quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Dica musical: “Somewhere at the Bottom of the River Between Vega and Altair (10th Anniversary)” do La Dispute (2018)

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Em 2018 o primeiro álbum do La Dispute completou 10 anos. Para comemorar a banda se reuniu pela primeira vez desde a gravação do terceiro disco a fim de remasterizar o álbum inteiro. O resultado surpreende e dá vida nova a um dos melhores álbuns musicais do post-hardcore.

“Somewhere at the Bottom of the River Between Vega and Altair” é um álbum ambicioso e percebemos isso logo no título. Foi com esse álbum que o La Dispute lançou sua marca dentro do cenário do post-hardcore nos EUA, um cenário underground e que não atrai grandes multidões, mas atrai fãs engajados. Em 2008 um dos principais nomes entrou na cena e acabou influenciando toda uma onda de bandas que vieram depois e lançaram excelentes álbuns, como o Title Fight e o Touché Amoré.

De um canto obscuro de Michigan, saiu uma das bandas mais influentes do século.

Esse álbum já expõe, em suas 13 canções, todo o estilo do La Dispute, que não iria mudar, apenas amadurecer nos próximos anos. As canções são recheadas de letras emotivas, guitarras distorcidas, uma bateria marcante e um baixo presente, misturando elementos sonoros diversos dando toques harmônicos para criar a atmosfera perfeita de cada canção.

Agora mais de 10 anos depois, é óbvio que esse estilo parido com esse álbum iria soar distante do que a banda cria atualmente. Em 2008, Jordan Dreyer gritava muito mais e atualmente sua voz está mais estável. O som se tornou menos agitado e desconexo, encontrando uma unidade única no caos. As letras continuam emotivas, mas muito menos melodramáticas do que nesse primeiro álbum, sem contar os experimentalismos com elementos digitais, presente nos últimos lançamentos da banda.

Revisitar esse álbum é entrar num túnel do tempo, para uma época mais simples, em que tudo era mais dramático e parece tão sem importância agora e é assim para a banda também.

No entanto, o álbum tem seu valor no que tange a sonoridade característica que a banda iria desenvolver em toda a sua carreira até aqui. As letras verborrágicas é o aspecto mais marcante, obviamente. O senso artístico do La Dispute sempre foi muito agudo.

O que mais chama a atenção nessa remasterização é a produção. Produzido por Will Yip, é um álbum excelente que se distancia muito do original de 2008. O som está mais claro, é possível ouvir cada pequena palavra de Jordan no meio de tanto “barulho”, revelando aspectos antes inaudíveis, como uma breve passagem em “Fall Down, Never Get Back Up Again”.

Outros momentos, como a introdução de guitarra de todo o álbum, “Such Small Hands”, foi retrabalhada e acabaram melhorando. Alguns aspectos mais técnicos e que eu não tenho capacidade para opinar, mas consigo notar também foram alterados, parecendo que algumas passagens passaram por um “filtro” que só foi criado em “Rooms of the House”.

“Somewhere at the Bottom of the River Between Vega and Altair” é um trabalho grandioso. Pode parecer estranho revisita-lo atualmente e, de certa forma, tem que ser, porque todo mundo cresce e acaba esquecendo como foram os anos de adolescência, já dizia o Americ anFootball. Essa estranheza não diminui em nada o seu valor artístico e a nova produção apenas o realça ainda mais.

5 pontos