quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Dica cinematográfica: Phase IV de Saul Bass (1974)

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Saul Bass foi um gênio do design gráfico, responsável por criar o letreiramento e identidade visual de clássicos do cinema como The Man with the Golden Arm e Vertigo. Seu espírito criativo o tornou figura essencial para a história do cinema, mas ele também nos deixou um filme: eis que a dica de hoje é o clássico Phase IV.

Após um alinhamento planetário acidentes envolvendo formigas inteligentes começam a pipocar nos EUA. Dois cientistas se dispõem a investigar um caso de formigas no meio do deserto que fez uma cidade inteira ser esvaziada. A partir daí eles passam a interagir com elas, expondo-se a riscos cada vez maiores numa guerra que parece ser muito maior do que eles esperavam.

Mesclando ficção científica com horror, o filme é uma obra magnífica. Seguindo uma narrativa linear, muito clara e bem estrutura, ele não deixa falhas. Não há pontas soltas no filme, que consegue prender sua atenção do começo ao fim, mesmo com as explicações científicas cheia de termos técnicos.

O final é aberto e abre espaço pra uma ampla especulação, mas esse é um dos pontos altos do filme. Dessa forma, o primeiro e único filme de Saul Bass termina numa nota crescente que impressiona o espectador que vai sem expectativas encarar essa belezura.

E belezura é o melhor adjetivo para Phase IV. O filme é muito bem trabalhado na questão estética. Se formos analisar do ponto de vista Burkeano, esse filme é um primor do sublime. Logo no começo, intercalando uma cena fantástica de planetas se alinhando com uma cena explorando as atividades ordenadas de seres minúsculos, já temos uma pequena amostra de sua grandiloquência. Saul Bass foi detalhista e criou uma obra de uma beleza inigualável. Ainda mais se considerarmos a época em que foi feita.

Em suma, Phase IV é uma obra obrigatória para todos os fãs de ficção científica. Sua mescla com o horror é ainda garantia de que irá agradar a outros públicos e impressiona a todos que forem ver o filme de mente aberta.

5 pontos

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Dica teórica: Contra o Aborto de Francisco Razzo (2018)

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Terminei de ler esse livro num final de semana tamanha a qualidade que ele carrega.

Contra o Aborto é a segunda obra do filósofo Francisco Razzo e o seu título é autoexplicativo. O livro se propõe a ser um ataque ao aborto e é exatamente isso que ele faz, no entanto, de uma maneira elegante e dialética.

A obra se inicia com uma explicação de seus conceitos. Já que se trata de uma obra de cunho filosófico, é de se esperar que seja uma leitura difícil, mas Razzo manteve-se o mais próximo possível de uma linguagem coloquial, embora seus argumentos pertençam a escola ética de filosofia. Nessa obra, Razzo também assume, de antemão, uma postura polêmica, ao considerar moral e ética a mesma coisa. Isso pode gerar controvérsias dentro do mundo filosófico acadêmico. A escolha, como o própria admite, foi feita para facilitar o entendimento do leitor, ainda assim pode atrapalhar aqueles filósofos mais cri-cris.

Após isso, o livro expõe uma série de respostas a argumentos a favor da vida, quebrando cada parede colocada por aqueles que defendem o aborto, destruindo toda a construção que se criou ao redor desse tema nos últimos anos, em especial no Brasil, embora o tema seja universal. Finalizando o livro, Razzo explica por que ser contra o aborto, partindo da concepção de pessoa.

O livro é bom demais, não apenas por tratar de um tema polêmico, cercado de concepções errôneas e, provado pelo próprio livro, que não é debatido de fato. O livro é bom pela sua linguagem, a extensa lista de leituras secundárias no final (também filosóficas, objetivas e algumas apresentando dados empíricos) e sua argumentação sólida. É difícil discordar de Razzo quando se adentra esse excelente livro.

Não tema o seu título, crie coragem e leia-o, porque vale muito a pena.

5 pontos

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Dica musical: Starlight do Monster Rally (2018)

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E na surdina, o Monster Rally lança mais uma pérola.

Starlight é sua mais nova obra. Um EP consistindo de 4 músicas que mesclam elementos sonoros orientais com batidas ocidentais que lembram o hip hop old school das ruas sujas do Harlem. Tudo isso com um toque de Califórnia que só o Monster Rally consegue incluir em suas músicas.

Nas últimas dicas que fiz de seus álbuns reforcei que o Monster Rally é um criador de EP’s muito melhor do que de álbuns. Enquanto que nos ábuns, as músicas vão se tornando repetitivas e cansativas, nos EP’s elas deixam aquele gostinho de quero mais que nos faz retornar várias e várias vezes para eles.

