terça-feira, 21 de maio de 2019

Lendo O Senhor dos Anéis pt.1

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Esse ano me comprometi a ler mais livros de ficção e menos não-ficção. Para cumprir tal meta resolvi ler algo que estou devendo há muito tempo: O Senhor dos Anéis!

Comprei uma edição gringa que contém todos os 3 volumes e uma caralhada de extras, portanto resolvi criar um novo hábito de leitura. A cada livro, eu paro a leitura e vou ler outro livro de ficção mais fino. Dessa forma achei melhor montar esse guia de leitura com 4 dicas do que ter que fazer uma só. Do contrário, acabaria deixando escapar agum detalhe interessante.

Se são 3 livros, então por que 4 dicas? Porque eu comprei uma edição mutio foda de O Senhor dos Anéis, a edição de luxo lançada pela editora HMH. Conta com uma capa de couro, que não é capa dura, mas é bem resistente, folhas cortadas nas pontas num formato redondo e uma fonte pequena que deixa o livro todo parecendo uma Bíblia antiga. Essa edição, além do texto integral do livro, conta com vários textos suplementes como apêndice da obra e é por eles que vou começar essas dicas de O Senhor dos Anéis.

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Um costume que adquiri nos últimos tempos é o de ler os textos suplementares dos livros que leio antes de ler o livro em si. Isso pode ser visto como trapaça e pode estragar um pouco da graça ao revelar detalhes importantes do roteiro, mas pra mim só melhora a leitura, pois não vou ao texto de mãos abanando.  Comecei a leitura de textos antigos, clássicos gregos, latinos e afins nos últimos anos e chegar a eles de mãos abanando é um desastre. Você não consegue entender sobre o que eles estão falando e se sente perdido. É muito ruim. Sendo assim, adotei a estratégia de ler os apêndices antes e isso tem me ajudado bastante. E teria me ajudado bastante na leitura de Graça Infinita.

Portanto iniciei a leitura de O Senhor do Anéis por eles e acabei descobrindo que o Tolkien foi o primeiro dos pós-modernos. Sabe aquilo que os intelectuais sempre discutem quando falam de literatura pós-moderna como ruptura com a forma do romance? E eles mencionam o uso de artifícios que contribuem para a criação de uma metanarrativa? Pois é... Tolkien fez tudo isso antes de muita gente.

Aliás, muita gente fez isso antes do pós-modernismo, mas aí já é outra discussão.

Tolkien iniciou a criação de seu mundo através da linguagem dos elfos. A língua foi o principal motivador para continuar e expandir o trabalho que ele havia feito n’O Hobbit. Como a língua é viva, pertence a um povo e se relaciona intimamente com a história, ele acabou criando diveros ramos dessa árvore que é a Terra Média para dar corpo a uma língua que ele estava criando.

Trabalho de gênio, mas também de um baita dum nerdão!

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No entanto a gente respeita, porque Tolkien era também muito criativo. Sabemos como a história foi criada por causa de outros, não dele. Nos textos que compõem o apêndice Tolkien fala como se fosse um historiador, como se tivesse descoberto os textos que temos em mãos e ele fosse apenas o tradutor. Ele fala de hobbits, elfos e guerras na Terra Média como se tudo isso existisse de fato e ele fosse apenas o responsável por desenterrar essas coisas, descobertas ao acaso, enquanto perambulava pela Inglaterra.

Nisso conhecemos um pouco da genealogia dos Hobbits, responsáveis pela criação dos textos que Tolkien “descobriu” e “traduziu”. Conhecemos muito das línguas faladas na Terra Média, suas peculiaridades e o povo que as falava também. Temos longas descrições das genealogias dos humanos, dos elfos e dos anões.

Algo que me chamou muito a atenção foi o texto dedicado aos anões, pois eu sempre gostei muito dessa raça de seres da Terra Média, mas sempre fiquei meio desapontado com o Tolkien por não focar muito neles. Ledo engano, aqui conhecemos muito deles e talvez a falta de conteúdo sobre eles seja culpa das editoras brasileiras, que não trazem muito desse conteúdo mais “pesado” do Tolkien.

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Pesado, porque é um negócio que só nerdões se interessariam em comprar e ler e tal... o leitor menos dedicado ao universo da Terra Média não vai se interessar tanto por isso.

De qualquer forma achei muito legal a inserção dos anões ali. Como raças misteriosas que são, tímidos e retraídos, não se conhece muita coisa sobre eles. Disso resulta um texto pequeno, em comparação com os outros. Ainda assim, o texto nos fornece informações muito interessantes, como a presença de mulheres entre os anões (as anãs), sua língua entre eles, suas crianças e afins.

Os elfos é basicamente uma recapitulação d’O Silmarilion e os humanos apresentam muitas casas e famílias que devem estar presentes n’O Senhor dos Anéis. É uma parte meio chata, confesso. São muitas informações repetidas, nomes estranhos e coisas que criam um grande folclore, mas não acrescentam tanto a leitura do livro, pois são raças cujo comportamento e história são amplamente difundidas.

Além disso há uns anexos de línguas, runas e um texto sobre a tradução dos textos originais para o inglês! Tolkien era um nerdão, mas também era um grande gozador que adorava brincar com seus leitores.

Após tantas informações me senti mais seguro em começar a leitura desse calhamaço e já dá pra adiantar, ajudou bastante!

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