quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Dica cinematográfica: “Wise Blood” (1979)

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E agora a adaptação do livro que me deixou cismado por muito tempo. Sua adaptação não melhora em nada a pulga que o livro deixa atrás da nossa orelha, muito pelo contrário.

O filme conta a mesma história do livro. Hazel Motes retorna da guerra e descobre sua cidade natal abandonada, então decide comprar um terno, um chapéu e ir para uma cidade diferente. Lá ele é confundido com um pastor de igreja por causa de seu chapéu e para provocar um pregador cego, cria a “Igreja Sem Cristo”.

O filme é uma adaptação “perfeita” do livro. Entre aspas, pois ele é uma adaptação literal praticamente, o que é considerado por muita gente como um fator decisivo para classificar se uma adaptação é boa ou não. Em alguns momentos, o filme chega a usar falas diretas do livro, o que aumenta a familiaridade do leitor numa escala impensável.

E é dessa forma que o filme não esclarece nenhuma questão ambígua deixada pelo livro e pior, mais para o final, ele chega a ser ainda mais deprimente do que o livro. Flannery O’Connor deixou claro para a gente o destino de Sabath Hawks, a filha do pregador cego, e por mais que não gostemos do seu destino, ao menos é um final conclusivo. O filme deixa em aberto. E última cena do livro é ambígua o suficiente para deixar espaço para uma esperança calorosa, enquanto que o filme é tão realista que mina qualquer possibilidade de um sorriso ao final.

De qualquer forma, o humor negro continua presente. Os atores souberam captar de maneira surpreendente o carisma dos personagens que Flannery criou, dando a eles uma grande carga emocional. A adaptação fílmica ainda deixa certos detalhes da história mais poéticos, como os momentos de pregação de Hazel, sempre no mesmo lugar, de costas para uma placa de “JESUS SAVES” ou o afundamento de seu carro num lago, lembrando o ritual do batismo, abrindo espaço para a sua dolorosa conversão.

É um filme muito bom, que abre com o título “John Huston’s Wise Blood”. Apenas um diretor com uma veneração tão grande pelo material original que adapta poderia tomar para si o título da obra, pois ele realmente criou algo único, apesar de ser muito “fiel” ao original.

4 pontos