terça-feira, 3 de abril de 2018

Dica cinematográfica: “Real – O Plano por trás da História” (2017)

571766

Mais um filme reaça lançado ano passado, que merece uma dica d’O Sommelier de Tudo.

Em “Real”, acompanhamos a trajetória de Gustavo Franco, economista responsável pelo Plano Real, que acabou com a hiperinflação que assolava o Brasil nos anos 90 e sua árdua trajetória pelo governo, passando por cargos importantes e culminando numa polêmica investigação conhecida como Banestado.

Já começo dizendo que, assim como o filme da Lava Jato, esse não é um ótimo filme, embora também não seja ruim, é um filme bom e nada mais. Pra começar, ele não entrega o que promete (ao menos o que foi dito nos trailers), porque, pelos trailers, temos a impressão de que irá se tratar de um filme sobe o Plano Real, mas não se engane, esse é um filme sobre Gustavo Franco.

Embora foque nos menos de 10 anos de carreira de Gustavo Franco atuante junto ao governo, é um filme que toca em questões pessoais da vida dele, o seu trato com outras pessoas, familiares e colegas de trabalho, suas posições ideológicas e suas estratégias junto ao governo para ele tentar minar a corrupção e os esquemas de politicagem que sempre existiram no nosso país e acentuaram-se a partir da segunda metade do século XX.

O filme tem ares de panfletagem, embora essa panfletagem se concentre na figura de Gustavo Franco, sendo assim, perdoável. Por exemplo, logo na primeira cena, vemos uma discussão de Gustavo com um amigo seu, carioca, rico e que está pronto para ir trabalhar em Londres para uma multinacional, mas critica Tatcher, a Perestroika, defende programas de incentivo sociais do governo e ainda vota no PT, o típico comunista hipócrita. Essa discussão é recheada de ataques tanto de um lado quanto de outro, embora o lado da esquerda sempre fique mais fraco. Esse tipo de cena ocorrerá outras vezes ao longo do filme, em que Gustavo fica no canto oposto ao seu inimigo e a câmera fica indo de um lado para o outro. É uma sacada interessante da direção e o debate acalorado carrega de tensão a cena, mas quando termina, eu não consegui deixar de sentir um cheirinho de panfletagem no ar.

Mas não é como se não pudesse escapar disso num filme desses, afinal Gustavo Franco é uma figura que divide opiniões, até mesmo pela sua trajetória conturbada, mas o filme lhe garante um status de herói. A narrativa é digna de thrillers de suspense e investigação, como filmes de jornalismo, muito comuns atualmente e prende a atenção. Você pode até não gostar de Gustavo Franco e, nesse caso, irá odiar o filme, mas os produtores, roteiristas e o diretor foram muito competentes em dinamizar uma história que só foi contada de maneira enfadonha, usando para isso tanto recursos narrativos (personagens fictícios, situações que não podem ser comprovadas, etc) e recursos técnicos (a movimentação de câmera de um lado para o outro é um ótimo exemplo disso).

Além disso, o filme conta com uma trilha sonora bacana, é genérica, mas é mais envolvente que a do filme da Lava Jato, auxiliando na dinamização da história contada pelo filme.

Enfim, é um bom filme, contando de forma nunca antes contada uma história que é encarada por todos como algo chato, mas, com esse filme, ficou legal.

3 pontos e meio