sexta-feira, 19 de abril de 2019

O monte ardia em chamas que subiam até o céu...

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A semana começou com uma notícia devastadora... a catedral de Notre Dame sofreu um incêndio, que destruiu o telhado da catedral e sua agulha, símbolo máximo da arquitetura gótica.

Nesse momento não me importa de verdade as causas do incêndio, quem foram os responsáveis ou como eles serão responsabilizados por isso. O momento atual é de pesar.

Mas não de pesar pela perda de um monumento extremamente para a história da arquitetura, o seu valor artístico e cultural ou a possibilidade de que tudo isso tenha sido planejado. É um pesar pelo que essa catedral representava, um pesar em ver parte da sua herança ter sido perdida.

Eu sou um brasileiro, pardo e católico. Essa é parte da minha identidade, mas o que realmente significa tudo isso? Por ser pardo, não sou branco nem negro, estou perdido num limbo das raças que não interessam a ninguém. Hoje em dia, ou você é negro ou é branco, não tem meio termo.

Sou brasileiro e amo esse país de meu Deus, mas o que esse país fez, faz ou fará por mim? Pouco ou nada. Mudaria daqui facilmente, pra ser honesto, embora eu saiba que sentiria eternamente saudades dessa Terra de Santa Cruz.

Minha religião é a parte mais importante da minha identidade. É à Igreja que devo grande parte dos meus amigos, das minhas oportunidades de emprego, das minhas boas memórias e da minha educação. Foi o Catolicismo que me deu os padrões morais, se sou considerado uma boa pessoa por grande parte das pessoas que interagem comigo, devo isso à Igreja.

E muitos de nós devem tudo que tem hoje à Ela também. Só não reconhecem.

Das nossas leis à grande parte da nossa ideia do que é ser belo. Do conceito de laicidade à teoria do Big Bang. Devemos tudo isso à Igreja Católica.

E ao mesmo tempo é a instituição que mais apanha no mundo inteiro. Em parte, os ensinamentos de Jesus nos torna cordeiros, temos que dar a outra face, mas a realidade é que a Igreja tem os seus inimigos. Embora alguns sejam melhores que outros.

Não se reconhece que é a herança da Igreja que nos fez chegar até onde chegamos. Se tantas mazelas da sociedade foram deixadas para trás, como parte de um passado distante é por causa da Igreja, que cometeu seus erros, sim, mas é sempre bom lembra. A Igreja é Santa, seus fieis, nem sempre.

A França foi o país que chegou a ter 1 igreja para cada 200 habitantes. Se o centro da Igreja reside em Roma, é na França que estão seus frutos mais belos. Os franceses nunca teriam inventado o amor sem um profundo senso de religiosidade católica. E nós, como filhos de Portugal, devemos muito à tradição francesa. O silêncio de nossos líderes, da mídia e até mesmo dos membros da própria Igreja é revoltante.

Nosso relacionamento com o mundo é como um hexágono.

Os pontos exteriores representam cada um das nossas afinidades, características diversas da nossa vida, relacionamentos pessoais, práticas esportivas, estudos, vida política, finanças, enfim... tudo aquilo que move o nosso dia a dia. Bem no centro está Deus. Quanto mais próximo de Deus, mais próximos ficamos de tudo aquilo que nos cerca, mais equilibrada é a nossa vida.

E é esse equilíbrio que não podemos esquecer. É a falta desse equilíbrio que tem levado a França e quase toda a Europa ao caos. É essa a causa das chamas que a atingiram no início da semana.

Como nos lembra Chesterton, a arquitetura gótica é a única forma de arquitetura militante, em marcha para a glória de Deus, em pé e pronta para a batalha, nunca silenciada, sempre impotente.

 A catedral de Notre Dame levou mais de 100 anos para ser terminada. Quem começou a construção nunca a viu finalizada, mas o fez por algo maior, um Bem maior. Essa noção de sacrifício por algo maior foi perdida nos tempos atuais e é isso que destrói nossa natureza, acaba com os direitos civis e nos destrói a esfera privada cada vez mais. Talvez ainda faça um post aprofundando isso, mas, basicamente, uma vez que não vivemos por algo maior, vivemos por nós e o nosso tempo não é o suficiente para promover mudanças positivas.

A nós, apenas nos resta esperar, na fé, que, como uma Fênix, a fé francesa levante das cinzas de Notre Dame.

https://twitter.com/Inaki_Gil/status/1117868382785802242