quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Quem é culpado pelos nossos padrões de beleza?

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Fazendo uma faculdade que é inicialmente licenciatura, temos a oportunidade elaborar atividades e aplica-las em sala de aula. No momento em que escrevo esse post, tive, mais cedo, a oportunidade de presenciar uma atividade interessante.

Umas alunas dividiram a sala em duplas e nos deram uma “frase controversa” pra casa dupla sobre padrões de beleza. Cada aluno recebia um papel, o de “defensor da frase” e o de “contrário a frase”. O objetivo era o de falar sobre algum assunto controverso em sala de aula e desenvolver o senso crítico de alunos. As frases eram interessantes e o exercício foi legal, mas uma frase me chamou a atenção:

A mídia é responsável por determinar os padrões de beleza.

Todos na minha sala concordaram com a frase e a dupla que ficou com essa frase não soube elaborar um argumento contra, pois esse “fato” é, simplesmente, consistente demais.

Mas eu fiquei me perguntando, não somos nós os responsáveis pela mídia?

Seria interessante dar um passo atrás, antes de responder essa pergunta e ver o que significa mídia. Recorreremos ao dicionário online Michaellis para isso:

“Toda estrutura de difusão de informações, notícias, mensagens e entretenimento que estabelece um canal intermediário de comunicação não pessoal, de comunicação de massa, utilizando-se de vários meios, entre eles jornais, revistas, rádio, televisão, cinema, mala.”

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Olhando essa definição, abrimos um guarda-chuva enorme onde muitas coisas se encaixam sob ele, como “mídia”. Informação também é um termo muito amplo, notícias e artigos científicos são formas de transmitir informação, assim como filmes e programas de auditório.

Mas o que manda aqui é a parte em que diz “comunicação de massa”. Artigos científicos não são veículos de comunicação de massa, geralmente eles falam com parcelas muito pequenas da sociedade. A mesma coisa pode ser dita de literatura mais pesada, como um Tolstói da vida.

Eis o motivo de associarmos o termo “mídia” com televisão e rádio, mas o mesmo se aplica com filmes de Hollywood e redes sociais de alta utilização como o Facebook.

Definido isso, podemos voltar a pergunta que fiz: não somos nós que controlamos a mídia?

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Ninguém nos força a assistir televisão, ir ao cinema ou ter uma conta no Facebook. Fazemos isso, porque queremos e se não queremos, somos obrigados por outras pessoas próximas de nós. Por muitos anos me recusei a ter um Facebook, mas fui forçado a criar um para a faculdade, pois os grupos e o contato com professores e professoras fica muito mais fácil através da rede social.

E é assim que podemos discordar da afirmação inicial de que “a mídia é responsável por determinar os padrões de beleza. Pois quem define os padrões de beleza somos nós, seres humanos, as pessoas. É simplesmente a cultura.

A mídia apenas corresponde a cultura.

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Tome como exemplo a apropriação da mídia de todos os grupos de contra-cultura da sociedade, dos hippies nos anos 60 aos emos dos anos 2000, passando pelos punks e a moda grunge. Foram todas formas de contra-cultura, com seus próprios padrões de beleza (os hippies com seus cabelos longos, os punks com suas calças rasgadas, os grunges com suas camisetas xadrez e as franjonas dos emos), surgidas mais ou menos de forma espontânea numa parcela ínfima da população e que logo estava em todo lugar.

 

Gostamos de nos imaginar como seres iluminados, pertencentes a contra-cultura e de alto senso crítico, mas somos, na verdade, seres altamente miméticos. Copiamos uns aos outros constantemente e a mídia não faz nada mais do que acelerar esse processo. Sentimos insegurança quando somos um só na multidão, mas quando encontramos alguém que nos entende, nos sentimos segura. Seja esse alguém uma feminista de sovaco peludo ou um Bolsominion. Para acelerar esse processo, nossos avós ouviam o rádio e se encontravam nas praças das cidades, nossos pais assistiam TV e compareciam a shows ou outros eventos do interesse deles, propagados pelo jornal. Nós acessamos o Facebook e marcamos presença em algum evento que sabemos que terá gente como a gente.

É a mesma coisa com os padrões de beleza.

Definimos o que gostamos e o que não gostamos de ver nos outros. Não importa o quão diferente você seja, você tem o seu padrão de beleza, você pode preferir um cara gordo e cheio de espinhas, mas o fato de você preferir ele a um bombadão de academia, já é um padrão de beleza. E um efeito, muito positivo por sinal, que vemos hoje é a fragmentação da mídia. As redes sociais acabaram com a hegemonia da televisão em propagar informação e, conforme as redes sociais ganham mais poder, novas formas de se propagar informação estão sendo criadas. Por mais diferente que sejam os seus padrões de beleza, hoje é fácil achar alguém que pensa como você.

