quinta-feira, 18 de julho de 2019

Dica televisiva: Chernobyl (2019)

1692162

Esse é o ano da HBO e essa série está aí para comprovar esse fato!

Chernobyl conta a historia do pior acidente nuclear da história, o acidente de Chernobyl. Resultado de falhas humanas e estruturais, o acidente dizimou a vida de mais de 90.000 pessoas após a explosão de um reator nuclear dentro da usina de energia elétrica situada na Ucrânia.

A série inicia-se dois anos após a explosão com Valery Legasov, cientista soviético que revelou todos os podres por trás do acidente, em sua casa, montando as fitas de áudio que iriam revelar para o mundo a verdade sobre o ocorrido. A partir daí, a série volta no tempo, exatamente no momento da explosão, para acompanhar os acontecimentos que se seguiram após começar o pandemônio. Acompanhamos então o desespero dos trabalhadores da fábrica, que não entendiam o que estava acontecendo, nem como resolver o problema, o trabalho do corpo de bombeiros para apagar as chamas, a confusão das pessoas que viviam na cidade nuclear de Pripiat e finalmente, os esforços de Boris Scherbina e Valery Legasov para controlar a situação nos dia seguintes, contando ainda com a ajuda de Ulana Khomyuk, que irá ser de grande ajuda para a descoberta dos motivos por trás da explosão.

A série é um primor estético, narrativo e histórico. Surgida com a intenção de reportar tudo de forma fiel ao ocorrido, ela consegue se aproximar muito bem da realidade, embora tome muitas liberdades poéticas, seja por questões práticas (Khomyuk, por exemplo, não existe, mas ela surge para representar os diversos cientistas que trabalham em equipe ao lado de Legasov para construir um mapa, minuto a minuto, do que aconteceu no dia da explosão), seja por questões dramáticas (nenhum escavador ficou pelado em Chernobyl, mas essa escolha, além de hilária, reforça a ideia de que eles trabalharam sob um calor infernal ali). Para os curiosos, como eu, há uma compilação de imagens e relatos que vão da construção da usina até os acontecimentos posteriores a explosão aqui. É interessante poder comparar com o que é mostrado na série e ver que, apesar das liberdades, teve um esforço para mostrar a história como foi muito forte.

Esteticamente ela consegue nos passar a sensação de desespero, confusão e também de frustração que as pessoas que trabalharam no caso sentiram. É revoltante ver o descaso das autoridades soviéticas perante o ocorrido, a mesquinhez que os integrantes do Estado seguiam e a fé que tinham na força imaterial mais baixa que há, que é o poder estatal. A crença estatal dos soviéticos de alto escalão é demonstrada de forma primorosa aqui e não tem como não se revoltar. Ao mesmo tempo, é também emocionante acompanhar os esforços de todos aqueles que, literalmente, deram a vida para salvar o mundo. Eles estavam lidando com algo inédito na história da humanidade e a cada solução que bolavam, mais problemas surgiam e assim, tiveram que criar outras soluções. Arriscar a própria pele é piada!

As sensibilidades socialistas de alguns pode ser abalada com essa série (e com razão!), mas isso já seria de se esperar da HBO, que segue uma linha conservadora em suas produções. Não sobram críticas a serem feitas a União Soviética. No primeiro episódio, mostrando a fé cego dos membros do Kremlin que transformaram Lenin no seu Jesus Cristo até mesmo à Fome Soviética de 32-33, montando ainda um paralelo com o nazismo. Politicamente, a série é corajosa, forte e virtuosa!

Narrativamente, a série se sobressai sobre muitas outras. Traçando uma linha de tempo, que se expande conforme os episódios vão passando, ela começa mostrando detalhes, acompanhando minuto a minuto os acontecimentos, culminando por aumentar o ritmo, cobrindo dias inteiros a cada minuto da série. É uma jogada muito boa e não poderíamos esperar menos do canal que colocou a TV no centro da discussão artística.

Um primor artístico, Chernobyl chega para marcar 2019 como o ano da HBO, em definitivo.

5 pontos