quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Dica cinematográfica: "Memórias do Subdesenvolvimento" (1968)

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Em tempos de insegurança jurídica, ignorância generalizada e ambivalência política, esse filme se torna uma obra emergencial para tirar, nem que seja um pouco, o véu que cobra nossos olhos.

Sérgio, um cubano atingindo a meia idade, decide continuar na ilha enquanto sua família parte para Miami fugindo da ditadura socialista que havia se instalado. A partir daí entramos numa viagem introspectiva pelas memórias de Sérgio que se confundem com a memória revolucionária daquela ilha que um dia teve a Paris do Caribe e hoje não passa de uma fossa, cada vez mais profunda e escura.

O filme é uma obra experimental que mistura elementos de documentário com uma narrativa intimista, mas, ao contrário de tantos outros filmes parecidos, este funciona muito bem. Acompanhamos de forma fragmentada as memórias de Sérgio antes da revolução, seu relacionamento complicado com sua mulher e os acontecimentos logo após, suas discussões com amigos contra-revolucionários e as desgraças que acometeram Cuba, como fome, guerra civil e alienação cultural.

Os monólogos de Sérgio contém diversos insights valiosos sobre a situação do país e as imagens, fotos, registros de vídeo e afins apenas reforçam o que já está sendo dito. Para nós, brasileiros, é possível extrair uma senhora lição sobre o nosso complexo de vira-lata, que nos faz ignorar os fatos, abraçar cegamente ícones subversivos e renegar nossa história para o fosso do esquecimento.

O filme é complexo e visto com carinho tanto por revolucionários quanto por contra-revolucionários, mas é interessante que, tanto de um lado quanto de outro, é um filme que se posiciona contra essa esquerda que se encontra no poder e faz de tudo para lá permanecer, nem que tenha que mudar todo o ordenamento jurídico do país ou destruir tudo.

Ultramente recomendado para aprendermos uma lição de história.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Links sortidos de quarta #17

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Dica webística: Brasileirinhos

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E mais uma dica dessa série que começou com esse post aqui e agora é agraciada com o melhor canal do Youtube atual.

O Brasileirinhos é um canal de comentários sociais, mas com uma irreverência e uma estética ímpar. São basicamente dois integrantes, com participações especiais de pessoas tais, como eu e você, mas sem fantasiados para prevenir a identidade fisiológica deles, como diria Paulinho Gogó. O resultado é um certo humor não intencional muito cabeça. A intenção original não é ter graça, mas acaba tendo.

Alia-se a isso um senso estético muito apurado, que remonta ao período de ouro do cinema francês e aquela estética pós-realismo italiano que o cinema novo também utilizou. Aliás, muitos de seus vídeos contém cenas de filmes brasileiros dessa época, fora de contexto e adaptados, permitindo uma interação entre os membros do canal e as cenas mostradas.

A edição e a produção não é de primeira, afinal é um canal pobre, do povão mesmo, mas são seus comentários ácidos, suas inúmeras referências e, claro, a criatividade absurda de seus integrantes que faz do canal o melhor conteúdo disponível no Youtube no momento. E não falo apenas do Brasil não, falo do mundo todo!

Em tempos recentes, eles começaram a provocar algumas pessoas poderosas por aí, mas a velha intuição do brasileiro sabe separar o joio do trigo e todo mundo reconhece o bem do Davi que provoca a ira do Golias.

Além de vídeos, eles também produzem uma espécie de podcast, a rádio Brasileirinhos, que contém imagens pontuais, para contextualizar melhor aquilo que eles estão falando, mas que não fazem diferença para quem está ouvindo. Acredito que até pela facilidade de se produzir esse tipo de conteúdo, a rádio Brasileirinhos fique até melhor que os vídeos. Não que os vídeos sejam ruins, é que a rádio é excelente mesmo. A criatividade rola solta e a produção é maravilhosa.

Ano passado, eles ainda fizeram um especial de final de ano que consistia numa série de vídeos adaptando para a mídia áudio-visual um extenso, e muito bem escrito, artigo de um dos integrantes do canal. Pra quem se interessar é a série Não Tenhais Medo.