Mas não culpe a mídia pelo nosso padrão de beleza.

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É claro que em algum ponto a mídia começa a nos influenciar, porque a “mídia” é um negócio lucrativo, que exige menos trabalho físico e braçal do que muitos outros trabalhos por aí, atraindo muita gente. É de se esperar que tenham muitos seres inteligentes trabalhando pra “mídia”. Hoje em dia vemos na televisão, filmes, séries e videogames casais gays, dúzias de negros, mulheres e pessoas com algum tipo de deficiência, mas não vemos isso porque, de repente, a “mídia” está se tornando humanitária.

Não! A mídia está entregando aquilo que nós queremos ver. Pedimos mais casais gays, eles nos deram. Pedimos mais negros, eles nos deram. Pedimos mais espaço para pessoas com deficiência, eles nos deram. Podemos pedir qualquer coisa e eles nos darão. E nós iremos dar nosso dinheiro para eles com a consciência limpa, mas estamos, na verdade, alimentando a própria besta que achamos ser nossa inimiga.

Mas é nossa inimiga mesmo?

Todo o raciocínio até aqui foi para desbancar isso. Se há algo que a mídia faz de errado é capitalizar tudo aquilo que nos constitui como indivíduos. Nossas crenças, ideologias políticas, opiniões sociais e nossos padrões de beleza. Você pode condenar isso, mas não pode culpar ela por algo que você criou, porque antes de existir a mídia, existiam seres humanos e esses humanos queriam informação. A única coisa que a mídia fez foi nos dar essas informações, em grande volume e a um módico preço.

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No entanto, o que mais me espanta e me deixa deprimido não é simplesmente a opinião distorcida deles sobre o mundo que os cerca. O que me deixou mal foi chegar ao final da atividade e a dupla responsável por aquela frase não conseguir terminar o exercício, que era pensar em argumentos contra aquela afirmação.

O exercício era interessante por te colocar no lugar do outro, basicamente criar empatia ou austeridade, e eles foram incapazes de fazer isso. Vivem falando de empatia, mas na prática não são empáticos. Cegos pelas suas ideologias acabam se tornando mais ignorantes e intolerantes do que os próprios alvos de suas críticas.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Dica literária: “Heart of Darkness” (1902)

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Acho que essa foi uma das melhores leituras que tive que fazer pra faculdade.

Heart of Darkness é um livro escrito por Joseph Conrad e é narrado pelo personagem principal, Charles Marlow, que conta toda a história para seus colegas marinheiros no Tâmisa. A história é de quando ele foi trabalhar para uma companhia de comércio de marfim na África. Por ser de uma família influente, ele se torna capitão de um barco a vapor e recebe a missão de resgatar um outro chefe da companhia que se perdeu no meio da mata africana, o sr. Kurtz.

Com essa premissa, Conrad nos guia por uma breve, mas poderosa narrativa, que toma vários meses da vida de Marlow. Pelo fato de ser narrado pelo personagem principal, o livro é recheado de observações que dão muito pano pra manga em discussões acerca do imperialismo britânico, a escravidão, a loucura e a própria natureza humana.

Uma das questões mais interessantes que advém do livro é a forma como Marlow encara as atitudes dos europeus no meio da selva africana, sempre olhando os nativos de cima pra baixo, quando ele vê que não é bem assim, afinal os europeus muitas vezes acabam enlouquecendo no meio da floresta, enquanto os nativos não. Pelo contato com a natureza, eles estão mais aptos a encarar a escuridão africana e seria melhor deixar assim. Dá pra notar a influência de alguns princípios liberais em Marlow, como o não-intervencionismo motivado pelo princípio de não agressão.

Mas o livro não se resume a isso, pois como eu disso cada uma de suas páginas abre possibilidades de novas discussões. Acredito que de cada 10 leitores teremos 10 opiniões e motivações para discussões diferentes.

Eu, pelo menos, acabei ficando com uma boa sensação ao terminar de ler o livro, que acaba de forma singela, ao meu ver, quase “fofa”, após tanta violência e crueldade.

Mas também é um exemplo típico de “livro masculino”, aquele tipo de livro que como “O Apanhador no Campo de Centeio” e “Graça Infinita” falam mais com homens do que com mulheres, mas não deixa de ser uma boa leitura para ambos. Acontece que algumas observações de Marlow, que é um homem, podemos captar algumas noções que não dizem muita coisa ao olhar feminino.

De qualquer forma, é uma ótima leitura, que vale muito a pena. Li a versão em inglês e não é uma leitura difícil, muito pelo contrário, é uma leitura agradável, sem uma linguagem rebuscada ou muito obsoleta.