Quando não deixam o gostinho de quero mais, nos deixam satisfeitos e Starlight é um EP para satisfazer. O ritmo ocidental, guiado por elementos orientais conta com uma mixagem lo-fi, a qual faz parecer que estamos ouvindo um LP antigo. É possível também notar a busca por alternativas. Esse EP parece explorar elementos da música africana e do oriente médio, gerando uma mescla ainda mais eclética do que já tínhamos visto nos últimos lançamentos de Ted Feighan (o gênio por trás do Monster Rally).

No geral, o EP não chega a 15 minutos em sua totalidade, mas vale muito a pena ouvir. Suas canções breves criam uma atmosfera relaxante e vívida. Você irá se sentir numa praia paradisíaca.

4 pontos e meio

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Dica cinematográfica: “Trump @War” (2018)

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Com um ano de administração na Casa Branca, Barack Obama ganhou o prêmio Nobel da Paz simplesmente por ser o primeiro presidente negro dos EUA. Sendo assim, com dois anos de administração, já é seguro fazer o balanço de Donald J. Trump no comando dos EUA e foi para corresponder a essa missão que Stephen “Steve” Bannon criou esse documentário, disponível de graça no Youtube.

O documentário, de pouco mais de 1 hora começa com as declarações de guerra ao sr. Trump por parte de jornalistas, comediantes, artistas e líderes de movimentos sociais nos EUA. As imagens são recheadas de violência, tanto verbal quanto física, mostrando que não são atos dispersos, mas orquestrados, vindos de um pensamento que desce todas as camadas sociais, das elites política e artística até o povão que vai pra rua protestar. É saindo desse panorama dividido que Bannon inicia o documentário de fato, mostrando os fatos e suas consequências, começando em 2008, com o início da administração Obama.

Após dois mandatos, a situação americana ia de mal a pior, altas taxas de desemprego, um descaso com as comunidades periféricas (negros e latinos), uma política externa covarde e um enfoque em medidas que não se relacionavam com a realidade vivida pelo país, tudo isso mascarado pelos dois grandes centros urbanos a leste e oeste (Nova Iorque e Los Angeles). Usando esse cenário como escada, Trump lança sua candidatura e busca falar com quem se encontra no meio de tudo isso e estava sendo esmagado por uma narrativa falaciosa.

Trump contraria todas as expectativas e vai para estados que eram conhecidos pelo apoio aos democratas (partido rival ao dele), ganha apoio da população, se aproxima das pessoas, dos micro e pequenos empresários, dos trabalhadores braçais e o resultado nós já sabemos.

Foi surpreendente.

A partir daí o documentário nos mostra os resultados de sua administração. Logo após o primeiro ano, a taxa de desemprego é uma das menores do país, seu sucesso como um legítimo conservador só é comparado a Ronald Reagan, acarretando numa melhora de vida para todos os setores da sociedade, inclusive os mais pobres, os negros, os latinos e os imigrantes legais. De educação e saúde até formas de entretenimento, de repente, por causa de políticas que desburocratizam os processos governamentais, diminuem os impostos e retiram o governo da frente da livre iniciativa das pessoas, tudo fica ao alcance do povo.

Além disso, sua guerra ao terror se mostra muito mais efetiva do que qualquer atitude da administração Bush e, obviamente, melhor que a atitude complacente da administração Obama. Somos apresentados a números concretos que indicam o enfraquecimento do ISIS no Oriente Médio.

Sua política externa é uma das melhores que os EUA já viu, pondo um fim a ameaças reais contra todo tipo de liberdade no mundo.

Em suma, a administração Trump anda uma maravilha, mas ainda assim reclamam e continuarão reclamando, pois como foi-nos apresentado no começo, o stablishment declarou guerra a Donald Trump. É uma guerra cultural, uma guerra de narrativas e não conseguimos mais ter certeza de quem vai ganhar.

O documentário foi produzido antes das eleições de midterm nos EUA (basicamente elege os políticos de baixo escalão, que aprovam leis e projetos antes de ir para o presidente e, entre outras coisas, aprovam ou não impeachments), um momento considerado histórico para os EUA, embora eu ache que não precisa de tanto alarde. Apesar de Trump correr um rico real, sua administração vai bem e esse documentário veio em ótima hora.

Além do conteúdo, o exterior desse documentário também é muito bom. Muito bem produzido, conta com ótimas entrevistas de pessoas muito inteligentes, de várias partes e condições dos EUA, mostrando a pluralidade que Trump atingiu. Bannon já tem experiência na produção de documentários e esse é tecnicamente um petardo.

A brevidade dele só mostrando a urgência com que as verdades ditas aqui precisam ser expostas.

