terça-feira, 9 de outubro de 2018

Dica literária: “Absalom, Absalom!” (1936)

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Mais uma obra de Faulkner e mais um livro difícil. Capenguei pra ler esse aqui.

“Absalom, Absalom!” é um livro escrito por William Faulkner (um dos favoritos aqui do blog) em 1936 e conta a história de Thomas Sutpen, uma das figuras lendárias da cidade fictícia de Jefferson, no condado de Yoknapathawpha, Mississipi. Conhecemos Sutpen do momento em que ele chega em Jefferson, sem nenhuma possa significativa, compra 100 milhas quadradas de terra, povoa ela com escravos negros obtidos de algum país africano, constrói uma enorme casa e casa com a filha de um mercador da cidade, dando o pontapé no seu plano de iniciar uma dinastia. O problema é que Sutpen é uma pessoa com um passado e ele já teve um filho com uma estrangeira, parte negra, que vira amigo de seu filho “legítimo”, Henry Sutpen, voltando para assombrá-lo, motivado por vingança.

O problema é que essa história inteira é contado do ponto de vista de pessoas externas à história de Sutpen quase meio século após a morte dele. Essa sinopse que eu dei é trapaça, não é assim que ela é apresentada ao leitor, mas foi a única forma que eu encontrei de conta-la, motivada por uma resenha do livro que eu tive que assistir pra me ajudar a ler. Além da resenha, acabei indo até o SparkNotes ao fim de cada capítulo, porque o livro é realmente complicado de acompanhar.

Mas assim como “O Som e a Fúria”, você tem que se deixar levar pela história, tem que se deixar afundar no universo que Faulkner criou para a sua história, você irá pegar apenas fragmentos, mas esses fragmentos são capazes de formar um todo mais ou menos coerente e nem sempre será necessária uma ajuda externa.

Além da narrativa fragmentada, temos ainda um texto expansivo, cheio de adjetivos em cima de adjetivos, com longas descrições e ponderações sobre a história de Sutpen (porque estamos lendo relatos, então há comentários sobre a história dentro da história). Imenso não é um adjetivo que serve pra descrever o que acontece aqui. Uma das passagens no livro é conhecida como a maior sentença em obra literária da língua inglesa, com mais de 1000 palavras!

Vou confessar, esse formato do texto me cansa e pela primeira vez em muito tempo tive que voltar a minha antiga técnica de leitura que é me forçar a ler 5 folhas (ou 10 páginas) por dia, porque ao final de cada folha eu já estava com a vista cansada de tantas palavras numa formatação justificada, com itálicos que entravam no meio do relato e você tem que pensar quem é que está pensando ou o que de fato está acontecendo pro estilo mudar de uma hora pra outra.

Como disse o mesmo resenhista que eu já mencionei, esse livro é o “romance gótico sulista pra acabar com todos os romances góticos sulistas”. Não concordo, porque não li tantos romances góticos sulistas assim, mas realmente, é uma obra gótica sulista essencial. Há todos os elementos do gótico, perfeitamente adaptados na realidade sulista dos EUA, finalizando ainda de uma forma niilista que é de estranhar no Faulkner pós-“Luz em Agosto”, embora isso seja de fácil justificação considerando que é meio que uma prequela a “O Som e a Fúria”.

Essa obra é mais uma daquelas que eu tenho que reler e vou reler ainda um dia, porque tem muitas coisas dentro dela, muitos detalhes, personagens, acontecimentos, enfim... é expansiva. Imensa!

5 pontos