sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Revolucionários de DCE querem ensinar o padre a rezar missa!

Com a eleição de Bolsonaro um movimento crescente se espalhou pela internet brasileira clamando por “Resistência” com slogans chamativos como “se fere minha existência, sou resistência”, “não se solta a mão de ninguém”, “sometimes antisocial, always antifascist” e afins...

Só posso rir.

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Antes de mais nada é importante deixar claro que esse é um blog de cunho pessoal, mesmo as dicas, por mais que eu tente me abster delas e indicar as obras/objetos/produtos da maneira mais neutra possível, são ainda dicas de coisas que eu experimente/testei/provei e gostei, portanto o blog inteiro é de cunho pessoal. Esse texto consiste, portanto, da opinião de um indivíduo, sinta-se livre para discordar, mas tenha em mente que eu parto de alguns pressupostos que considero muito reais, pois os apliquei em minha vida ao longo de mais de 20 anos de existência.

Vamos às pessoas que clamam por uma tal “resistência” primeiro. Em sua grande maioria consiste de alunos de universidade pública ou colégios particulares de ensino médio. Sei disso pois sou aluno de universidade pública, com amigos em universidades particulares, estagiário de escola pública de ensino fundamental e com amigos em idade escolar tanto em escolas públicas quanto particulares. O grosso dos que clamam pela tal “resistência” vêm de uma parcela muito provilegiada da população, são filhos de pessoas ricas o suficiente para sustentar filhos fora de casa ou pagar uma escola cara para eles.

Outra parcela é formada por professores universitários, os ditos intelectuais da nossa sociedade. Uma rápida pesquisa no portal da transparência já revela que nenhum desses professores podem se enquadrar no mesmo patamar que a vasta maioria de professores do país, senhores que assumem mais de 10 turmas na semana pra ganhar menos de 2 mil reais ao mês. Os que clamam por “resistência” são “nobres senhores” que entram numa universidade qualquer ganhando 10 mil reais e ainda deixam de dar aula pedindo reajuste.

E, por fim, não podemos nos esquecer dos nossos amigos sindicalistas, que são, literalmente, vampiros de trabalhadores. Passam o dia inteiro fumando, tomando café e jogando “Stardew Valley” nos computadores do sindicato (Sério, eu já vi essa cena!). Fazem reuniões semanais pra dizer baboseiras sem sentido e organizam greves que só prejudicam as pessoas de bem e nunca alcançam os poderosos que prejudicam a classe dos trabalhadores do país.

É essa classe de pessoa que quer nos ensinar sobre “resistência”. Agora criam imagens para facebook, pôsteres pra colar nos corredores de faculdades, pichações em muros no centro da cidade, fotos descoladas no instagram e camisetas pra vender no Mercado Livre.

Apesar do meu post de semana passada, sou uma pessoa que é muitas vezes encaixada na “direita” (conceito absurdo e que um dia vai virar post, talvez...) e, portanto, já sou parte de uma resistência muito maior e longeva do que esses mimados sem-noção possam imaginar.

Há quase 10 anos, desde que a modinha “Ateus X Religiosos” (e por religiosos leia-se católicos, porque pra turma de ateus dodóis budismo não é religião, muçulmanos são oprimidos e as religiões pagãs são libertadoras) começou, por volta de 2010, eu venho tomando mais consciência do meu lugar dentro da sociedade e das eternas lutas que lutamos, consolidando uma série de posições que não são muito populares, apesar de não representarem uma minoria.

Como já disse Taleb, minorias têm mais poder que maiorias num nível social na maioria dos casos1, e é o que acontece com católicos, tradicionalistas, liberais clássicos, empreendedores e conservadores no Brasil. Não são minoria, mas não alcançam as distâncias que as minorias percorrem na Guerra dos Discursos. É só ver, tem muito mais alcance um podcast das minorias como o AntiCast do que um podcast que fala pela maioria como o Café Brasil, um vídeo do Cauê Moura do que um vídeo do Mamãe Falei, uma notícia do Carta Capital do que uma d’O Antagonista, um discurso da Márcia Tiburi do que um do Sérgio Moro e por aí vai.

Não há problema nenhum nisso, obviamente, afinal é natural, mas o que acontece é que há uma retração desses pensamentos em todas as áreas de atuação social. Não somos incentivados a dizer que somos católicos em sala de aula, não aprendemos o que é a curva de demanada2, nem lemos Edmund Burke quando aprendemos sobre a Revolução Francesa e sequer ouvimos falar de “Arquipélago Gulag”.

O resultado é que pessoas como eu, que estão à direita de Max Weber, que escrevem Igreja com i maiúsculo, que sempre dão um jeito de citar Tocqueville num trabalho da universidade, que rabiscam “Lula na cadeia” na sacada da maconha, que apresentam contos de Nelson Rodrigues na aula de literatura, e que compram livros da É Realizações3 já somos resistência há muito tempo.

Somos resistência, porque temos que nadar contra a corrente de fato. Não acreditamos em revolução, nem guerra de classes, sabemos que o valor é subjetivo, não confiamos em governo algum e acreditamos em direitos naturais. Somos resistência contra a retaliação do espírito humano, contra o nivelamento social, contra a simplificação do pensamento, contra a relativização exacerbada, “contra tudo que há de ruim”, como diria Nelson Rodrigues.

Meia dúzia de mimados podem fazer muito barulho e não importa o quanto o Brasil melhore, enquanto o Bolsonaro estiver no poder, nunca estarão satisfeitos, porque são birrentos, simplesmente. Eles não estão lutando por uma causa, querem simplesmente #lacrar. Essa autoproclamada “resistência” é uma piada e nós, que já resistimos há muito tempo, vamos fazer o que sempre fazemos, seguir o conselho dos pinguins de Madagáscar.

giphy

1 https://medium.com/incerto/the-most-intolerant-wins-the-dictatorship-of-the-small-minority-3f1f83ce4e15

2 https://pt.khanacademy.org/economics-finance-domain/microeconomics/supply-demand-equilibrium/demand-curve-tutorial/a/law-of-demand

3 https://www.erealizacoes.com.br/home