quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Dica literária: "Cuore" de Edmondo de Amicis (1886)

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Mais um livro que li ano passado, mas que estou fazendo a dica este ano por uma questão de espaço no blog.

“Cuore” (coração em português, não sei porque não traduziram o título) é um livro escrito pelo italiano Edmondo de Amicis e narra as desventuras de um estudante do ensino fundamental italiano da época, Enrico Bottini, ao longo de um ano letivo, começando no outono e terminando na primavera.

É um livro curto e uma dessas obras raras que, assim como “O sol é para todos”, te faz ler como se estivesse assistindo um desses filmes de aventuras de crianças da Sessão da Tarde. É um livro que usa de inovações estilísticas (ao menos para a época) transformando o livro num diário, onde o personagem principal nos narra os acontecimentos como se tivessem acontecido com ele um dia ou dois antes.

A obra se tornou um clássico na literatura italiana e já foi bem requisitado na época de lançamento pelas exemplares qualidades de seus personagens. “Cuore” é um livro de ideias tradicionais, que honram a soberania italiana, a natureza heroica e perseverante de seu povo, o respeito à família, às autoridades e à constituição social. Na época, todas as escolas italianas eram públicas e todas as crianças estudavam juntas, separadas apenas por sexo, possibilitando que tanto os mais ricos quanto os mais pobres estudassem juntos e é através dessa mistura que surge uma série de tragédias e momentos melancólicos ao longo da obra, mas que só servem para que Enrico aprenda a perseverar, resistir às tragédias, manter a sua fé e o seu respeito por aqueles acima dele.

Isto posto, não é uma obra pra qualquer um, muito menos num país tão polarizado como o nosso. Leitores mais à esquerda se sentirão incomodados com a injustiça social, presente, incômoda, porém aceita como parte de um caminho mais longo a ser trilhado, com a imposição das autoridades, tanto familiares, quanto escolares e, claro, com os temas de soberania nacional, algo que também incomodaria os leitores mais à direita, que também se sentiriam incomodados com a imposição de autoridades estatais. Como eu disse, é um livro tradicional, verdadeiramente conservador, porém acredito que isso seja mais fruto da época em que foi produzido (leve-se em conta a recém-unificação da Itália, naquela época) do que uma busca ideológica, de fato.

De qualquer forma, é um livro que toca o coração. É singelo e sensível, com passagens realmente devastadoras, trágicas e melancólicas, ao lado de passagens recheadas de uma leveza, simplicidade e harmonia que te deixarão sorrindo após a leitura.

É uma obra única.

5 pontos