quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Dica cinematográfica: “Santo Agostinho” (1972)

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Feito pelo genial Roberto Rosselini para a TV italiana, essa cinebiografia do santo e filósofo Agotinho de Hipona é uma obrigatória para todos aqueles que admiram ou querem se aprofundar no pensamento agostiniano.

Em “Santo Agostino” somos atirados em Hipona na época em que Agostinho foi nomeado bispo de lá. Acompanhamos sua nomeação e seus primeiros entraves, conflitos com as autoridades romanas, desavenças com outros católicos e membros de outras religiões, enquanto o bispo começa a escrita de uma de suas obras-primas, “A cidade de Deus”.

Ainda não sei qual a posição de Rosselini quanto a religião, mas consigo perceber nele um grande respeito pela tradição católica, não apenas por ter se dado o trabalho de fazer tantas cinebiografias de santos da Igreja, mas também pelo tratamento, digno de um historiador dado aos objetos de suas obras. No caso, temos Santo Agostino, interpretado magistralmente por Dary Berkani, que ao que tudo indica nem era ator, mas soube dar a vivacidade e o ar contemplativo que o papel exigia na medida certa.

A narrativa nos guia pelas ruas de Roma, já decadentes, apresentando essa decadência de diversas formas, mas sem um julgamento moral, ficando a cargo do espectador compreender o que vê como o fim de Roma ou não. Em meio a romanos, estrangeiros, pagãos, invasores e cristãos não muito fiéis, Agostinho nos é apresentado como um pilar de paciência, sabedoria e perseverança, sempre ouvindo a todos, esperando para tirar suas conclusões e apresentando-as de maneira coerente e calma.

O olhar de Rosselini é o olhar de um italiano que admira o seu passado, mas nunca se esquece do presente. Seu jogo de câmeras, as próprias cores utilizadas ao longo do filme e a escolha dos “atores” são mostras de uma genialidade moderna que viria a influenciar uma ampla geração de cineastas, da Nouvelle Vague aos cineastas soviéticos.

É incrível como mesmo sendo um filme para TV, o que é visto com certo preconceito, considerado uma obra de arte menor, com menos recursos, “Santo Agostinho” consegue ser um filme que fica pau a pau com outras cinebiografias, o que apresenta uma questão interessante. A cinecittà da época não era a cinecittà de hoje, era muito mais próspera, farta e até mesmo criativa. Não que hoje seja ruim, mas aquela foi sua época de ouro e até mesmo os filmes para TV eram dignos de obras épicas cinematográficas.

Enfim, um ótimo filme.

5 pontos