4 pontos

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Dica cinematográfica: “Wise Blood” (1979)

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E agora a adaptação do livro que me deixou cismado por muito tempo. Sua adaptação não melhora em nada a pulga que o livro deixa atrás da nossa orelha, muito pelo contrário.

O filme conta a mesma história do livro. Hazel Motes retorna da guerra e descobre sua cidade natal abandonada, então decide comprar um terno, um chapéu e ir para uma cidade diferente. Lá ele é confundido com um pastor de igreja por causa de seu chapéu e para provocar um pregador cego, cria a “Igreja Sem Cristo”.

O filme é uma adaptação “perfeita” do livro. Entre aspas, pois ele é uma adaptação literal praticamente, o que é considerado por muita gente como um fator decisivo para classificar se uma adaptação é boa ou não. Em alguns momentos, o filme chega a usar falas diretas do livro, o que aumenta a familiaridade do leitor numa escala impensável.

E é dessa forma que o filme não esclarece nenhuma questão ambígua deixada pelo livro e pior, mais para o final, ele chega a ser ainda mais deprimente do que o livro. Flannery O’Connor deixou claro para a gente o destino de Sabath Hawks, a filha do pregador cego, e por mais que não gostemos do seu destino, ao menos é um final conclusivo. O filme deixa em aberto. E última cena do livro é ambígua o suficiente para deixar espaço para uma esperança calorosa, enquanto que o filme é tão realista que mina qualquer possibilidade de um sorriso ao final.

De qualquer forma, o humor negro continua presente. Os atores souberam captar de maneira surpreendente o carisma dos personagens que Flannery criou, dando a eles uma grande carga emocional. A adaptação fílmica ainda deixa certos detalhes da história mais poéticos, como os momentos de pregação de Hazel, sempre no mesmo lugar, de costas para uma placa de “JESUS SAVES” ou o afundamento de seu carro num lago, lembrando o ritual do batismo, abrindo espaço para a sua dolorosa conversão.

É um filme muito bom, que abre com o título “John Huston’s Wise Blood”. Apenas um diretor com uma veneração tão grande pelo material original que adapta poderia tomar para si o título da obra, pois ele realmente criou algo único, apesar de ser muito “fiel” ao original.

4 pontos

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Dica especial do dia da consciência negra

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Mais um ano, mais um dia da consciência negra e num ano com tantos filmes de super-heróis, o Sommelier de Tudo não poderia deixar de passar essa data sem a dica do filme do segundo herói negro a brilhar nos cinemas e o melhor de todos.

Blankman é a outra face de Darryl Walker, um genial, porém sem experiência social alguma vivendo em Nova Iorque, que inventa os mais bizarros e úteis aparelhos com sucata, mas nunca é reconhecido. Quando ele acidentalmente descobre um líquido que deixa as roupas à prova de bala, fogo e qualquer outro perigo, ele resolve que é hora de alguém dar um jeito na criminalidade cada vez maior que assola sua cidade.

Aqui temos uma formula de sucesso que foi repetida por muitos outros filmes após este, desde Kick Ass e Homem-Aranha até Batman e esse filme é de 1994, o ano que este que vos escreve nasceu.

É um filme extremamente influente.

O melhor de tudo é que veio das mentes brilhantes por trás de "As Branquelas", então é um filme com excelentes piadas de humor racial, causal e de duplo sentido, recheado ainda com muito nonsense e um romance que referencia o melhor romance da história dos quadrinhos (Superman e Louis Lane), mas de forma divertida e animada.

O filme é a paródia perfeita de filmes de super-heróis, vindo de uma época em que os filmes de super-heróis nem sonhavam em ser o que são hoje.

4 pontos

 

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Revolucionários de DCE querem ensinar o padre a rezar missa!

Com a eleição de Bolsonaro um movimento crescente se espalhou pela internet brasileira clamando por “Resistência” com slogans chamativos como “se fere minha existência, sou resistência”, “não se solta a mão de ninguém”, “sometimes antisocial, always antifascist” e afins...

Só posso rir.

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Antes de mais nada é importante deixar claro que esse é um blog de cunho pessoal, mesmo as dicas, por mais que eu tente me abster delas e indicar as obras/objetos/produtos da maneira mais neutra possível, são ainda dicas de coisas que eu experimente/testei/provei e gostei, portanto o blog inteiro é de cunho pessoal. Esse texto consiste, portanto, da opinião de um indivíduo, sinta-se livre para discordar, mas tenha em mente que eu parto de alguns pressupostos que considero muito reais, pois os apliquei em minha vida ao longo de mais de 20 anos de existência.

Vamos às pessoas que clamam por uma tal “resistência” primeiro. Em sua grande maioria consiste de alunos de universidade pública ou colégios particulares de ensino médio. Sei disso pois sou aluno de universidade pública, com amigos em universidades particulares, estagiário de escola pública de ensino fundamental e com amigos em idade escolar tanto em escolas públicas quanto particulares. O grosso dos que clamam pela tal “resistência” vêm de uma parcela muito provilegiada da população, são filhos de pessoas ricas o suficiente para sustentar filhos fora de casa ou pagar uma escola cara para eles.

