quinta-feira, 25 de julho de 2019

Dica musical: “Defeater” de Defeater (2019)

87623_defeater.jpg.925x925_q90

Fiquei afastado por um tempo das discussões musicais do post-hardcore, mas descobri que Defeater, uma das minhas bandas favoritas (apesar de sua grave limitação musical), lançou um novo álbum esse ano, me pegando de surpresa.

Em Defeater, o primeiro trabalho da banda com o grande Will Yip, produtor favorito de todas as bandas underground da atualidade, Defeater se lança por águas nunca antes exploradas, tanto narrativamente, quanto musicalmente, produzindo um álbum único dentro de sua discografia. O som é sólido, sentimos uma grande segurança nos membros da banda e a possibilidade de expansão surge como uma luz no fim do túnel.

Vale uma breve recapitulação: Defeater é uma banda formada em 2004, mas que só lançou o seu primeiro álbum em 2009. O motivo é que a banda tem um projeto grande demais. Todos os seus álbuns são conceituais e contam histórias que se conectam com o primeiro álbum, o qual conta a história de um jovem rebelde que foge de casa após matar o pai, vicia-se em drogas, volta para casa anos depois e se suicida após ver que o que sobrou de sua família foi destruído pelas drogas e pela corrupção da cidade em Nova Orleans. O segundo álbum foi contado da perspectiva do Irmão (e ainda é o melhor álbum da banda), o terceiro conta a história da perspectiva do Pai, o quarto do Padre, pai do protagonista do primeiro álbum e este, o quinto é o mais ousado de todos.

Iniciando com uma narrativa do Irmão do pai, este álbum muda as perspectivas, incluindo na narrativa outros personagens, que se relacionam com o irmão do pai, inclusive o padre. No entanto, nada disso é claro e a história contada aqui é bem confusa, pra ser honesto.

Apenas pelas letras é difícil saber e é útil pedir ajuda aos fãs mais radicais da banda, que conseguem apontar as relações com os álbuns anteriores e formar pontas que delineiam a narrativa sendo contada aqui.

- SPOILERS –

Para quem se interessa, aqui vai um resumo do que foi descoberto e aceito até agora: o foco principal é no Irmão do pai e de fato, dá pra saber que é dele que se tratam as 3 primeiras canções. Até este álbum, o Irmão do pai havia sido morto numa viagem de navio durante a segunda Guerra Mundial, o que desencadeou a depressão do Pai, depois suas bebedeiras e por fim o seu tratamento cruel ao Filho mais novo, que o assassina quando adolescente. No entanto, após a terceira canção, entra um outro personagem, o Traficante, que faz com que o irmão do pai trabalhe para ele. É o Irmão do pai que acaba fornecendo drogas para o Padre, que vicia a Mãe. Aparentemente, o Irmão do Pai vê tudo o que ocorre com a família de longe e ao final deste álbum vê o suicídio do Traficante e, sem “emprego”, decide vingar sua família, esfaqueando o Padre.

- Fim dos Spoilers –

Não é uma história bonita, como já seria de se esperar de Defeater, mas é interessante e instigante. Ao longo de sua carreira, Defeater veio criando uma teia de personagens e história tão intrincada que fica difícil diferenciar quem é quem e o que aconteceu, mas também se apresenta para nós como um universo muito rico.

No entanto, nunca foi muito audível. O som de Defeater sempre foi muito caótico, barulhento e apenas os fãs de uma pegada hardcore pesada que flerta com o heavy metal gostam de ouvir a banda em seu tempo livre. Eu sempre saí com dor de cabeça após ouvir um álbum deles e aqui não foi diferente. Porém, neste álbum, sua sonoridade está mais sólida e encontra uma variedade sonora mais ampla, o que não desgasta tanto o ouvinte como seus álbuns anteriores.

Os vocais ficaram muito escondidos nesse álbum, o que de certa é bom. Mostra que o foco principal aqui não é a narrativa, mas sim a sonoridade na qual a banda chegou, muito mais cadenciada e “audível” do que suas últimas obras, ainda que em alguns momentos essa distância que foi causada nos vocais incomode um pouco.

Em suma, Defeater é o álbum mais ousado da banda. Marca um distanciamento do que ela havia feito até aqui, mas também abre a possibilidade para novas aventuras. Eu perdi as esperanças de que eles irão contar a perspectiva da Mãe algum dia, já que esse álbum apresentou personagens nunca antes vistos e que irão ganhar álbuns no futuro, provavelmente, mas também abre a possibilidade de trabalhos muito interessantes no futuro.

4 pontos e meio