4 pontos e meio

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Dica musical: “Bark Your Head Off, Dog” do Hop Along (2018)

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Hop Along é uma banda de indie/post-punk/folk formada em 2005 no grandioso estado da Pensilvânia, EUA, mesma terra de outras excelentes bandas como Title Fight e Balance and Composure. Descobri essa banda numa postagem do instagram do Joyce Manor, que revelava que a figurante da capa do CD “Never Hungover Again” é a vocalista do Hop Along.

Em 2018, lançaram esse CDzinho gostoso chamado de “Bark Your Head Off, Dog”. Hop Along é conhecida pelo seu som idiossincrático que mistura os vocais expansivos de Frances Quinlan com instrumentais que compreendem uma ampla gama de estilos, eis porque a classificação do estilo da banda foi tão complicada no primeiro parágrafo.

Com esse álbum, a mistura continua marcando presença, embora a solidez seja maior em torno de um som voltado ao indie, ao contrário do seu álbum de estreia, que tinha um enfoque maior no folk. De qualquer forma, Hop Along não deixa de lado as suas origens punk e acabam criando um som remanescente de bandas como Pavement.

As letras são o ponto alto, mostrando uma maturidade crescente ao criar verdadeiras narrativas em cada música, que faz com que o álbum se assemelhe a um livro de contos. O título do álbum, inclusive, se relaciona com uma das canções, que não tem uma relação direta com o resto das músicas.

Os vocais de Frances também me deixam encantado com essa mulher. A voz dela tem um alcance muito alto, indo de um tom suave e melódico para um grito vibrante em questão de segundos numa mesma canção, enquanto as guitarras invertem e revertem lógicas musicais a cada acorde. É notável a influência de Joanna Newsom no estilo que ela canta... pelo menos é o que eu acho.

É um som único de fato e que eu gostei demais!

5 pontos

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Dica literária: “A Visita Cruel do Tempo” de Jennifer Egan (2010)

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Mais um livro lido para a faculdade e que veio saciar uma vontade que tinha há muito tempo de saciar.

“A Visita Crual do Tempo” é um livro escrito pela jornalista Jennifer Egan, que é também escritora de livros de ficção e conta uma caralhada de histórias, que se entrelaçam e mantém uma fina conexão entre si. No centro dessas histórias parece estar Sasha, uma mulher sardenta e que sofre de cleptomania, cujo passado, presente e futuro abre portas para que possamos conhecer os mais diversos personagens; seu chefe Bennie, que era o alvo das atenções de Rhea, quando eles ainda eram adolescentes e na mesma época, conheceram Lou, um figurão do rock, que caminha desde sempre para sua autodestruição e mais um monte de outros personagens secundários, mas que funcionam como narradores de acontecimentos que acabam por iluminar a história contada no livro, abrangendo mais de 30 anos de histórias.

O livro me lembrou bastante David Foster Wallace, um autor que ninguém na minha faculdade conhece (surpreendente para um bando de pessoas que se dizem “pós-modernas” o tempo todo), no que tange a escrita de Jennifer Egan. Obviamente ela foi influenciado pelo cara, chegando até a simular o seu estilo num dos capítulos do livro, mas, infelizmente, ela não chega tão longe quanto ele.

Sua genialidade não é tão profunda e nos momentos em que se propõe a ser mais filosófica acaba por ser bem rasa. No entanto, sua delicadeza é incomensurável, pois são muitos os momentos do livro que emocionam, de verdade, o leitor, com passagens subjetivas muito belas, deixando espaço para interpretação, mas entregando uma carga emocional gigante de qualquer forma.

Esse é o ponto alto do livro.

Conforme avançamos para o final na leitura, esse lado mais emocional vai sendo deixado de lado e infelizmente ele não termina numa nota alta.

Alguns aspectos também irritam. Apesar da autora não se posicionar em nenhum momento, sua ironia (ou ausência dela, em alguns momentos) incomoda, principalmente quando ela se refere a republicanos ou ao expor alguns dados do futuro, que nunca deixam claro o que ela quer dizer de fato. É algo que incomoda num nível pessoal, claro, mas eu gosto de pessoas assertivas.

Enfim, o livro não é uma obra obrigatória, mas foi uma boa leitura para encerrar minha matéria de literatura ano passado.

3 pontos

Assistindo “Shoah” (1985) – parte 1

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“Shoah” é um documentário francês de 1985 tratando do Holocausto (também chamado de “Shoah”, coisa que aprendi junto com esse filme), dirigido por Claude Lanzmann e que se expande por mais de 9 horas.

Devido ao seu extenso tamanho, o filme foi divido em 2 partes pelo diretor e é comercializado numa versão para DVD com 4 CD’s (não tenho conhecimento da versão Blu-Ray), alcançando uma densidade alta demais para ser discutida num post apenas. É por essa razão que irei dividir a dica desse filme em dois, dessa forma, eu mesmo posso entender melhor essa obra monumental.