Outra parcela é formada por professores universitários, os ditos intelectuais da nossa sociedade. Uma rápida pesquisa no portal da transparência já revela que nenhum desses professores podem se enquadrar no mesmo patamar que a vasta maioria de professores do país, senhores que assumem mais de 10 turmas na semana pra ganhar menos de 2 mil reais ao mês. Os que clamam por “resistência” são “nobres senhores” que entram numa universidade qualquer ganhando 10 mil reais e ainda deixam de dar aula pedindo reajuste.

E, por fim, não podemos nos esquecer dos nossos amigos sindicalistas, que são, literalmente, vampiros de trabalhadores. Passam o dia inteiro fumando, tomando café e jogando “Stardew Valley” nos computadores do sindicato (Sério, eu já vi essa cena!). Fazem reuniões semanais pra dizer baboseiras sem sentido e organizam greves que só prejudicam as pessoas de bem e nunca alcançam os poderosos que prejudicam a classe dos trabalhadores do país.

É essa classe de pessoa que quer nos ensinar sobre “resistência”. Agora criam imagens para facebook, pôsteres pra colar nos corredores de faculdades, pichações em muros no centro da cidade, fotos descoladas no instagram e camisetas pra vender no Mercado Livre.

Apesar do meu post de semana passada, sou uma pessoa que é muitas vezes encaixada na “direita” (conceito absurdo e que um dia vai virar post, talvez...) e, portanto, já sou parte de uma resistência muito maior e longeva do que esses mimados sem-noção possam imaginar.

Há quase 10 anos, desde que a modinha “Ateus X Religiosos” (e por religiosos leia-se católicos, porque pra turma de ateus dodóis budismo não é religião, muçulmanos são oprimidos e as religiões pagãs são libertadoras) começou, por volta de 2010, eu venho tomando mais consciência do meu lugar dentro da sociedade e das eternas lutas que lutamos, consolidando uma série de posições que não são muito populares, apesar de não representarem uma minoria.

Como já disse Taleb, minorias têm mais poder que maiorias num nível social na maioria dos casos1, e é o que acontece com católicos, tradicionalistas, liberais clássicos, empreendedores e conservadores no Brasil. Não são minoria, mas não alcançam as distâncias que as minorias percorrem na Guerra dos Discursos. É só ver, tem muito mais alcance um podcast das minorias como o AntiCast do que um podcast que fala pela maioria como o Café Brasil, um vídeo do Cauê Moura do que um vídeo do Mamãe Falei, uma notícia do Carta Capital do que uma d’O Antagonista, um discurso da Márcia Tiburi do que um do Sérgio Moro e por aí vai.

Não há problema nenhum nisso, obviamente, afinal é natural, mas o que acontece é que há uma retração desses pensamentos em todas as áreas de atuação social. Não somos incentivados a dizer que somos católicos em sala de aula, não aprendemos o que é a curva de demanada2, nem lemos Edmund Burke quando aprendemos sobre a Revolução Francesa e sequer ouvimos falar de “Arquipélago Gulag”.

O resultado é que pessoas como eu, que estão à direita de Max Weber, que escrevem Igreja com i maiúsculo, que sempre dão um jeito de citar Tocqueville num trabalho da universidade, que rabiscam “Lula na cadeia” na sacada da maconha, que apresentam contos de Nelson Rodrigues na aula de literatura, e que compram livros da É Realizações3 já somos resistência há muito tempo.

Somos resistência, porque temos que nadar contra a corrente de fato. Não acreditamos em revolução, nem guerra de classes, sabemos que o valor é subjetivo, não confiamos em governo algum e acreditamos em direitos naturais. Somos resistência contra a retaliação do espírito humano, contra o nivelamento social, contra a simplificação do pensamento, contra a relativização exacerbada, “contra tudo que há de ruim”, como diria Nelson Rodrigues.

Meia dúzia de mimados podem fazer muito barulho e não importa o quanto o Brasil melhore, enquanto o Bolsonaro estiver no poder, nunca estarão satisfeitos, porque são birrentos, simplesmente. Eles não estão lutando por uma causa, querem simplesmente #lacrar. Essa autoproclamada “resistência” é uma piada e nós, que já resistimos há muito tempo, vamos fazer o que sempre fazemos, seguir o conselho dos pinguins de Madagáscar.