Ver os vídeos, escutar a rádio, é isso que você deve fazer, para criar uma opinião forte e e divertir pra caramba. Eis o Brasileirinhos!

https://youtu.be/lTAWIH0Xc5w

 

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Como vencer a ironia?

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Essa semana o Pânico foi palco de uma das mais lamentáveis e deprimentes cenas do ano na cultura popular brasileira. Como de praxe, o programa usou uma data especial para provocar um debate acalorado entre os seus participantes, dessa vez, usando do dia da consciência negra, chamaram o Professor Paulo Cruz e o comediante Yuri Marçal.

Não assisti ao programa todo e só fiquei sabendo do acontecido através do canal do Negão, que fez um vídeo comentando o que aconteceu no programa. Para você que não está por dentro, assim como eu também não estava, aí vai um resumo: o Professor Paulo Cruz entrou no programa disposto a um diálogo sobre as questões que envolvem os negros no país e o Yuri entrou fantasiado de "branco", mas basicamente estava fantasiado de Carl Banks. Com uma ironia mordaz, ele concordava com cada frase do Professor e expandia os seus comentários, colocando-o num pedestal, apenas para caçoar dele entre os seus pares. Um rápido giro pelo seu Twitter mostra que a estratégia é eficiente.

Yuri venceu o Professor.

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Mas a questão que eu faço é: tinha como não vencer? Yuri usou de uma sutil, porém vociferante ironia para debater com Paulo Cruz e é possível vencer a ironia?

Como dizia David Foster Wallace, ironia é uma arma cruel e muito eficiente como forma de escapar da triste realidade que nos cerca. No entanto, ela não cria nada, ela não constrói pontes e não serve como forma de solucionar problemas reais, tornando-se então como o canto de libertação do pássaro que se percebe engaiolado, mas sem fazer nada contra a gaiola que o cerca.

Isso é ironia e é isso que o Yuri fez. Ele não criou pontes, não amadureceu o diálogo e nem conseguiu criar saídas que beneficiassem ambos os lados do discurso. Ao mesmo tempo em que ele ganhou, ele também perdeu. Perdeu a oportunidade de dizer que cotas raciais serviram para fazer os negros serem maioria nas universidades brasileiras, perdeu a chance de apontar o número absurdo de negros vítimas de homicídio no país e a chance de falar do conselheiro racista do Santos que não foi indiciado pelo MPF pelo crime de racismo.

Tudo isso seria discutido pelo Professor Paulo Cruz e véus cairiam para mostrar que a verdade não é preto no branco, mas não... ele teve que usar a ironia e assim conseguir uma vitória, mas uma vitória equivalente àquela do gordinho dono do bola que, por ser o último a ser escolhido, pega a bola e leva pra casa, acabando com a brincadeira de todo mundo.

PAULO CRUZ

No caso, ele destruiu o diálogo.

A ironia é a filha do Ódio com o Humor. Ela tem uma face bonita, mas é cruel por dentro, é chata, é irritante, é egoísta e mimada. Como figura de linguagem, funciona muito bem na literatura, mas ao ser carregada para os nossos relacionamentos, só causa mais separação. Seus efeitos são devastadores e o fato da ironia ter sido alçada a um patamar tão elevado em tempos recentes, como se fosse coisa que só gente "inteligente" sabe usar e apreciar, nossas relações pessoais estejam tão destruídas.

E de novo, volto a questão título do texto: como vencer a ironia?

Gostaria de chegar a uma conclusão aqui, mas não tenho uma. David Foster Wallace elaborou um conceito chamado de "New Sincerity" que iria guiar muitos dos futuros autores e criadores de cultura por aí. Por um breve período, isso até funcionou, mas nunca chegou a ser uma tendência real, algo que tivesse impacto de verdade, muito menos venceu a tão destrutiva ironia, que continua mais viva do que nunca.