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O filme começa nos apresentando a história de Simon Srebnik, um sobrevivente de Chelmno, um dos campos de concentração nazista estabelecido na Polônia. Quando tinha apenas 13 anos, Simon viu a invasão nazista da Polônia, seu pai ser morto num gueto, foi preso com a mãe, que foi morta numa câmara de gás

e só permaneceu vivo, pois sabia cantar e os soldados nazistas gostavam disso. Quando o campo foi liberado pelos sovietes, Simon levou um tiro na cabeça, mas conseguiu sobreviver, pois a bala não acertou nenhum ponto vital. Após isso, fugiu para Israel.

A partir daí, começam as histórias intercaladas com outros sobreviventes do Holocausto, de diferentes campos de concentração. O filme inteiro é formado por essas entrevistas, descritivas e levemente soltas. Lanzmann não se preocupa em criar uma narrativa linear com essas histórias, ele apenas quer nos apresentar os fatos de acordo com aqueles que viram tudo o que aconteceu.

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Mais ou menos aos 48 minutos de filme, somos apresentados a Henryk Gawkowski, um condutor de trem polonês que trabalhou durante a invasão nazista levando, entre outras coisas, prisioneiros para o campo de concentração de Treblinka. A partir daí conhecemos o lado de pessoas comuns vizinhas aos campos de concentração.

A Polônia é conhecida pela sua “covardia” durante o período nazista e este filme é criticado sob esse ponto de vista, pois nos apresenta relatos realmente perturbadores de poloneses que viam judeus sendo enviados para os campos de concentração e acenavam para eles que iriam morrer. Mas como nos diz Gawkowski, era trabalhar ou morrer. Esse pensamento está presente em praticamente todos os testemunhos de polonoses no filme, a escolha que eles fizeram foi pela vida e não dá pra culpar alguém por isso.

Ainda assim, Lanzmann mantém-se fora do julgamento, fazendo apenas questionamentos, alguns ferozes, que entregam sua indignação com a atitude complacente dos poloneses comuns. Essas partes foram as que mais me chamaram a atenção no filme, pois não me lembro de ter visto esse lado da história num documentário, de maneira tão crua.

Os depoimentos assustam ainda por mostrar lados que até se contradizem. Enquanto temos judeus falando que eram levados em vagões de carga, amontoados por dias, sem água ou comida, sentados em cima de cadáveres; do outro lado temos poloneses dizendo que viam judeus sendo levados nos vagões de passageiros, às vezes até descendo em estações, comprando alguma coisa e voltando para dentro dos trens.

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É claro que a memória afetiva nesses momentos não é confiável, mas o tratamento a judeus também não era padronizado. Como nos diz um dos sobreviventes, Rudolf Vrba, se um agente da SS estivesse de bom humor, era capaz de tratar bem qualquer um.

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O documentário conta ainda com uma entrevista realizada com um criminoso de guerra nazista, Franz Suchomel, que participou ativamente do programa de eutanásia do governo nazista, Operação Reinhard. Suchomel aceitou ser entrevistado, mas não filmado. Lanzmann, num ato que desafia qualquer debate ético, utilizou de câmeras escondidas para realizar a sua entrevista. Esse momento me deixou confuso e só fui entender porque a imagem é diferente, utilizando a filmagem da tela onde é exibida a imagem de Suchomel. Fiquei me perguntando o que estaria por trás disso... estética? Praticidade? Não, era apenas ousadia mesmo.

Suchomel apresenta em detalhes, inclusive apontando num mapa, como era feita a separação de judeus para as câmaras de gás, onde ficavam alojados, como e por onde se livravam dos corpos. Em nenhum momento, o criminoso declara ter se arrependido.

A análise de um historiador quase no final da primeira parte expõe a relação histórica milenar que levou até o extermínio de judeus e sua posição, sempre frágil, por onde quer que eles passassem. Desde o surgimento do cristianismo, passando pela idade média, Martinho Lutero, até a República de Weimar, o Holocausto foi apenas a culminação, como se diz, a “Solução Final” para o problema dos judeus.

Não concordo inteiramente com o que ele disse. Nessa questão, cada um puxa a sardinha pro lado que quer, mas a história não é essa linha reta onde um acontecimento pontual leva a uma série de acontecimentos pontuais que culminam no Holocausto. Não acho que seja assim que funciona.

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De qualquer forma, ele chama a atenção para um aspecto importante do filme, o uso da linguagem. Os nazistas nunca utilizaram as palavras extermínio, morte ou assassinato. Você não vai encontrar isso nos documentos deles. A linguagem é sempre muito vaga, aberta a interpretação. O Holocausto fora anteriormente chamado de “Solução Final”, a solução para acabar com o problema de vez. As câmaras de gás foram apenas uma invenção saída de umas poucas cabeças mais maliciosas, não foi orquestrado por Hitler, que convenceu cada um de seus subordinados de que essa seria uma boa saída para o problema que tinham nas mãos.

