sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Dica musical: "Science Fiction" do Brand New (2017)

science_fiction

2017 é um ano que vai entrar para a história. Não sei para onde estamos indo, mas definitivamente estamos indo para um lugar melhor, em todos os setores e com o mundo da música não poderia ser diferente. Após 8 longos anos, o Brand New retorna, de surpresa, com o que deve ser o seu melhor álbum.

Definitivamente valeu a pena esperar.

https://www.youtube.com/watch?v=NfWMqgm94bs

Brand New é uma banda icônica, um clássico dos anos 2000, de uma era que ninguém quer lembrar, mas que influenciou uma porrada de bandas diferentes, que fazem um dos melhores trabalhos no mundo da música, atualmente (exemplos: La Dispute, Title Fight, Touché Amoré, enfim... todas essas bandas de post-hardcore que todos amamos), é também uma das bandas que mais evoluíram na última década, vindo de uma tradição de bandas obscuras de punk e hardcore melódico, responsáveis por solidificar a sonoridade do emo e, a partir do momento em que esse gênero musical passou a ser estigmatizado, o Brand New passou a incorporar outros elementos em sua sonoridade e se aprofundar na proposta inicial lírica do emo, a de criar canções confessionais. Porém, ao invés de continuar chorando a ida da namorada e lamentar o quão dura é a vida de adulta no “opressor mundo capitalista”, o Brand New se aprofundou em filosofias, sociologias e teologia, continuando a se questionar e questionar a vida como um todo, mas de forma muito mais madura.

E é no ápice dessa forma que o Brand New lança “Science Fiction”, um álbum conceitual que explora conceitos de ficção científica para explorar temas reais e íntimos, como todas as melhores obras de ficção científica fazem.

Além do clássico conflito com Deus, que foi o guia em “The Devil and God are Raging Inside Me”, temos uma discussão simples, porém forte acerca do aquecimento global, armamento e até mesmo armas nucleares. O momento é oportuno para um álbum desses. Porém, é difícil encontrar uma base para esses temas no álbum, que é, afinal, um álbum conceitual, que, aparentemente, se passa todo na cabeça de uma paciente com problemas mentais.

Não há uma história que conecte todas as músicas, nem algo que faça com que consigamos formar uma narrativa sólida unindo os poucos personagens que “falam” ao longo do álbum (e falam mesmo, há momentos de spoken word com diferentes vozes), mas há um fio narrativo que liga o álbum todo, onde cenas de bombas nucleares, derretimento de geleiras e “invasões bárbaras” acontecem e nos é apresentado de diferentes formas.

Sonoramente, acredito que este é o álbum mais diverso do Brand New e é um legítimo álbum de “rock alternativo”, uma definição que eu nunca entendi, de verdade, mas é o que melhor explica o gênero desse álbum. Além dos clássicos guitarra, baixo e bateria, temos outros instrumentos como trompete, violão e teclado. O violão, inclusive, é um elemento marcante no álbum, sendo inclusive o guia em algumas músicas.

A produção do álbum está excelente, há sobreposição de guitarras para dar o tom agitado, forte e potente do CD. Em poucos momentos há gritos, mas esses poucos momentos se encontram no final do álbum, o que cria uma unidade na trajetória dele. O ambiente que a produção cria para as músicas é vasto, amplo, tão grande que te engole por inteiro e as letras, introspectivas e sensíveis flutuam acima de você, como nuvens se movendo no céu. É uma tarefa que apenas uma banda como o Brand New poderia executar, porque requer a experiência que só uma banda extremamente influente, com quase 20 anos de estrada nas costas e que ainda se manteve à margem das paradas de sucesso pode ter.

Há anos que a banda anuncia o seu fim em 2018. Há 8 que não lançam um CD novo. Tivemos alguns singles, mas eles não entraram na edição final do álbum. Brand New é uma banda que não se encaixa mais nessa era, de fato. As próprias músicas de “Science Fiction” não são músicas típicas para essa era, não são músicas que te pegam logo de cara, é cansativo escutar o álbum apenas por escutar. Você tem que sentar, esperar e se sentir absorvido pela atmosfera expansiva dele a fim de conseguir admirá-lo. É uma boa forma de se encerrar uma carreira.

5 pontos