É um inimigo pernicioso essa tal de ironia, reconhecer seus malefícios é um primeiro passo para poder vencê-la. Será que podemos?

https://youtu.be/2doZROwdte4

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Dica musical: "Spiritual Ascent" do Alcest (2019)

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Alcest é uma banda de black metal, mas que começou a fugir do rótulo após o lançamento de seu melhor álbum Kodama e com Spiritual Ascent eles continuam a explorar o som criado no álbum anterior.

Spiritual Ascent nos apresenta apenas 6 canções, mas são seis canções da melhor fusão do black metal com o shoegaze, dois estilos musicais que se aproximam em sua estética, mas com diferenças pontuais e muito contrastantes. A fusão que Alcest realiza entre os dois é notável, digna de prêmios mesmo.

Não é de se surpreender que o foco sejam os instrumentos musicais. Guitarras distorcidas, acordes tocados rapidamente em contraste com movimentos musicais mais lentos e bem pontuais, uma bateria rápida e marcante com um baixo quase inaudível no meio de tanto barulho.

Mas é um barulho que eu gosto muito!

Ao contrário de Kodama, aqui Alcest encontra até um momento de conforto em acordes reminiscentes do hardcore com Saphire, que pode adicionar um pouco mais de moviemento caótico nas suas apresentações ao vivo. Seria interessante ver a banda seguindo essa temática musical, mas sem perder claro o seu foco estético no black metal.

https://www.youtube.com/watch?v=69fnUZhV8SI

As letras continuam misteriosas e explorando o desconhecido, o obscuro e as trevas, mas a verdade é que esse não é o foco mesmo e eles nem perdem mais tempo com isso mesmo. Saphire é uma canção de letra improvisada, por exemplo.

De qualquer forma, a banda continua com força, explorando uma sonoridade cada vez mais caótica, bela e cortante. É um álbum muito bom, de fato.

 

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Dica especial do dia da consciência negra 2019

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Mais um dia da consciência negra e mais uma oportunidade de louvar o grande cinema de negros para negros que Hollywood conseguiu criar com seu racismo.

“Vou te pegar, Otário” é um filme de 1988 criado pelos irmãos Wayans, que se revezam nos créditos e sempre apresentam pérolas do cinema. Keenen Ivory Wayans estrela esse filme no papel de Jack Spade, que volta do exército para Nova Iorque, descobrindo que seu irmão morreu e deixou a mãe e a esposa sozinhas e indefesas. Sofrendo uma crise de “correntes de ouro”, Nova Iorque se rende ao crime e Spade, inconformado, decide convocar uma equipe de valorosos habitantes da cidade para lhe ajudar a limpar a sujeira dali.

O filme conta com uma baixa produção, mas é muito bem feito para os padrões no qual foi feito. Apesar da qualidade da imagem, saídas inteligentes foram criadas para as cenas de ação. Contamos ainda com a participação de nomes consagrados da cultura negra estadunidense como Bernie Case, Isac Hayes, Jim Brown, Chris Rock e, claro, toda a família Wayan reunida.

Unindo humor chulo com densas críticas, o filme é um petardo. Numa mesma cena vemos Spade conhecendo a verdadeira face dos Panteras Negras (preguiçosos, hipócritas e aproveitadores) e sua mãe sendo substituída por um dublê chinês para fazer alguns movimentos marciais.

É desse nível de humor que estou falando e é desse tipo de humor que gosto.

O filme conta ainda com uma excelente trilha sonora, fazendo referência a filmes de blacksploitation como “Shaft”, banhada por jazz, funk e hip hop da época.

Novamente os Wayans figurando uma dica especial para esse dia tão especial, consagrando-se como os maiores nomes da cultura negra em Hollywood.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Dica televisiva: "Invasor Zim e o Florpus" (2019)

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Essa é uma dica televisiva, porque Invasor Zim era uma série de TV e o filme foi lançado na Netflix, então é justo chamá-lo de filme para televisão.

