sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Suas definições de imbecilidade foram atualizadas.

Escola_sem_partido

Nas últimas semanas uma das maiores imbecilidades que esse país já viu começou a ser propagada por todas as direções, encontrando defensores dos mais diferentes tipos, que é o tal da Escola Sem Partido.

Mas antes de prosseguirmos com a argumentação, é importante deixar claro a que me refiro quando falo em “imbecilidade”, pois isso pode gerar certa confusão.

De acordo com o Michaelis1, imbecilidade é:

1 – Qualidade ou condição de imbecil;

2 – Ato ou dito imbecil; fora da realidade, absurdo ou ilógico;

3 – Ato ou dito que demonstra pouca inteligência, perspicácia ou criatividade; necedade, tolice.

Vamos nos ater ao segundo significado, que define imbecilidade como um ato fora da realidade, ilógico para poder debater o tema, pois é exatamente disso que o Escola Sem Partido trata.

Na página do projeto2, podemos ler a seguinte declaração, após a apresentação dos 6 deveres que todo professor deve seguir:

“Esses deveres já existem, pois decorrem da Constituição Federal e da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Isto significa que os professores já são obrigados a respeitá-los ‒ embora muitos não o façam (...) Portanto, o único objetivo do Programa Escola sem Partido é informar e conscientizar os estudantes sobre os direitos que correspondem àqueles deveres, a fim de que eles mesmos possam exercer a defesa desses direitos, já que dentro das salas de aula ninguém mais poderá fazer isso por eles.”

O grifo é meu e nele já encontramos o principal problema do Escola Sem Partido, pois é um caso claro do que é chamado de Falácia da Generalização Apressada3, ou seja, assume-se uma premissa insuficiente para garantir uma conclusão.

No caso, assume-se que muitos professores não respeitam suas obrigações de pluralismo opinativo em sala de aula e, por causa disso, é necessário o surgimento de um programa para garantir que essas obrigações sejam cumpridas. No entanto, seria interessante que o programa nos indicasse em números quantos professores cometem tal barbaridade. Sabemos que são muitos, mas muitos quanto?

Como aluno de universidade pública já enfrentei casos de doutrinação ideológica em sala de aula, mas não diria que são muitos, afinal num departamento com mais de 10 professores, um que faça doutrinação ideológica não me parece “muito”. Já nos diz o Michaelis4 que “muito” é “em grande quantidade, exagerado ou excessivo”, sinônimo de demasiado.

Considero um exagero por parte dos defensores do Escola Sem Partido que tomem a atuação de alguns péssimos professores como uma classificação para toda uma classe que é desunida o suficiente para que uma classificação como “Esquerdista” seja inválida.

Como dito nessa entrevista (feita por um conservador, de verdade), apenas alguém sem experiência em sala de aula pode achar que há uma "infiltração de esquerda" dentro do ambiente acadêmico.

Alguns defensores do Escola Sem Partido dizem-se também “liberais”, mas não sei que tipo de liberal é esse que pede intervenção estatal no que as crianças estão aprendendo na escola. Não deveriam eles defender a liberdade máxima de ensino como grandes liberais do século passado (Rothbard, Hayek e Friedman, para citar apenas alguns) fizeram?

Afinal a liberdade é um recurso escasso e deve ser preservada. Professores já vivem constantemente presos às amarras do Estado e, definitivamente, não precisam de mais disso.

Outros ditos “conservadores”, parecem ter se esquecido de Edmund Burke e acabam incentivando uma atitude Orwelliana, digna do Totalitarismo Tecnocrático Chinês (leia-se "filmar o professor").

Aí o sabichão que escreve num site que respeito muito vai lá e pergunta: “Qual o problema, se você é um bom professor?”5

O problema é simples, meu bom, você acaba de cometer a Falácia do Petitio Principii6 que diz que uma conclusão é usada como suporte para a premissa. No caso, um professor não tem nada para esconder não precisa se preocupar em ser filmado. Esquecem que isso pode acarretar uma série de problemas, principalmente com relação a privacidade desse indivíduo e sua liberdade de salvaguardar sua imagem.

O ensino não deve ser partidário e quem cuida da educação das pessoas são os pais ou familiares, não o professor. Mas nenhum projeto de lei pode garantir isso, pois já bem nos ensinou Bastiat em “A Lei”7, a lei só funciona através do uso da força, afetando diretamente nossa liberdade.

A imprecisão das leis que fazem parte do Escola Sem Partido abre ainda a possibilidade para atos contraproducentes no ambiente escolar. Se eu só posso ensinar a matéria, então não posso fazer piadas? E se eu preparar um plano de aula para o curso de inglês utilizando o material do Khan Academy sobre a curva de demanda, estarei doutrinando os meus alunos? Estão minando qualquer possibilidade de melhoria na relação aluno-professor, que já é precária no Brasil ao destruir as possibilidades criativas de discurso em sala de aula.

Além de ilógico, o Programa Escola Sem Partido é anti-liberal.

1 https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/imbecilidade/

2 https://www.programaescolasempartido.org/

3 http://falaciasonline.wikidot.com/generalizacao-apressada

4 https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/muito/

5 http://www.portalcafebrasil.com.br/iscas-intelectuais/posso-gravar-a-sua-aula-professor/

6 http://falaciasonline.wikidot.com/clamando-pela-questao

7 https://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=17