terça-feira, 9 de julho de 2019

Lendo O Senhor dos Anéis pt. 2

Terminei há um bom tempo a leitura de A Sociedade do Anel, mas esperei começar a ler o segundo livro para poder continuar com essa série de posts sobre o trabalho de alta fantasia mais significativo da história.

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Em A Sociedade do Anel conhecemos Frodo, sobrinho de Bilbo, o personagem principal de O Hobbit, agora idoso e pronto para ir embora do Condado após celebrar uma festa de aniversário que deu pano pra manga de fofocas do Condado por muitos meses. Bilbo deu para o seu sobrinho o anel que lhe dava poderes de invisibilidade, mas que também vinha com uma influência negativa muito forte vinda de Mordor. Gandalf, o mago cinzento, acompanha tudo de perto e logo monta uma caravana para que Frodo se livre do anel. Nessa jornada, irão acompanhar o hobbit, seus amigos de Condado, Sam, Pippin e Merry. Sob as sábias dicas de Elrond, senhor de Rivendell, os hobbits se unem aos cavaleiros Aragorn e Boromir, o elfo Legolas, o anão Gimli e claro o mago Gandald na busca da destruição do Anel em Orodruin, o único lugar onde o artefato maligno pode ser destruído.

O livro começa de maneira simples e muito relaxante, com uma descrição detalhada do aniversário de Bilbo. Para quem já leu O Hobbit, como eu, esse momento é um deleite. Ocupando diversas páginas, conhecemos muito da vida pacata dos hobbits, lembrando uma vila pitoresca do interior da Inglaterra. É legar ver que Bilbo voltou diferente da sua jornada em O Hobbit, muito mais loquaz, cheio de amigos e é considerado um maluco entre os seus colegas do Condado, mas isso não faz a menor diferença para o hobbit que sabe que o mundo é muito mais do que o Condado é.

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Depois disso somos apresentados a jornado que Frodo deverá enfrentar. Aqui entra a genialidade de Tolkien ao colocar um hobbit como o centro de suas páginas. Hobbits são acomodados, só querem viver em paz e sossego na sua terrinha querida e sair do Condado, ainda que para o bem de todos, é um peso muito grande para Frodo, que não conhece nada além do Condado. Essa é a oportunidade perfeita para apresentar toda a Terra Média como algo inédito para os leitores, já que os outros personagens que fazem parte da Socidade do Anel conhecem muito da Terra Média. Dessa forma, Tolkien nos apresenta de forma quase didática, através de poesias, canções e lendas, os pormenores da Terra Média.

A ambientação fica misteriosa e atiça a curiosidade de leitores mais nerds, como eu.

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No entanto, não é uma leitura fácil. Apesar de muito interessante, o ritmo é lento e somos arrastados por páginas e mais páginas pela Terra Média, seus personagens e mitos numa profusão de descrições e histórias que exigem um estado de espírito relaxado do leitor. Não é uma leitura para ser feita depois do almoço, muito menos antes de dormir.

A coisa fica chata mesmo (para mim) no momento em que o Elrond começa a dar as cartas na mesa. O capítulo em que ele define quem irá acompanhar Frodo e Gandalf  na trajetória que visa a destruição do Anel. O capítulo é gigantesco, formado só de diálogos longos, que vão e voltam na mesma discussão, sobrem quem vai, quem fica, porque e como... é uma discussão realista. Obviamente que essa é a realidade de quem vai pra uma guerra e Tolkien, que serviu ao exército britânico, sabe disso melhor do que ninguém, mas que também é um puta negócio chato de se ler, isso também é verdade.

Fora que há uma disparidade muito grande no tratamento da profundidade dos personagens. Enquanto que por um lado somos apresentados ao drama dos hobbits em seus pormenores enquanto eles estão em Rivendell, por outro lado Legolas e Gimli, membros de raças inimigas há séculos, viram melhores amigos numa frase! É literalmente uma frase que diz que Legolas e Gimli se aproximaram muito ao longo da jornada. Não há diálogos entre eles, nem histórias compartilhadas ou uma batalha que os força a se unir. Simplesmente temos que aceitar o fato de um anão e um elfo (inimigos há séculos) terem virado melhores amigos no meio da jornada.

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É claro que isso não é uma incongruência dentro da história. É possível, afinal. O problema é que há muita atenção para pontos chatos e pouca atenção para pontos-chave da história. Afinal, a amizade entre Legolas e Gimli é tão forte que irá perdurar até o fim de seus dias, sendo Gimli o primeiro anão a conhecer as Terras Imortais. Nós não vemos o início disso, em compensação, vemos toda uma conversa (em mais de 20 páginas) sobre quem irá ou não acompanhar Frodo na jornada.

Enfim, a leitura é cansativa e após isso não há muito o que salvar no final de A Sociedade do Anel. O ritmo nunca volta a ser animado como no começo, quando os hobbits conheceram Aragorn e outros momentos afim. A ambientação parece até acompanhar o ritmo. As montanhas que eles atravessam são estéreis e inóspitas, culminando numa desolação descomunal ao enfrentarem um Balrog dentro da antiga cidade dos anões.

Parece até que é de propósito, o que atestaria ainda mais para a genialidade de Tolkien, mas isso não sei dizer com absoluta certeza. Talvez eu tenha que reler (oh, não!!!) para saber.

Ao final de A Sociedade do Anel, a primeira impressão que ficou para mim não foi tão positiva, mas continuo na leitura. Percebo que é genial e imagino que a falha seja minha. Eu não sou nerdão o suficiente para gostar tanto assim de O Senhor dos Anéis.

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