Nessa continuação desta que foi uma das séries mais perturbadas da Nickelodeon em sua era de ouro, encontramos os velhos personagens da série após o sumiço do invasor. Dib trancou-se em seu quarto esperando o retorno de Zim, enquanto seu pai prepara a exposição de uma nova invenção no dia da paz e é supreendido com o retorno repentino de Zim à Terra. A partir daí inicia-se uma nova trajetória para nosso herói improvável contra o alienígena mais inútil do universo e que descobre ter sido apenas feito de trouxa pelo império dos altíssimos.

É um filme cheio de pequenos plot twists e a cada cena há uma nova mudança de paradigma, mas tudo é bem encaixado e concatenado, o que faz o filme parecer um conjunto de episódios da série. A familiaridade é imediata e nem há muito espaço para se sentir nostálgico. O filme não se rende a um sentimentalismo nostálgico, ele apenas faz algumas referências  no meio do filme, mas logo parte para a exploração da história que elabora e o espectador logo se vê preso na trama complexa traçada com essa película.

É um filme despretensioso, mas que, até mesmo por isso, se sai muito bem. O desenvolvimento da história é leve, apesar de complexo em sua quantidade de detalhes. É sério! A história muda de dinâmica pelo menos 5 vezes, mas pode ser bem mais, pra ser honesto. Ainda assim, tudo é feito de forma tão orgânica, que o telespectador não fica perdido.

A animação segue o estilo e a técnica usadas na série animada. Poucas coisas mudam, a não ser a qualidade da imagem que é muito superior ao que eu vi quando criança na Band. Apesar de ser uma continuação, mesmo aqueles que não assistiram toda a série podem se divertir com o que verão, inclusive crianças.

Para um filme de público mais cult, ele pode se sair muito bem com todo tipo de público.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Nem ditadura nem democracia, anarquia!

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Com o resultado das eleições de 2018 definido a expectativa de muitos brasileiros e brasileiras era que uma ditadura fosse se instaurar no país. O resultado contrariou as expectativas e vemos um governo com uma forte matiz liberal que vem abrindo um espaço cada vez maior para que todos os sujeitos dessa nação possam crescer.

No entanto as táticas de oposição tornaram-se cada vez mais refinadas e até mesmo pela natureza constitucional de nossas leis, um cenário de insegurança jurídica tem se tornado cada vez mais visível, abrindo espaço para uma verdadeira terra arrasada.

Com os lamentáveis acontecimentos da semana passada, o que vemos, claramente é que não vivemos numa democracia, muito menos numa ditadura, mas sim, numa anarquia.

Anarquia cujo conceito vem do grego arché, que significa o que vem antes de tudo, o princípio, a ordem e o prefixo a, que denota negação. Ou seja, sem ordem.

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Partindo disso vejamos o que acontece em nosso país: elegemos um presidente, mas quais são os seus poderes? Ele pode passar decretos, mas esses têm que ser aprovados pelo congresso nacional e pelo senado. Ele pode vetar leis, mas uma vez feito isso, essas leis voltam para o congresso para serem reanalisadas. Seu poder é o mesmo de um café-com-leite numa brincadeira de criança, puramente simbólico. Tá lá pra fazer número e deixar os pais Tratados Internacionais, ONU e afins, felizes em saber que ele está brincando com todo mundo.

O congresso e o senado são eleitos pelo povo, diretamente, mas se um candidato obtém mais votos do que ele precisa, esses votos a mais são convertidos para os candidatos do mesmo partido que não obtiveram votos necessários pra entrar na brincadeira. É o que fez o Tiririca ser cogitado pra entrar na disputa por uma vaga no congresso e é o que fez o Jean Willis continuar na brincadeira ano passado. Ou seja, parte do congresso e do senado não é constituída por pessoas eleitas pelo povo.

Onde está a democracia?

E essas são as pessoas que irão passar leis, que irão influenciar diretamente a sua vida, mas quem irá executar elas? Juízes, magistrados e, em última instância, o STF, que é definido por indicação política presidencial. Essas 11 honrosas excelências interpretam a lei como querem, mudando de opinião a cada alguns anos e com essas opiniões as leis que nós temos que respeitar, soltam da prisão senhores milionários e mantém presos tiozinhos que roubam rádio.

