terça-feira, 15 de agosto de 2017

Dica literária: "Confissões" de Santo Agostinho

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Uma das minhas leituras mais rápidas de todos os tempos, não por se tratar de um livro curto, mas por se tratar de um livro maravilhoso – não! Maravilhosíssimo – e cuja leitura não se pode parar, simplesmente. É um livro que, quando você menos espera, já leu quase 100 páginas num dia.

“Confissões” é considerado a primeira autobiografia da história ocidental. Escrito no século IV pelo então bispo de Hipona, Santo Agostinho, conta a sua história de conversão, além de fazer elaboradas considerações filosóficas acerca dos textos bíblicos. “Confissões” segue o sentido mais puro da palavra confissão, não é apenas um livro para liberar a alma de Agostinho do peso de seus pecados do passado, mas é também uma conversa sincera com Deus, um enorme momento de honestidade.

Dividido em 13 livros, os 10 primeiros são a parte biográfica, de fato, começando ainda na infância e se estendendo até meados dos 30 anos do santo, narrando fatos de sua infância, momentos que ficaram marcados em sua vida, pecados (alguns exagerados, mas outros bem justos), seu relacionamento com uma mulher, a morte de seu pai, se envolvimento com cultos pagãos, seu período de aprendizado com diversas correntes filosóficas e, principalmente, seu relacionamento com sua mãe e o relacionamento dela com a religião católica. Agostinho traça uma clara linha de conversão que se inicia ainda em sua infância e só se concretiza quando ele já é um homem formado, o que pode parecer um pouco forçado, mas é um modo interessante de ver a vida, assumindo que Deus sabe de tudo, então nada que acontece em nossa vida, nem mesmo os pecados, acontecem à toa.

Os últimos 3 livros são análises filosóficas, continuam a conversa de Agostinho com Deus, mas nesses livros ele se concentra em debater pontos da fé, através de uma luz racional, encontrando explicações para grandes questões fundamentais da filosofia ocidental e deixando outras em aberto.

Para quem é católico, esse livro é um deleite. É fantástico acompanhar a vida tão falha de uma figura colocada num pedestal tão alta que acabamos nos esquecendo que ele também foi um ser humano como nós. Para quem se interessa por filosofia, o livro vai lhe dar ótimas elucidações sobre questões que você provavelmente debate consigo mesmo quando deita a cabeça no travesseiro à noite. E se você não é nem religioso, nem se interessa por filosofia, mas se interessa por literatura, esse é um ótimo documento acerca de biografias e em certos momentos Agostinho chega a elaborar pontos estruturais para esse novo gênero que ele estava criando.

A edição que comprei foi a da Penguin-Companhia e como é de se esperar, está ótima. O acabamento segue o padrão dos outros livros do selo da editora e que é fantástico, as páginas não são grossas, o livro pode ser levado pra qualquer lugar e não fica todo amassado e é raro encontrar um livro desses “dobrado”, com aquela curvatura irritante que ficam nos livros quando eles não descansam numa superfície reta.

De fato, eu não consigo pensar num ponto ruim acerca deste livro, apesar de ter conversado com algumas pessoas que o criticaram de diversas maneiras, seja sobre a vida do santo filósofo, seja sobre a própria filosofia de Santo Agostinho. Eu, pessoalmente, gostei muito.

Enfim, “Confissões” é um livro fantástico, altamente recomendado àqueles que são católico, se interessam por filosofia ou simplesmente gostam de uma boa literatura.

5 pontos