quinta-feira, 30 de maio de 2019

Dica televisiva: Game of Thrones

 

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Finalmente chegou ao final essa que foi uma das séries mais impactantes da teledramaturgia mundial e O Sommelier de Tudo, este que vos fala, está pronto para dar o seu veredito se a série vale a pena ou não ser assistida.

Game of Thrones é baseada na obra As Crônicas de Gelo e Fogo de George Martin, um escritor inglês de livros cabeçudos de nerdisse, basicamente. Iniciando com um assassinato causado por seres misteriosos na misteriosa região norte do país, somos apresentados aos Stark, a família que controla o norte da região de Westeros. Essa família, guiada pelo patriarca Ned e contando ainda com 2 filhos homens, mais um adotado, mais um bastardo, além de 2 filhas recebe a visita dos Lannister, o qual o patriarca Robert é o rei de toda Westeros. O rei visita Ned, seu amigo de longa data, para o transformar no Mão do Rei, o cargo mais alto dentre os conselheiros da Coroa de Westeros. Relutantemente Ned aceita a missão e a partir daí vamos conhecer a rica região de Westeros com suas inúmeras casas, famílias tradicionais e intrigas, enquanto um mal misterioso caminha do Norte para assolar todo o mundo no inverno.

Winter is Coming.

A série se tornou um sucesso logo nas suas primeiras temporadas muito pelo seu cinismo. Se por um lado ela era magistral em apresentar diversos pontos de vista, dando voz, motivações genuínas, personalidade e, às vezes, episódios inteiros para personagens secundários, por outro lado, ela não tinha dó em mostrar a morte de cada um deles nos momentos mais anticlimáticos da série. O final da primeira temporada é o melhor exemplo disso e, apesar de deixar diversos ganchos para as próximas, não me surpreenderia se descobrisse que muitas pessoas abandonaram ela ali.

E esse foi um dos motivos de eu nunca ter criado muitas expectativas com a série. Criava expectativas ao longo das temporadas, mas sempre com um pé atrás para não me decepcionar no final. Outra estratégia que adotei para sobreviver a GoT foi assistir as temporadas apenas quando elas já estavam finalizadas. Consistindo de menos de 10 episódios por temporada, GoT é a série perfeita para maratonar e, dessa forma, a decepção não é tão grande. Assistindo os episódios de uma vez, você não se dá tempo de se afeiçoar com os personagens.

Dito isso, devemos comentar a última temporada, já que muitas outra temporada de GoT já foi dica por aqui e minhas opiniões gerais da série já foram esboçadas em outro momento. Distanciada da série de livros há tempos (até porque os livros ainda não foram finalizados e estão longe de serem finalizados), GoT tomou diversas liberdades e houve uma certa rendição a algumas vontades dos fãs da série. Alguns relacionamentos amorosos e momentos mais massavéio são claramente exemplos disso.

Isso chega a atrapalhar a série? De forma alguma. Não podemos nos esquecer de que, apesar da série se esforçar muito para esconder isso, os verdadeiros protagonistas de GoT são os Stark e o núcleo que se forma no Norte. Todo o resto da série é encheção de linguiça que funciona nos livros para dar corpo e ganhar um apelo comercial. As intrigas criadas por Martin pouco ou nada importam de verdade no universo da série e a mensagem final é muito mais profunda do que os fãs da série gostariam de admitir, mas a verdade é que o Norte sempre foi o mote principal da série, os Stark seus protagonistas reais e os valores que eles carregavam a sua moral.

A briga pelo trono, que se torna o principal conflito nas primeiras temporadas demonstra uma filosofia política conservadora. Apenas aqueles que se ligam a ideias transcendentais, como os Stark e, em menor medida, os Baratheon, são aqueles que conseguem manter uma liderança real e sólida, apesar dos pesares.

Os Stark, sempre lembrando que o inverno está vindo, guiam-se por uma luta muito maior e que forma a base de todas as grandes histórias do mundo, a eterna luta do bem contra o mal. No final, vemos a batalha final ser travada entre o Rei da Noite e o Senhor da Luz. É óbvio de quem é a vitória e eu ainda tenho dúvidas se os livros irão seguir o mesmo caminho, já que os livros param num momento crucial da história e o ponto de revelação dessa filosofia conservadora, que também faz parte das diretrizes da HBO (basta lembrarmos da primeira temporada de True Detective e o clássico Sopranos para criarmos uma ligação que forma um sólido pensamento), mas vamos ver... eu irei acompanhar a história dos livros de longe, já que não tenho ânimo pra ler tudo que já foi publicado.

Dito isso, o que fazer após a derradeira batalha entre a luz e a noite? O que vir depois só poderia ser um enorme epílogo de 3 episódios com mais de 1 hora cada. O resultado não é legal e força muito a barra. A loucura de Daenerys poderia ter sido explorada em uma temporada inteira e toda a destruição que ela causa poderia ter sido feita sem parecer que foi forçado demais. Personagens detestáveis receberam o fim que mereciam, mas, de novo, forçou a barra e, por fim, quiseram dar um certo ar de filme de guerra, com uma mensagem pacifista que nunca fez parte da alçada de Game of Thrones e pareceu deslocado demais. Transformar a Arya num Florya Gaishun pra justificar seu abandono às armas não foi a melhor escolha de roteiro e, de novo, pareceu forçado demais.

Após a extrema cagada que foi o 5º episódio, o 6º parece digno. Ele tenta consertar tudo que foi feito, terminando de maneira minimamente digna a história desses heróis que fizeram parte da vida de muita gente por longos anos. Ao final, GoT vale a pena ser assistido. Seu impacto no mundo da televisão ainda será sentido por muito tempo, embora com um sabor amargo  no final.

4 pontos