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Após mais alguns depoimentos (inclusive um que nos apresenta o momento mais belo do filme inteiro, até então, que é o de uma mulher alemã, a sra. Michelsohn, esposa de um professor nazista. Lanzmann a questiona sobre um garoto que cantava e ela diz que lembrava dele, inclusive lembrava da música que ele cantava. Seu relato culmina na imagem de Srebinik percorrendo os campos onde antes se situava a prisão em que estava), Lanzmann termina as mais de 4 horas da primeira parte do filme lendo uma carta circulada entre o governo nazista ordenando a Saurer a construção de novos veículos com tecnologia para deixar o extermínio mais efetivo. A linguagem técnica, distancia a elaboração da prática, tornando tudo mais assustador.

Não sei como irá se iniciar a segunda parte. São mais 4 horas de filme e irei terminar logo, mas seria interessante se Lanzmann mostrasse como o governo nazista aparelhou a propriedade privada, excluindo-a do vocabulário jurídico e eliminando-a, de fato, pois ainda hoje acredita-se que o governo nazista, economicamente, seguia algum tipo de doutrina liberal, quando a realidade é muito distante disso.

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Terminando numa nota mais do que triste, o filme deixa uma pulga atrás da orelha para que possamos seguir, animados, para a segunda parte do documentário e suas mais de 4 horas de duração.

Não vou deixar nota, pois ainda não terminei de assistir. Considere essa a primeira parte de uma dica ainda maior, mas, por enquanto, “Shoah” tem valido muito a pena.

 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

O mundo vai acabar em Wifi

Em uma semana, dois podcasts que eu acompanho trataram de um mesmo assunto, mas sob óticas completamente diferentes, devido ao teor de cada um desses podcasts.

O primeiro deles, IRL, é o podcast da Mozilla (aquela que faz o Firefox) e no episódio dessa semana, intitulado “Surveilance Economy”, eles apresentam o trabalho da professora de Harvard Shoshana Zuboff sobre um novo aspecto do capitalismo que ela nomeia “Surveilance Capitalism”. Numa tradução rápida podemos chamar esse termo de “Capitalismo de Vigilância” e o tema se encaixa como uma luva no IRL.

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O IRL é um podcast que fala sobre tecnologia, mas do ponto de vista de uma organização sem fins lucrativos que cria programas de código aberto para a internet. A Mozilla é algo raro de se ver hoje em dia, principalmente porque ela faz sucesso! Como já é de se esperar do tema, o podcast dessa semana fala especificamente de como as grandes corporações na internet estão transformando os dados que você coloca na internet numa fonte de dinheiro, criando mais formas de te manter conectado e assim te colocando num círculo vicioso.

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O segundo podcast a debater o mesmo tema foi o podcast do Art of Manliness, o melhor site da internet mundial. No programa dessa semana, o #479, “Becoming a Digital Minimalism”, Bret McKay conversa com Cal Newport, um professor de ciência da computação, que inventou (ou recriou/modelou) o termo “Digital Minimalism”. Traduzindo rapidamente, novamente, seria o “Minimalismo Digital”. Baseando nos movimentos minimalistas que surgiram a partir da segunda metade do século passado, Newport cria diversas táticas pra te fazer parar de usar a internet e passar a viver.

É interessante que são dois podcasts muito distantes, mas que tratam, basicamente, do mesmo tema numa época em que Elon Musk fala desoladamente do futuro da nossa espécie. Pra quem não viu, veja, mas se você não quer ver, eu explico. No podcast do Joe Rogan, Musk fala de forma desolada, até meio deprimente, sobre a inteligência artificial e que já passamos do ponto-de-não-retorno e que deveríamos simplesmente aceitar a Singularização. O termo que vem de singular, significando “único”, refere-se, na parte mais utópica da ciência computacional, ao momento em que tudo estará conectado por uma só tecnologia, no caso, a Inteligência Artifical seria a causa da singularização, pois a IA poderia se recriar, reinventar e se adaptar a qualquer tipo de dispositivo ou tecnologia, controlando assim todos as tecnologias do nosso planeta. Na visão apocalíptica de Elon Musk nós teríamos que fazer parte dessa singularização também e faremos, já que não vamos abrir mão do conforto que a internet nos traz.

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Parece ficção científica e, de fato é. Autores como Isaac Asimov e Philip K. Dick já trataram do tema em suas novelas. Outros tantos também, de maneira mais detalhada e cruel. Outros tantos de maneira mais otimista. O que importa é que isso não é novidade e desde que a computação se tornou uma realidade na primeira metade do século XX, pensadores que fugiram da caverna de Platão já falam sobre a tecnologia e suas consequências na sociedade humana.

