Dica cinematográfica: “A paixão de Joana D’Arc” (1928)
Eu sou um hater de filmes mudo. Não os suporto. Não consigo prestar atenção neles, mas esse filme chamou muito a minha atenção e não resisti, tive que ver e o resultado me surpreendeu.
Dirigido por Carl Theodor Dreyer, com roteiro baseado nos documentos históricos do julgamento de Joana D’Arc, heroína francesa, capturada por franceses aliados aos ingleses durante a Guerra dos Cem Anos e vítima de uma conspiração que culminou com sua morte, retrata os últimos momentos da vida dela, já na prisão, enfrentando o julgamento de corruptos membros da Igreja e do estado francês.
A comparação com Jesus Cristo é justa (as figuras históricas se aproximam, sendo representativas de um mito fundacional e reforçam a tradição cristã de ficar ao lado da vítima) e a interpretação de Maria Falconetti é soberba, transmitindo tantas emoções que fica difícil desgrudar os olhos da tela.
Parte disso se deve a Dreyer que impediu que seus atores usassem maquiagens e, ao utilizar um jogo de câmeras inovador para a época, conseguiu dar mais dramaticidade a cada cena. Essa carga dramática funciona tanto para perturbar (nas cenas de torturas) quanto para relaxar (nas cenas de revelações), sendo super efetivo em suas intenções.
O original do filme se tornou perdido ao longo dos anos, foi banido na Inglaterra e só foi reencontrado (ironicamente, por que Deus existe e ele é um piadista) num sanatório para doentes mentais em Oslo. Essa versão encontra-se na edição da Criterion Collection pela qual assisti essa obra, com acompanhamento musical de Richard Einhorn, que dá o tom perfeito para a transcendentalidade e bravura da obra.
Uma obra-prima do cinema mudo, um clássico e obrigatória para todos os cinéfilos.