terça-feira, 23 de outubro de 2018

Dica cinematográfica: “Unforgiven” (1992)

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Mais um filme fantástico que pude aproveitar esses dias. Após muita procura, encontrei diversas listas de filmes na internet que me fizeram entrar em contato com muitas obras cinematográficas que eu ainda não conhecia, mas que já sabia que ia valer a pena. Algumas foram decepcionantes, mas, por enquanto, a maioria têm sido uma ótima surpresa.

Este filme dirigido e estrelado pelo mestre Clint Eastwood, uma instituição cultural vivente, conta a história de um fora-da-lei aposentado e falido, mas que é chamado para um último serviço por um garoto muitos anos mais novo que ele, mas com um ego maior que o mundo. A missão é matar dois cretinos que se cortaram uma prostituta numa cidade pequena e não receberam o devido castigo pelo xerife canalha da cidade. Em meio a tanta podridão, o resultado não poderia ser diferente de muito derramamento de sangue.

Feito em 1992, é claro que o filme tinha que ser uma desconstrução de todo o gênero western e quem melhor para desconstruir o gênero que um dos pilares do gênero? Clint Eastwood interpreta a si mesmo, mas faz uma releitura imaginando o futuro de seus heróis do Velho Oeste num período em que as mitologias já não eram mais tão fáceis de serem criadas. Aqui conhecemos a lenda já depois de ter sido lenda. O personagem de Clint Eastwood, Bill Munny, é uma lenda do Velho Oeste, conhecido por ter matado gente demais, mas se encontra numa situação deplorável, sem mulher, cuidando de porcos, enquanto tenta conseguir dinheiro pra sustentar os seus dois filhos, sem nem conseguir montar num cavalo direito.

Quando ele recebe a proposta de trabalho, a resposta é óbvia, embora tenha o seu devido grau de dramaticidade pra segurar o espectador. Todo o resto do filme acompanha essa desconstrução do gênero, que o próprio Clint Eastwood ajudou a catapultar com seus clássicos ao lado de Sergio Leone e que já havia se desgastado nos anos 90.

As mortes são sangrentas, sem charme e tão rápidas que quase não dá pra sentir, mas é pelo fato de não sentirmos que acabamos sentindo-as. Ao vermos o corpo de um dos personagens principais expostos na frente de um salão, ficamos assustados, pois sequer vimos ele ter sido morto, mas sua exposição crua perturba.

Os personagens dúbios pecam, mas ao mesmo tempo sabem disso e aceitam seu destino cruel, embora com relutância, pois estão sempre lutando para sobreviver, afinal são seres vivos. Essa frieza ao tratar de temas que foram tão romantizados é pesada e feita de um jeito, nesse filme, que espanta de verdade.

No entanto, Bill Munny é imbatível. Apesar de decadente, tanto quanto o cenário que o cerca, ele permanece impassível, como uma ilha num mar de podridão e o que antes era uma desconstrução, só serve para reforçar o gênero e a lenda de Bill Munny.

Vale muito a pena!

Fora isso, temos uma produção impecável. Não é à toa que é um dos melhores filmes do Clint Eastwood e eu ouso dizer que o melhor que ele já dirigiu. A cidade foi criada especialmente para o filme e com um nível de realidade que forçou a recriação dos mínimos detalhes. Os efeitos especiais são todos práticos, reforçando o realismo e a crueza pela qual os acontecimentos são exibidos. Do ponto de vista técnico, é um filme imperdoável, pois não há nada a ser perdoado.

No final, é um filme imperdível.

5 pontos