O problema é que já passamos de fato do ponto-de-não-retorno.

Eu lembro de quando era criança nos anos 90 e início dos anos 2000, lendo revistas científicas (sempre fui um entusiasta do tema) dos anos 80 e início dos anos 90 questionando a viabilidade da internet e computadores pessoais. Internet rápida, computadores em casa e comunicação a qualquer momento em qualquer lugar parecia algo distante e ainda se questionava a durabilidade daquilo. Nos anos 80 e 90 haviam pessoas que apostavam que a internet era apenas uma moda passageira. Outros apostavam que a internet ia representar o fim da comunicação como conhecíamos, extinguindo o rádio e a TV.

Não poderiam estar mais distantes da realidade. A internet se tornou uma sólida realidade, tão grande e importante que é a base que sustenta o rádio e a TV hoje em dia. A maior audiência do rádio tem canal no Youtube, os melhores canais de TV do Brasil exibem sua programação ao vivo nos seus sites oficiais. A internet se tornou a pedra de sustentação de toda forma de comunicação, não apenas em massa, mas também privada. Se queremos falar com alguém mandamos uma mensagem pelo Telegram, se for urgente, ligamos pelo Whatsapp.

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Não é o fim do mundo como imaginaram os escritores de ficção científica pelo alto grau de adptabilidade do ser humano. É a sobrevivência do mais apto.

Mas a criatividade é uma faca de dois gumes. Grandes corporações também são altamente adaptáveis e o controle que antes era exercido pela TV, sempre alvo da CRÍTICA SOCIAL FODA nos anos 90, agora é da internet. Facebook, Twitter, Instagram se tornaram os grandes alienadores e o pior, poucos percebem isso.

Encontramos amigos, compartilhamos ideias, discutimos, brigamos, namoramos, jogamos games, fazemos tudo pela internet e por essas redes sociais. Vivemos grudados em nossas telas de celulares, olhamos para o smartphone a cada minuto, às vezes nem para ver se chegou alguma coisa, apenas para sentir o dedo deslizar pela pele. É um comportamento compulsivo que tem se tornado alvo de estudos científicos reais.

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E qualquer um que fale algo contra as grandes corporações que têm se colocado como a vitrine para o mundo online (Facebook, Google, Twitter, etc...) é logo taxado de maluco. Basta lembrar que anos atrás Alex Jones falou basicamente a mesma coisa que Elon Musk, de uma maneira muito mais pirada e virou piada. Mas os dois sabem qual caminho que a humanidade está tomando. E pior, estamos escolhendo esse caminho.

Vende-se a imagem de que estamos interagindo com amigos, conhecendo pessoas novas, fazendo amizades, criando conhecimento, mas isso tudo não é real. Como indicado por Newport, estudos científicos têm mostrado que as interações digitais não tem o mesmo valor que as interações reais. Elas podem ativar certas áreas do cérebro que trazem uma sensação momentânea de bem-estar, mas essas substâncias representam apenas uma fração de tudo que você obtém com cada interação real e analógica.

Não apenas não são suficiente como elas trazem consequências drásticas para a nossa realidade. As interações digitais sustentam vícios e aumentam o ego, aumentando a artificialidade da vida das pessoas, além dos riscos reais que elas correm atrás de mais e mais likes. Tudo isso é feito por profissionais, que estudam como fazer os seres humanos mais viciados em seus produtos digitais. O som que o seu celular faz toda vez que chega uma mensagem foi detalhadamente planejado para viciar o seu ouvido.

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Num ponta você tem engenheiros planejando como te deixar mais preso a sua telinha de smartphone e na outra ponta você tem vendedores convencendo donos de empresa a anunciar no aplicativo ou site dele porque ele tem acesso a uma porrada de pessoas e ele sabe como fazer essas pessoas prestarem atenção nas suas telas. É o capitalismo de vigilância. Estão olhando para você, estudando você para vender coisas para você que farão com que eles consigam olhar mais detalhes da sua vida.

Mas o problema não é apenas isso, porque é isso que todo tipo de mercado faz. Ou você acha que o japonês da feira segue qual processo pra definir os pastéis que ele vende? Qual o processo que leva ele a escolher mais queijo, presunto e carne moída do que carne seca, palmito e camarão? É o mesmo processo de estudo e seleção que basicamente fez o mundo o que é, a seleção natural, mas no sistema de trocas que nós convencionamos chamar de “capitalismo”.

O problema é isso ficar concentrado na mão de uma meia dúzia de pessoas. A centralização é sempre ruim. Hoje está nas mãos de umas poucas empresas do Vale do Silício. Professoras como Shoshana Zuboff prefeririram que estivessem nas mãos do governo, mas daria na mesma. Centralização não presta! Aprendam isso de uma vez por todas!