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1 https://medium.com/incerto/the-most-intolerant-wins-the-dictatorship-of-the-small-minority-3f1f83ce4e15

2 https://pt.khanacademy.org/economics-finance-domain/microeconomics/supply-demand-equilibrium/demand-curve-tutorial/a/law-of-demand

3 https://www.erealizacoes.com.br/home

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Dica musical: “Safe in the Hands of Love” do Yves Tumor (2018)

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Nem sei como descobri esse CD, mas foi uma ótima surpresa.

Não conheço nada do Yves Tumor, só sei que ele é negro, faz umas músicas meio eletrônicas, meio rap e não tem cara de muitos amigos. O que importa é que ele lançou esse ano esse CDzinho que irei comentar aqui e indicar para vocês.

“Safe in the Hands of Love” é o seu primeiro CD e nos apresenta uma mistura de ritmos caótica que vai do R&B ao dubstep, incluindo rap, pop, house e mais o que ele conseguir e que acabou escapando dos meus ouvidos no meio. Procurando mais informações por ele na internet, acabei encontrando um monte de gente dizendo que ele captura o zeitgeist da nossa época em canções. Não sei nada quanto a isso, até porque duvido que essas matérias, que o descrevem como a voz dos millenials, tenha sido escrita por millenials, de fato. Ou seja, não sabem o que falam.

Mas enfim, o que importa é que Yves Tumor realmente nos apresenta um som que se aproxima de certas tendências que têm surgido e ganhado popularidade nos últimos anos, um som caótico, mas com melodias marcantes, indo do noise ao pop em poucos segundos numa mesma canção. Talvez o nome principal dessa tendência seja o Death Grips, que consegue ser chama a atenção de punks de cabeça raspada e rappers jogadores de basquete com cabelo black power.

Essa mistura (e diálogo), típicos dos dias em que vivemos, encontra realmente uma certa representação na música do Yves Tumor, que é caótica, barulhenta, mas harmoniosa, de certa forma. Além disso, suas letras tocam em temas típicos dos dias de hoje, como brutalidade policial, mas também em temas imortais, como o amor da pessoa amada.

Uma boa surpresa, de fato.

3 pontos e meio

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Dica cinematográfica: “Love and other cults” (2017)

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A dica de hoje é um filme japonês, que claramente se inspira no clássico do mestre japonês Sion Sono, “Love Exposure”.

“Love and other cults” é um filme que conta a história de Ai Shima, uma menina que nasceu numa família problemática e logo foi “adotada” por um grupo de fanáticos religiosos. O problema é que o grupo foi desmantelado por uma operação policial e Ai acab se perdendo no meio do Tóquio, onde encontra uma galera barra pesada e entra numa gangue. A partir daí, ela conhece Ryota Sakuma, um garoto que também teve uma infância complicada, mora na rua e narra toda a história. Ryota logo se apaixona por Ai, mas nunca consegue revelar esse amor por ela, que, afinal, nem acredita no amor, passando a trabalhar nas ruas pervertidas de Tóquio. Enquanto a improvável história de amor dos dois se desenvolve acompanhamos o crescimentos dos outros jovens membros da gangue que Ryota participa, em especial Kenta, que através do amor descobre uma nova vocação.

O filme, dirigido e escrito por Eiji Ushida parece ter se inspirado no cinema do Sion Sono, mas eu não tenho certeza se essa visão é a de um ocidental que não acompanha de perto o cinema japonês. O motivo de eu achar isso é simplesmente a forma bizarra como a narrativa é guiada. Temos várias histórias se entrelaçando, um narrador que não nos apresenta os fatos em ordem cronológica, muitas situações surreais e diálogos impossíveis de existir na vida real.

Além disso, temos ainda uma cuidadosa atenção ao aspecto estético do filme, deixando-o de um jeito limpo, mas carregado de informação, ficando bem estiloso. Apenas imagine uma porrada de garotos com roupas estilosas, acessórios, tudo bem colorido, mas sem destoar, bem harmonioso, enfim... parece que os personagens saíram das páginas da Popeye.

Tudo isso é bem característico do Sion Sono e se não fosse a ausência de sangue, seria também do Takashi Miike, então não sei se é uma obra influenciada por Sion Sono mesmo ou apenas um característico exemplo do atual cinema japonês, que vê em Tóquio uma cidade mitológica, onde o passado foi consumido pelo futuro e a arte é a válvula de escape para a mitologia poder se misturar com o visual futurista da cidade grande.

Enfim, “Love and Other Cults” é um bom filme, com muita informação, imagens pra lá de estilosas e muitas bizarrices no melhor estilo japonês.

4 pontos

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Suas definições de imbecilidade foram atualizadas.

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Nas últimas semanas uma das maiores imbecilidades que esse país já viu começou a ser propagada por todas as direções, encontrando defensores dos mais diferentes tipos, que é o tal da Escola Sem Partido.

Mas antes de prosseguirmos com a argumentação, é importante deixar claro a que me refiro quando falo em “imbecilidade”, pois isso pode gerar certa confusão.

