terça-feira, 23 de abril de 2019

Dica cinematográfica: “4 Aventuras de Reinette e Mirabelle” (1987)

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Rohmer foi um dos maiores gênios da cinematografia mundial. A promessa tardia da Nouvelle Vague não foi transgressor como Godard, nem ousado e criativo como Truffaut, mas é na simplicidade e intelectualidade que restam os louvores de sua obra. Este filme não é exceção a regra, mas sim um dos melhores exemplos dela.

Quando Mirabelle fura o pneu de sua bicicleta numa estrada de chão durante uma viagem de férias no interior com a família, conhece Reinette, que ajuda a garota a recuperar o pneu do veículo. As duas logo se tornam amigas e juntas acabaram passando por 4 aventuras, todas narradas de um jeito singelo e belo, como apenas Éric Rohmer poderia ter feito.

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As duas jovens são muito diferentes e é em seus contrastes que o filme se sustenta. Não apenas fisicamente, uma morena e a outra loira, mas também na personalidade. Reinette é um moça do campo, mas que conheceu muitos lugares, pois viajou para vários lugares com a família. Foi educada em casa e é dona de um senso de ética e moral muito forte, o que a impede de compactuar com algumas atitudes e pensamentos de sua nova amiga. Mirabelle é uam garota que cresceu em Paris, um cidade grande, portanto acabou adotando uma postura mais racional e fria perante a realidade.

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O jogo de contrastes entre as duas personagens revela reflexões sutis acerca do comportamento humano, colocando questões éticas em primeiro plano, embora de uma maneira quase imperceptível. É o estilo Rohmer de narrativa. Há muito pano pra manga, mas é de um tecido fino e quase invisível.

Como obra de Rohmer o filme não deixa de salientar a moralidade e a teimosia correta do povo do campo, no entanto, acaba por apresentando a perspicácia e raciocínio lógico que apenas a cidade poderia nos dar. É uma união que gera atritos, mas também força.

Tecnicamente o filme não poderia ser mais bonito. Aqui está tudo que torna o cinema de Rohmer tão característico, belas pessoas, belos cenários, uma câmera rápida que se movimenta com maestria pelo ambiente, ausência de música e diálogos muito inteligentes.

De todos os filmes que assiste de Rohmer, esse já entra para a lista de obras mais fáceis de serem vistas. Não por não levantar questões que perturbam, muito pelo contrário (esse filme é capaz de te deixar muitas horas pensando nos assuntos em que ele toca), mas porque esse filme é leve, te faz entrar na obra de cabeça e você nem vê o tempo passar enquanto o assiste.

5 pontos