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Como bem dito por Newport a internet precisa de descentralização. Ela nasceu descentralizada e deveria ter sido assim pra sempre. Eu peguei apenas um pedaço da fase selvagem da internet, com seus inúmeros blogs, fóruns e áreas de comentários. Era uma bagunça e era difícil de separar o joio do trigo, mas pelo menos era você quem separava e não alguém que separava para você. Alguém que não te conhece, que vê você apenas como mais uma fração do seu negócio bilionário e alguém que não concorda com o que você concorda!

Então a solução de Newport me soou muito interessante. A ideia por trás do minimalismo digital é seguir algumas estratégias que te farão interagir melhor com as tecnologias que você tem acesso atualmente. O primeiro passo é um mês de desintoxicação. Um mês sem acesso a toda a tecnologia que te cerca, das redes sociais inúteis, aos programas que você utiliza para passar o tempo e os sistemas de mensagem online que você usa diariamente.

A tarefa aí já é difícil, porque muito do que utilizamos hoje em dia acabam não apenas sendo úteis, mas necessários. Eu mesmo uso o whatsapp pra trabalho, poxa! Mas isso é definir suas prioridades. Se você utiliza o Telegram pra trabalho, então por aquelas 8 ou 9 horas em que você tem que trabalhar, use-o. Depois desligue-o. Desintoxique-se e encontre suas prioridades digitais.

Após isso, livre-se de tudo que é desnecessário. Essa semana me livrei do Instagram. Ainda tenho a conta, porque uso ele pra manter contato com algumas pessoas e também porque sigo diversos artistas que curto. Mas o que me levou a desinstalar o app do meu celular foi o fato de que eu perdia mais tempo curtindo imagens no Instagram do que desenhando, então pra que usar isso pra inspiração se eu não exercito minha inspiração com ele? É legal que isso é falado no podcast também e eu havia deletado meu instagram antes de terminar de ouvir.

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Feito isso você vai ficar com muito tempo livre e aí é hora de sair de casa, achar um hobby, suar, se sujar, fazer algo real, analógico.

É hora de sermos radicais. Temos que abandonar a internet, porque ela já não é essa terra de homem nenhum, onde podemos ser livres e felizes. Aos poucos está se tornando mais e mais um terreno de controle social. Só sendo radicais podemos evitar o futuro terrível que o Elon Musk prediz.

E eu não acho que ele está errado. Acho que a Singularização será um fato e não vai demorar muito pra acontecer, mas a humanidade não vai acabar, o mundo analógico vai continuar existindo. Tem pessoas, como o próprio Elon Musk, que há anos alertam sobre os males da Inteligência Artificial e tem um número ainda maior de pessoas que escutam eles. Nós te escutamos Elon Musk.

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Sempre irão existir as pessoas que não irão se misturar com as máquinas, que vão preferir morrer do que serem eternas consciências digitais e irão preferir serem fazendeiros na Terra do que ciborgues em Marte. Amish do século 22, porque não?

Enquanto escrevo isso não posso deixar de lembrar de uma grande voz contra a tecnologia do século 20. David Foster Wallace, que focou especificamente e acertadamente num aspecto muito danoso da tecnologia, que é o entretenimento. DFW falou em diversos escritos sobre os malefícios do entretenimento excessivo que apenas as novas tecnologias poderiam nos trazer. Ele tinha medo dos computadores e da internet, porque viu os efeitos danosos que a TV nos causou. Ele chegou ao ponto de escrever um livro inteiro só pra dizer pra você parar de ler e ir fazer alguma coisa da sua vida!

Mas DFW errou onde o Art of Manliness acerta. DFW olhava as coisas pelo aspecto totalmente negativo e desolado. O mesmo aspecto que o Elon Musk parece olhar atualmente. Bret McKay olha pelo lado positivo e não diz apenas abandone isso e vá fazer algo da sua vida! Ele te diz o que fazer. Vá cortar madeira! Levante pesos! Aprenda a assobiar com dedos! Converse com o seu barbeiro! Peça uma garota em namoro!

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É esse tipo de atitude positiva que precisamos ter também. Não basta apenas olhar para os grandes escândalos, culpar a internet e declarar que o fim do mundo se aproxima. É preciso fazer algo, encontrar um motivo para viver e acreditar que o futuro pode ser melhor, se não para o mundo, ao menos para a sua família.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Dica musical: “Somewhere at the Bottom of the River Between Vega and Altair (10th Anniversary)” do La Dispute (2018)

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Em 2018 o primeiro álbum do La Dispute completou 10 anos. Para comemorar a banda se reuniu pela primeira vez desde a gravação do terceiro disco a fim de remasterizar o álbum inteiro. O resultado surpreende e dá vida nova a um dos melhores álbuns musicais do post-hardcore.