De acordo com o Michaelis1, imbecilidade é:

1 – Qualidade ou condição de imbecil;

2 – Ato ou dito imbecil; fora da realidade, absurdo ou ilógico;

3 – Ato ou dito que demonstra pouca inteligência, perspicácia ou criatividade; necedade, tolice.

Vamos nos ater ao segundo significado, que define imbecilidade como um ato fora da realidade, ilógico para poder debater o tema, pois é exatamente disso que o Escola Sem Partido trata.

Na página do projeto2, podemos ler a seguinte declaração, após a apresentação dos 6 deveres que todo professor deve seguir:

“Esses deveres já existem, pois decorrem da Constituição Federal e da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Isto significa que os professores já são obrigados a respeitá-los ‒ embora muitos não o façam (...) Portanto, o único objetivo do Programa Escola sem Partido é informar e conscientizar os estudantes sobre os direitos que correspondem àqueles deveres, a fim de que eles mesmos possam exercer a defesa desses direitos, já que dentro das salas de aula ninguém mais poderá fazer isso por eles.”

O grifo é meu e nele já encontramos o principal problema do Escola Sem Partido, pois é um caso claro do que é chamado de Falácia da Generalização Apressada3, ou seja, assume-se uma premissa insuficiente para garantir uma conclusão.

No caso, assume-se que muitos professores não respeitam suas obrigações de pluralismo opinativo em sala de aula e, por causa disso, é necessário o surgimento de um programa para garantir que essas obrigações sejam cumpridas. No entanto, seria interessante que o programa nos indicasse em números quantos professores cometem tal barbaridade. Sabemos que são muitos, mas muitos quanto?

Como aluno de universidade pública já enfrentei casos de doutrinação ideológica em sala de aula, mas não diria que são muitos, afinal num departamento com mais de 10 professores, um que faça doutrinação ideológica não me parece “muito”. Já nos diz o Michaelis4 que “muito” é “em grande quantidade, exagerado ou excessivo”, sinônimo de demasiado.

Considero um exagero por parte dos defensores do Escola Sem Partido que tomem a atuação de alguns péssimos professores como uma classificação para toda uma classe que é desunida o suficiente para que uma classificação como “Esquerdista” seja inválida.

Como dito nessa entrevista (feita por um conservador, de verdade), apenas alguém sem experiência em sala de aula pode achar que há uma "infiltração de esquerda" dentro do ambiente acadêmico.

Alguns defensores do Escola Sem Partido dizem-se também “liberais”, mas não sei que tipo de liberal é esse que pede intervenção estatal no que as crianças estão aprendendo na escola. Não deveriam eles defender a liberdade máxima de ensino como grandes liberais do século passado (Rothbard, Hayek e Friedman, para citar apenas alguns) fizeram?

Afinal a liberdade é um recurso escasso e deve ser preservada. Professores já vivem constantemente presos às amarras do Estado e, definitivamente, não precisam de mais disso.

Outros ditos “conservadores”, parecem ter se esquecido de Edmund Burke e acabam incentivando uma atitude Orwelliana, digna do Totalitarismo Tecnocrático Chinês (leia-se "filmar o professor").

Aí o sabichão que escreve num site que respeito muito vai lá e pergunta: “Qual o problema, se você é um bom professor?”5

O problema é simples, meu bom, você acaba de cometer a Falácia do Petitio Principii6 que diz que uma conclusão é usada como suporte para a premissa. No caso, um professor não tem nada para esconder não precisa se preocupar em ser filmado. Esquecem que isso pode acarretar uma série de problemas, principalmente com relação a privacidade desse indivíduo e sua liberdade de salvaguardar sua imagem.

O ensino não deve ser partidário e quem cuida da educação das pessoas são os pais ou familiares, não o professor. Mas nenhum projeto de lei pode garantir isso, pois já bem nos ensinou Bastiat em “A Lei”7, a lei só funciona através do uso da força, afetando diretamente nossa liberdade.

A imprecisão das leis que fazem parte do Escola Sem Partido abre ainda a possibilidade para atos contraproducentes no ambiente escolar. Se eu só posso ensinar a matéria, então não posso fazer piadas? E se eu preparar um plano de aula para o curso de inglês utilizando o material do Khan Academy sobre a curva de demanda, estarei doutrinando os meus alunos? Estão minando qualquer possibilidade de melhoria na relação aluno-professor, que já é precária no Brasil ao destruir as possibilidades criativas de discurso em sala de aula.

Além de ilógico, o Programa Escola Sem Partido é anti-liberal.

