país e há alguns anos lançou no mercado seu produto que promete clarear os dentes, a Colgate Luminous White, a pasta de dente com micro cristais aceleradores de branqueamento.

Se acelera mesmo o branqueamento eu não sei, mas eu só sei que é um produto extremamente agradável de se usar. É claro que a limpeza bucal depende mais do jeito como você escova os dentes do que os produtos que você usa, mas usar algo que torne essa atividade enfadonha do dia a dia algo mais agradável é sempre uma boa pedida e essa pasta cumpre esse objetivo.

Sua fórmula garante um maior frescor na boca, que dura por várias horas, conferindo uma sensação estável de limpeza que dá muito mais segurança na hora de sorrir e sair bonita1 naquela foto com os amigos ou junto com a família ou sozinho pra postar um stories no instagram.

A Colgate é outra dessas marcas que não esconde qualidade com papo furado e se vende por um preço mais alto que as outras marcas no mercado, mas vale cada centavo gasto, sem contar que eu sempre encontro essa pasta em promoções nos mercados da cidade, com embalagens de compre 3, pague 2 e afins.

Dessa forma, se você quiser um produto, que se promete eficaz e é, de fato, agradável a boca, escolha, sem duvidar, a Colgate Luminous White.

5 pontos