Onde está a ordem?

Não vivemos numa democracia, muito menos numa ditadura, vivemos numa anarquia. Como já dizia Roberto Campos: "Se alguma filosofia existe no Estado brasileiro, é a do brocardo mineiro: 'Para os amigos, tudo; para os inimigos, nada; para os indiferentes, a lei'."

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Dica musical: "Jesus is King" do Kanye West (2019)

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Essa é a primeira vez que Kanye West figura n'O Sommelier de Tudo. E não poderia ser diferente, pois este é, indiscutivelmente, seu melhor álbum.

Após sofrer um choque de realidade, Kanye West descobriu os abusos que negros sofrem nas mãos dos democratas americanos, o poder de Trump como líder de uma nação e a redenção em Cristo. Tudo isso culminou no seu projeto mais ambicioso que é o Sunday Service, um conjunto musical que se apresenta aos domingos, a céu aberto, numa formação circular e explorando a mistura de coral religioso com o rap. O conjunto conta com um coral e uma banda completa, cheia de percussões, guitarras, baixo, instrumentos de sopro e, claro, a afinação impecável do coral que se apresenta num círculo ao redor da banda. Além disso, os shows ainda contam com a participação de artistas convidados e momentos de confissão ao vivo.

As apresentações não são simples shows, são um evento monumental!

https://www.youtube.com/watch?v=Mr0OwwBwaDc

Jesus is King é o nono álbum de estúdio de Kanye West, mas é o primeiro após a formação do Sunday Service. Aqui Kanye West não faz pequenas alusões a Jesus Cristo, mas se rende totalmente a sua grandeza, assumindo um papel secundário, ainda líder de toda uma geração, mas um degrau abaixo.

Não podemos esquecer que estamos falando de Kanye West. É provavelmente a pessoa mais presunçosa do mundo. Para ele se colocar num degrau abaixo de alguém, ainda que o próprio Deus já é um grande passo.

Afora essa atitude extremamente louvável e a mudança completamente positiva em sua persona, temos ainda um projeto musical impecável. As canções são curtas e o CD todo não chega a meia hora, mas essa brevidade apenas adiciona a toda a genialidade do projeto. São pequenos, mas valiosos diamantes expostos de maneira muito bem trabalhada, ensaiada e resultado de um ano de parceira séria, honesta e talentosa.

O resultado é uma obra prima musical, que não encontra valor apenas nas fileiras de música gospel, mas da música pop em geral. Não é a toa que estreou em primeiro lugar na Billboard.

As letras podem não ser tão profundas, mas apresentam uma boa quantidade de ricas referências bíblicas, conectadas ao mundo atual, que fazem do álbum um gospel ousado e forte.

Para os ateus e os cristãos jujubas, o álbum pode ser ruim, problemático e até ofensivo, mas para aqueles que seguem a Deus sentirão nessa obra de arte a presença inegável do Espírito Santo e um artista agraciado, no seu auge.

Imperdível.

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Links sortidos de quarta #16

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Há muito tempo atrás, o bispo Fulton J. Sheen, deu uma entrevista. E aparentemente, ele conseguiu profetizar os nossos tempos.

Você conhece os Hantu? São os fantasmas da Malásia.

Breve artigo sobre George Soros. Logo, logo, indicarei um maior e mais profundo.

O Chile precisa de mais "neoliberalismo" e não menos, como defendem os revoltosos financiados.