“Somewhere at the Bottom of the River Between Vega and Altair” é um álbum ambicioso e percebemos isso logo no título. Foi com esse álbum que o La Dispute lançou sua marca dentro do cenário do post-hardcore nos EUA, um cenário underground e que não atrai grandes multidões, mas atrai fãs engajados. Em 2008 um dos principais nomes entrou na cena e acabou influenciando toda uma onda de bandas que vieram depois e lançaram excelentes álbuns, como o Title Fight e o Touché Amoré.

De um canto obscuro de Michigan, saiu uma das bandas mais influentes do século.

Esse álbum já expõe, em suas 13 canções, todo o estilo do La Dispute, que não iria mudar, apenas amadurecer nos próximos anos. As canções são recheadas de letras emotivas, guitarras distorcidas, uma bateria marcante e um baixo presente, misturando elementos sonoros diversos dando toques harmônicos para criar a atmosfera perfeita de cada canção.

Agora mais de 10 anos depois, é óbvio que esse estilo parido com esse álbum iria soar distante do que a banda cria atualmente. Em 2008, Jordan Dreyer gritava muito mais e atualmente sua voz está mais estável. O som se tornou menos agitado e desconexo, encontrando uma unidade única no caos. As letras continuam emotivas, mas muito menos melodramáticas do que nesse primeiro álbum, sem contar os experimentalismos com elementos digitais, presente nos últimos lançamentos da banda.

Revisitar esse álbum é entrar num túnel do tempo, para uma época mais simples, em que tudo era mais dramático e parece tão sem importância agora e é assim para a banda também.

No entanto, o álbum tem seu valor no que tange a sonoridade característica que a banda iria desenvolver em toda a sua carreira até aqui. As letras verborrágicas é o aspecto mais marcante, obviamente. O senso artístico do La Dispute sempre foi muito agudo.

O que mais chama a atenção nessa remasterização é a produção. Produzido por Will Yip, é um álbum excelente que se distancia muito do original de 2008. O som está mais claro, é possível ouvir cada pequena palavra de Jordan no meio de tanto “barulho”, revelando aspectos antes inaudíveis, como uma breve passagem em “Fall Down, Never Get Back Up Again”.

Outros momentos, como a introdução de guitarra de todo o álbum, “Such Small Hands”, foi retrabalhada e acabaram melhorando. Alguns aspectos mais técnicos e que eu não tenho capacidade para opinar, mas consigo notar também foram alterados, parecendo que algumas passagens passaram por um “filtro” que só foi criado em “Rooms of the House”.

“Somewhere at the Bottom of the River Between Vega and Altair” é um trabalho grandioso. Pode parecer estranho revisita-lo atualmente e, de certa forma, tem que ser, porque todo mundo cresce e acaba esquecendo como foram os anos de adolescência, já dizia o Americ anFootball. Essa estranheza não diminui em nada o seu valor artístico e a nova produção apenas o realça ainda mais.

5 pontos

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Dica quadrinística: “Superman: American Alien” (2017)

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Outra HQ que eu muito aguardei para ser lançada no Brasil e foi lançada ano passado na iniciativa Superman 80 anos.

Esta HQ se vende como uma história do Clark Kent e não do Superman. De fato, acompanhamos Superman da sua infância até os seus dias gloriosos como Superman, acompanhando os passos do herói através dos olhos das pessoas mais próximas dele.

Acompanhando as tendências das histórias mais recentes do Superman, essa não foge e foca enormemente nos aspectos humanos do super-herói. Da sua infância na cidade de Smallville até os seus dias de glória como Superman em Metrópolis e os subsequentes enfrentamentos com seus amigos de infâncias, Max Landis foca menos no que o Superman pode fazer e mais no que ele representa.

Mesmo com uma agenda politicamente correta (o sarcasmo ao falar de Ayn Rand beira o ridículo), Max Landis consegue criar uma história interessante, embora nem tão delicada quanto “As quatro estações”.

Os artistas são diversos, o que não cria uma unidade artística dentro da obra. Isso corresponde a intenção inicial de acompanhar Clark Kent ao longo de sua vida, focando em diversos momentos diferentes. No entanto, atrapalha quem se apega muito a um estilo só. Alguns artistas parecem não combinar tanto com o estilo de história, impossibilitados de fazer boas cenas de ação, por exemplo. Em outros momentos, alguns quadros parecem bem feios.

Ainda assim, é uma das melhores histórias recentes do Superman, talvez da década, fugindo das famigeradas mensais e nos divertindo contando a história de Clark Kent em vários momentos de sua vida.

4 pontos