quinta-feira, 23 de maio de 2019

Dica cinematográfica: “Homem-Aranha no Aranhaverso” (2018)

Este é o melhor filme do amigão da vizinhança, excetuando o Homem-Aranha 2 com o Tobey Maguire.

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Contando a história de Miles Morales, o filme apresenta o desenrolar de sua história como novo Homem-Aranha após ele ser picado por uma aranha radioativa e presenciar a morte do Homem-Aranha de seu universo, quando este enfrentava o Rei do Crime. Na batalha, que ocorreu após a ativação de uma máquina que iria trazer a falecida esposa e filho do Rei do Crime de outro universo, buracos espaço-temporais são abertos e jogam no universo de Miles diversas formas do Homem-Aranha de outros universos.

O filme é recheado de referências a uma caralhada de revistas muito boas do amigão da vizinhança, entre elas o Porco-Aranha e o Homem-Aranha Noir. Sozinho, o Miles já renderia um filme muito bom, mas a inserção de outros homem-aranhas, em especial o Homem-Aranha que o ajuda durante todo o filme (identidade secreta: Peter B. Parker) só melhoram a obra, trazendo leveza e profundida com suas participações excepcionais. Peter B. Parker é o melhor exemplo pois sem ele, o filme seria apenas mais uma aventura, não muito interessante de se acompanhar. Sua trajetória como herói é o cerne que dá o tom sério ao filme, transformando-o em mais do que uma simples animação para crianças e adolescentes.

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O bom humor do filme não parece solto, como na maioria dos filmes Marvel e se encaixa feito uma luva na obra. Timing é tudo!

Mas vamos a análise mimética da obra:

Como já sabemos a teoria mimética diz que somos todos miméticos e nada é mais emblemático disso nesse filme do que a cena em que Peter B. Parker tenta convencer Miles de se tornar um herói digno. Nesta cena, Peter diz que ele e os outros aranhas estão partindo para a missão derradeira, onde todos voltaram para seus respectivos mundos, menos ele (Parker), que irá se sacrificar pelos outros, ficando naquela Terra, correndo o risco de simplesmente se desintegrar, mas salvar o dia.

Miles continua relutante e no final da cena vemos que todos os aranhas estão ouvindo a conversa, esperando que Miles tome coragem e vire o Homem-Aranha daquele universo. O que acontece é o contrário e Miles não se motiva com Peter e assiste pela janela de seu quarto todos os Aranhas irem embora.

Essa é uma estratégia mimética simples, o que convencionou-se chamar de psicologia reversa. Tentamos mostrar que estamos desinteressados em um objeto para que o outro se interesse nele, despertando nele e em nós uma motivação ainda maior para conquistar esse objeto.

Algumas vezes funciona, em outras não.

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No caso de Miles não iria adiantar, pois ele e Peter não eram rivais de fato. Seu rival era o seu pai e é ele o principal motivador de Miles para se tornar o Homem-Aranha.

Sendo uma história de aventura simples, é fácil encontrar os resquícios da natureza mimética que temos nesse filme. Além de Miles, Peter B. Parker é claro que sofre os maiores efeitos disso. Mesmo morto, Peter Parker é seu rival e o motiva a mudar em seu universo.

Mas temos que mencionar também as qualidades técnicas desse filme. Movido a um hip-hop genérico, as músicas são sua parte mais medíocre, no entanto, a animação é excelente e eu gostaria que mais filmes fossem assim. Muito estilosa, num 3D bem cartunesco, mas que mescla elementos dos quadrinhos americanos em sua animação, o filme é uma verdadeira obra de arte.

Destaque para o Rei do Crime que saiu diretamente das mãos do Bill Zienkiewicz, o melhor desenhista da Marvel, para as telonas nessa obra sensacional.

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De tirar o fôlego, emocionante, inteligente e com bom humor, Homem-Aranha no Aranhaverso é uma obra fenomenal de quadrinhos, que nos faz agradecer a Sony por ainda ter os direitos do herói. Do contrário, seria apenas mais um caça-níquel safado que segue a famosa (e já batida) fórmula Marvel.

4 pontos e meio