E do lugar mais improvável da web, sai um artigo pra lá de bom sobre a demagogia artística que assola a mente, principalmente, de jovens no Brasil.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Lendo O Senhor dos Anéis pt.4 - Finalizando

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E finalmente chegou o grande momento de acabar a leitura de O Senhor dos Anéis. Terminei há algumas semanas e o impacto ainda reverbera em meu ser. Em fevereiro desse ano, mais especificamente no dia cinco, e desde então fiquei envolvido nessa leitura, ora chata, ora excitante, ora cansativa, ora rejuvenecedora, ora estagnada, ora inspiradora. Quando comecei a leitura o ano letivo da faculdade nem tinha começado, passei o carnaval na fazenda de um amigo, fugindo da degeneração que assola esse país e mais gravemente a cidade em que moro, iniciei um namoro, passei por uma greve dos ind(o)ecentes, descobri uma pedra no rim e iniciei um laborioso processo de luta contra meus demônios pessoais. Não foi fácil, no meio tempo li outros livros, como Fausto e Ascent, bolei um plano de leitura que envolvia parar a leitura entre seus livros, o que prolongou ainda mais a leitura, mas enfim terminei.

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O último livro de O Senhor dos Anéis, nomeado O Retorno do Rei inicia-se com a batalha final entre os exércitos do oeste, uma aliança entre os homens de Rohan com outros grupos de guerreiros e os exércitos do leste, formado basicamente por Orcs, mas também com outras forças do mal sob a liderança de Sauron. Saruman já está derrotado e mal aparece nesse livro, que também é formado por outros dois livros, o quinto e o sexto da saga.

Li o quinto livro em uma semana tão bom ele é.

Apesar das longas descrições, Tolkien não perde tempo com filuras e nos coloca no olho do furacão da batalha, fazendo-nos sentir cada flecha que passa pelas cabeças dos bravos guerreiros que lutam pelo término do mal na Terra Média. A luta é épica e podemos ver tudo dos olhos daqueles que se encontram no meio dela, os guerreiros, os guardiões de fortaleza, os cavaleiros e, porque não? As guerreiras também.

No entanto, ao mesmo tempo em que esse livro é extremamente bom, ele também é inconclusivo, pois termina antes da batalha acabar, abrindo espaço para acompanharmos as aventuras de Frodo e Sam perto do Orodruin, no sexto e último livro da saga.

Aqui a leitura se torna muito mais cansativa. Se Tolkien é um gênio da descrição, ele também é um gênio em criar atmosferas e se isso é bom para as atmosferas belas ou sublimes, isso é terrível para as atmosferas morosas e desoladoras. A trajetória dos hobbits na busca pela destruição do anel é cansativa, devastadora para o espírito deles e a leitura acompanha esses sentimentos. Apesar de eu me incomodar com isso, pois queria logo terminar o livro, agora, pensando com calma, entendo o quão poderoso isso é e o quão genial Tolkien foi na criação do seu épico.

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E ao final, quem destrói o anel todos sabemos, foi Golum, num último grito de Tolkien para a sua própria teoria de criação literária, a eucatástrofe, aquilo que de bom e redentor que ocorre quando tudo parece estar perdido, uma espécie de Deus Ex Machina, mas baseada na ação humana em direção ao Bem Maior. É a luta diária do cristão pela Graça colocada na forma de um épico pagão grandioso e muito bem trabalhado.

Ao final, as desventuras não terminam, como também na vida real. A destruição do anel ocorre na metade do sexto livro e ainda há dúzias de páginas para serem lidas, onde os hobbits colocarão em prática tudo aquilo que aprenderam, exibindo suas cicatrizes como um sinal de aprendizado e maturidade. É só assim que o Reino dos Céus pode ser alcançado e a última viagem realizada.

Apesar de um certo tom melancólico, uma clara definição do fim de uma era onde os elfos vão embora da Terra Média para nunca mais voltar, o livro termina de maneira puramente singela. Esse é o único adjetivo que eu consigo encontrar para essa obra fenomenal, singelo.

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A leitura é altamente recomendada para todas as pessoas. O Senhor dos Anéis é um livro profundo, carregado de significado, formando uma ponte clara com o maior livro de todos os tempos, podendo mudar de fato a sua vida. Eu, infelizmente, o encontrei num momento da minha vida em que busco outras leituras, no entanto, gostei demais da obra e não me arrependo de ter perdido tantos meses da minha vida nessa leitura, aliás, não perdi, só ganhei.