1 https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/imbecilidade/

2 https://www.programaescolasempartido.org/

3 http://falaciasonline.wikidot.com/generalizacao-apressada

4 https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/muito/

5 http://www.portalcafebrasil.com.br/iscas-intelectuais/posso-gravar-a-sua-aula-professor/

6 http://falaciasonline.wikidot.com/clamando-pela-questao

7 https://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=17

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Dica literária: “Wise Blood” de Falnnery O'Connor (1952)

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De acordo com a escrita do livro, Flannery O’Connor, esse livro foi escrito com grande entusiasmo e é com grande entusiasmo que esse livro deve ser lido e foi com grande entusiasmo que eu li esse livro.

Seguimos Hazel Motes, um jovem rapaz que volta da guerra para sua casa no interior do sul dos EUA e descobre que não sobrou ninguém na antiga cidade onde morava, então ele compra um terno novo, um chapéu e vai para uma cidade grande, a fictícia Taulkinham. Por causa de seu novo chapéu, Hazel é confundido com um pastor de igreja e então ele revela todo o seu ódio da religião, com raízes na sua criação como filho de um pastor. De saco cheio das pessoas confundirem ele e para desafiar um pregador cego, Hazel decide fundar a “Igreja Sem Cristo”.

Junto com Hazel Motes acompanhamos outros personagens nessa narrativa leve, bem montada e harmoniosa, com um toque de humor negro e muita profundidade religiosa.

O livro é muitas vezes vendido com um livro bem-humorada, mas esse é o meu primeiro ponto de divergência, porque o livro é todo constituído por um humor negro, fruto da ironia com a qual Flannery trata os seus personagens desajustados. Esse humor negro acaba dando ao livro e suas diversas passagens inspiradas um tom melancólico, quase deprimente, como no caso das passagens envolvendo Enoch Emmery, um garoto de 18 anos, perdido na cidade e que se aproxima de Hazel. Por causa de sua solidão, Enoch acaba se alienando e compromete-se numa série de ações impensadas, resultando numa inesperada e cruel reviravolta.

Flannery era uma devota católica, passou a vida inteira no sul dos EUA, uma região religiosa, mas de minoria católica e, provavelmente por isso, ela não perdoa em sua direção dos eventos contados no livro. O final é igualmente cruel e confuso, mas não irônico, pois é intencionalmente ambíguo, como a própria autora revelou em entrevistas.

O livro é também resultado de um longo trabalho de união de fragmentos e percebemos isso em alguns capítulos dispersos, que não contribuem diretamente para a narrativa de Hazel Motes, mas contribuem para a intenção do livro. Intenção essa que não ficou clara para mim e me deixou um pouco decepcionado, confesso, pois comprei o livro quase por impulso, sabendo que Flannery era católica e tendo lido um conto dela (talvez o seu mais famoso, “A good man is hard to find”), esperando uma bela história de redenção a-lá Dostoiévsky, mas me deparo com uma obra do modernismo tardio, recheada de ironia, nebulosa e sinistra, com uma ambiguidade religiosa que perturba.

Ainda assim é dica e por quê? Simples, porque Flannery O’Connor é uma baita duma escritora e a ambiguidade de sua obra abre espaço para uma ampla gama de interpretações que podem muito bem servir para qualquer um. Sua crítica às diversas instituições religiosas por aí, igrejas de esquina, que só se preocupam com o dinheiro é um soco no estômago de muita gente. Sua acidez ao tratar do ateísmo, embora nunca use essa palavra, mas todos sabemos de qual atitude ela está falando, é mordaz. E o caminho que ela traça para a Salvação é um só, é o caminho milenar da Igreja, que pode perturbar, mas a Verdade é dura de se escutar.

Quem não vem pelo amor, vem pela dor.

Sem contar ainda que ela escreve muito bem. Como já disse, a leitura é leve, progride rapidamente, suas descrições são gostosas de ler, seus diálogos, apesar de estranhos, revelam o nível de alienação de seus personagens e tudo isso exalta o humor negro da obra, que foi muito bem escrita.

É dessa forma que concluo a dica de um livro muito bom e que merece ser lido, apesar dos pesares.

4 pontos

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Dica cinematográfica: “No quarto escuro de Satã” (1972)

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Ou “Il tuo vizio è uma stanza chiusa e solo io ho ne la chiave”, título maravilhoso para um filme mais maravilhoso ainda.

Adaptação livre de “Black Cat” do Poe, o filme conta a história de Oliviero, um escrito falido que mora com a esposa, Irene, numa villa em Venetto e o gato deles, Satana. Com a morte de sua amante, Oliviero se torna o principal suspeito do crime e quando a empregada de sua casa também morre, o escritor se desespera e, com a ajuda de sua mulher, esconde o corpo da empregada numa parede da casa. Pouco tempo depois a sobrinha de Oliviero chega, Floriana, causando desordem da frágil relação construída.