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sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Em defesa de Augusto Nunes

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Ontem o mundo jornalístico foi abalado quando Augusto Nunes fez uma demonstração incrível de força, coragem e impotência quando foi acusado de chamado de covarde pelo Glenn Greenwald.

Entenda: os dois começaram a trocar farpas logo no começo do programa! Augusto Nunes fez duras críticas a Glenn Greenwald há tempos, levantando questões sobre seu trabalho, as ligações de seu marido e, pelo visto, fez um comentário irônico acerca da família do gringo, que não entendeu e o confrontou com isso. Augusto, muito pacientemente, explicou o que fez, nada mais do que um comentário irônico, bem humorado e não uma crítica mordaz a sua família, como foi entendido por Glenn.

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Glenn Greenwald já é figura carimbada aqui no blog. Não tenho nenhuma simpatia por ele, já desde meses atrás. Ele tentou destruir a reputação do agente público mais respeitado do país, que fez um trabalho acima de qualquer suspeita liderando a maior operação anti-corrupção do mundo. Um juiz que está dando aula pra magistrados no mundo todo e ele fez isso com o quê?

Com praticamente nada!

Com material roubado, vendido e comprado através do mercado negro, possivelmente adulterado e a troco de quê? Pode não ter sido a intenção dele (e ainda assim, duvidamos), mas sua atitude completamente anti-ética abriu espaço para toda a desestabilização jurídica que vemos no país hoje. Vivemos a beira de um faroeste digital e não vai ser legal como nos faz crer a estética cyberpunk.

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O que o Glenn tem de vida, o Augusto Nunes tem de carreira jornalística e ele estava lá, dando uma aula para o gringo de interpretação de texto e o que o Glenn faz? Parte pra ignorância, como outro da sua laia fez e recebeu uma resposta igualmente ignorante, um sopapo na cara.

Devemos partir pra ignorância sempre que possível? Claro que não, mas o caso é excepcional, não é uma regra. Pior do que isso, é a quantidade de urubus carniceiros e aproveitadores que tentam se aproveitar dessa situação pra invalidar toda a direita nacional e internacional, chamar todo mundo de fascista e ignorar toda as atividades anti-éticas do jornalista (mas isso eles já fazem há tempos), que foram inclusive abordadas pelo programa Pânico após a saída do Augusto Nunes.

O que mais me incomoda não é nem dividir o país com o tipo de gente que defende esses pulhas, mas ter que dividir a língua com esses cegos ideológicos. Se ao menos falassem coreano ou suahili, estaria tudo bem! Eu não passaria nervoso com esses biltres.

Esse ano descobri que sou vítima de somatização. Passo nervoso com esse tipo de canalha infame todos os dias. Ontem também ouvi uma safardana pronunciar a pérola "Eu acho que já vivemos numa ditadura". Tudo isso tem feito muito mal para mim e apenas um lado, ao menos, faz esforço para tentar conversar com o outro lado. Glenn Greenwald não teria ido ao programa se soubesse que Augusto Nunes estaria lá. Todo direitista conhece os livros de Foucault, Zizek, Marx, Keines e afins. Nenhum esquerdista conhece Oakshott, von Leddin, Burke e Tocqueville.

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O que Augusto Nunes fez foi canalizar e liberar na cara de Glenn, literalmente, todo o sentimento de indignação que o brasileiro anda sentindo desde que tentaram derrubar Moro. Eu, como estudioso de René Girard, entendo os perigos disso. Glenn tem se enquadrado cada vez mais no papel de bode expiatório, é claro isso, mas adivinha de que lado estão as pessoas que compreendem isso? Pois é. Apenas um lado dessa polarização  política está pronta para amadurecer e trabalhar para um Brasil melhor, mas vai tentar falar isso numa universidade pública, num evento de quadrinhos ou num show de rock... tenta a sorte.

Eu, de minha parte, só quero comprar um sitiozinho, algumas vacas, bois, porcos e galinhas, montar uma hortinha e viver lá, pro resto da minha vida, isolado desse infame mundo moderno.