O filme é um ótimo exemplo de giallo, contendo todos os elementos numa adaptação muito criativa de um clássico. Li por aí que o diretor é um mestre do cinema italiano, pelo menos dentro do giallo, mas posso atestar quanto a isso. De qualquer forma, o filme carrega todos os elementos que consagraram o gênero, mistério, muito sangue e, claro, belíssimas mulheres!

Edwige Fenech está fantástica nesse filme, usando um corte de cabelo curtíssimo, porém extremamente charmoso, vestindo saias curtas exuberantes e exibindo toda sua beleza natural explicitamente diante das câmeras. O sangue é vibrante, do estilo que era feito naquela época para chamar bastante a atenção, bem característico e mesmo sendo uma adaptação de “Black Cat”, o filme ainda conseguiu me surpreender com seu final.

A direção é realmente muito boa, nos colocando no papel de um espectador impotente quanto ao que está acontecendo, somos nada mais do que voyeurs, como a maioria dos filmes giallo por aí. A trilha sonora, composta de músicas de rock da época, anima o filme e dá uma qualidade nostálgica a ele.

No final, “No quarto escuro de Satã” peca apenas pelo seu tamanho. O filme acaba se estendendo demasiadamente em alguns momentos e isso cansa um pouco o espectador. De qualquer forma, o esforço tomado compensa, principalmente pela sequência final.

4 pontos e meio

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Dica teórica: “The Way of Men” de Jack Donovan (2012)

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Estrelando uma nova dica no blog (pois percebi que esses livros não podem ser inseridos junto com os livros de literatura que leio e indico por aqui) mais uma dica de livro que pode não ser tão bem visto e eu mesmo tenho minhas críticas, mas é uma ótima adição à discussão a que se propõe fazer.

“The Way of Men” é um livro lançado em 2012, escrito por Jack Donovan, um controverso escritor dos EUA, mas que reuniu nesse livro diversos pontos sobre a masculinidade que merece ser reconhecido. Em “The Way of Men”, Donovan propõe-se a encontrar o “caminho dos homens”, explicar o que é isso e qual a importância disso na sociedade atual.

O livro explora questões delicadas sobre a masculinidade e busca respostas em uma série de artigos, livros, documentos e estudos sobre o tema. Desde questões mais subjetivas, como a forma como a masculinidade é tratada por diversas culturas, através do tempo; até questões mais científicas, como questões biológicas do corpo masculino.

A tese que Donovan defende é de o caminho do homem é o caminho do grupo. Todo homem se encaixa dentro de um grupo pequeno de outros homens e esse grupo é parte necessária da sua vida e o que define a sua masculinidade. A masculinidade é regida por 4 virtudes, que são colocadas a prova dentro do grupo em que o homem pertence. Essas virtudes não são morais, como Donovan defende: a força, a coragem, a maestria e a honra.

Definidos esses pontos, Donovan parte para a defesa dessa tese com base na mitologia, estudos sociais e biológicos, fazendo uso de comparações que vão da Fundação de Roma até os grupos de macacos Bonobo.

É um livro muito bom.

No entanto, sua abordagem excessivamente defensiva incomoda. A todo momento, o livro levanta críticas e já as derruba, sempre colocando-se um passo à frente dos supostos críticos. Essa atitude acaba cobrindo boas partes do livro, que poderiam ser utilizadas para explorar mais as questões abordadas no livro. Donovan é um grande admirador do Brett Mckay (que eu também admiro muito), mas em nenhum momento de sua escrita Brett assume a posição defensiva de Donovan. A mesma coisa acontece com Robert Bly e Moore e Gillette. Para se falar de masculinidade, não precisa se defender, afinal, se você tem tanta certeza do que fala, as críticas se consumirão por si só.

Outra diferença entre Donovan e esses outros grandes autores sobre masculinidade é que Donovan assume uma postura apocalíptica nesse livro. Mesmo quando ele chega no final e aborda alternativas para que os homens possam seguir, ele não é direto ao ponto e sua argumentação, consistente até então, torna-se rasa.

Ainda assim, achei interessante encontrar uma similaridade muito grande com outros grandes livros sobre a masculinidade, como “Iron John” e “King, Warrior, Magician, Lover”. As virtudes que Donovan descreve se relacionam perfeitamente com os arquétipos masculinos e a abordagem do caminho do homem como o caminho do grupo vai de encontro com a argumentação de Bly ao dizer que o problema da masculinidade hoje em dia é a falta da iniciação, que depende, exclusivamente, de outros homens.

E é bem por aí... o caminho do homem é o caminho do grupo. Precisamos de um grupo de homens para sermos homem, o caminho do homem é um caminho de construção infinita. Você não nasce um homem, muito menos se torna um. Você cresce e entra no grupo de homens e só o tempo e o reconhecimento dos pares irá dizer que tipo de homem você é.

3 pontos e meio