Enquanto isso não se realiza, só nos resta rir mesmo... desesperadamente.

https://www.youtube.com/watch?v=p5EqAek9UME

 

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Dica cinematográfica: "Angst" (1983)

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Este não é um filme para todos os gostos, mas eu gostei, então já vou deixando minha dica aqui.

Angst é um filme austríaco de 1983 que conta a história de um serial killer inominado ao longo do filme acabando de sair da prisão, após passar mais da metade da sua vida preso por assassinar sua mãe e entrando numa onda de assassinatos para saciar os seus desejos perturbados.

O filme é perturbador, pois nos faz entrar na mente do assassino, que narra todo o filme, contando sua história de vida, suas intenções ao longo do filme, após sair da prisão e seus planos para o futuro. A frieza com a qual somos apresentados aos seus pensamentos perversos, revela a natureza desumana de um bárbaro.

Apesar disso, o filme, assim como toda obra de arte decente, aponta uma luz no final do túnel, alertando-nos contra a leniência do sistema judicial. Não conheço o contexto da Áustria na época em que o filme foi produzido, mas ele serve muito bem para alertar os brasileiros de hoje que se rendem ao charme da bandidolatria. É necessário ter pulso firme com os criminosos.

A atuação de Erwin Leder, como o psicopata é genial, digna de prêmios e mais prêmios, pois ele consegue transmitir com todo o seu corpo o estado de selvageria a que seu personagem chega, forçando um sentimento de repulsa em todos que assistem.

A direção é igualmente perturbadora, desornada, refletindo os pensamentos débeis de um ser que nem sequer pode ser considerado humano, flutuando pelo cenário, muitas vezes acima da cabeça dos personagens, às vezes estática num ponto muito específico do cenário ou dos personagens, tirando-nos da nossa zona de conforto que espera closes amplos ou closes médios, sempre parados, deixando as ousadias para um tímido contra-plongé aqui e ali.

Esse filme é ousado.

E a trilha sonora não deixa para menos. Oscilando entre acorde agudos de teclado, longos com a intenção de gerar uma melancólica canção e bravas batidas de bateria eletrônica parecendo vir de um Cassio antigão, ela também perturba, reforçando a atmosfera de horror, desespero e inconstância que perpetua todo Angst.

A obra é um verdadeiro pitel, uma raridade que merece ser escavada para apreciação e aprendizado, com grande valor estético. Um trunfo da Áustria.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Dica musical: "Carole & Tuesday OST vol.1"

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Como ainda não recomendei a melhor trilha sonora de anime da década ainda?

Carole & Tuesday foi um sucesso, um anime fenomenal, que já recebeu meus elogios aqui no blog e merece muito mais, pois é tudo aquilo que falei e muito mais. O primeiro volume de sua trilha sonora compila algumas das melhores músicas apresentadas na primeira parte desse anime, já disponível na Netflix para você assistir.

Mais uma vez, a genialidade de Shinichiro Watanabe é demonstrada, pois foram convidados artistas para criar músicas para personagens dentro do anime. Cada artista ganhou um personagem e as canções acabam sendo marca registrada dos personagens, angariando ainda mais forma e peso às suas personalidades.

As canções também servem para refletir o ambiente cultural em que se situa o anime, infelizmente, não há espaço para o jazz de Cowboy Bebop, nem para o pop anos 70 de Space Dandy, muito menos para o pós-rock de Zankyou no Terror. Nem mesmo o rap de Samurai Champloo se encontra presente e um grande desfalque no CD é a canção de Flying Lotus com Thundercat, dando voz a Skip.

No entanto, o que sobra é um pop genuinamente bom. Até mesmo as canções massificadas de Angela são boas e é o único CD que me fez ouvir pop desde James Blake em 2011!

A diversificação das canções é o ponto forte, conferindo ao álbum ares mais leves, mais pesados, mais dançantes, mais contemplativos, belos e sublimes. Tem de tudo um pouco e nada é misturado ou bagunçado. A ordem é plena e o resultado é extremamente satisfatório.

Vale muito a pena escutar esse belezura do começo ao fim!