quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Dica cinematográfica: "Memórias do Subdesenvolvimento" (1968)

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Em tempos de insegurança jurídica, ignorância generalizada e ambivalência política, esse filme se torna uma obra emergencial para tirar, nem que seja um pouco, o véu que cobra nossos olhos.

Sérgio, um cubano atingindo a meia idade, decide continuar na ilha enquanto sua família parte para Miami fugindo da ditadura socialista que havia se instalado. A partir daí entramos numa viagem introspectiva pelas memórias de Sérgio que se confundem com a memória revolucionária daquela ilha que um dia teve a Paris do Caribe e hoje não passa de uma fossa, cada vez mais profunda e escura.

O filme é uma obra experimental que mistura elementos de documentário com uma narrativa intimista, mas, ao contrário de tantos outros filmes parecidos, este funciona muito bem. Acompanhamos de forma fragmentada as memórias de Sérgio antes da revolução, seu relacionamento complicado com sua mulher e os acontecimentos logo após, suas discussões com amigos contra-revolucionários e as desgraças que acometeram Cuba, como fome, guerra civil e alienação cultural.

Os monólogos de Sérgio contém diversos insights valiosos sobre a situação do país e as imagens, fotos, registros de vídeo e afins apenas reforçam o que já está sendo dito. Para nós, brasileiros, é possível extrair uma senhora lição sobre o nosso complexo de vira-lata, que nos faz ignorar os fatos, abraçar cegamente ícones subversivos e renegar nossa história para o fosso do esquecimento.

O filme é complexo e visto com carinho tanto por revolucionários quanto por contra-revolucionários, mas é interessante que, tanto de um lado quanto de outro, é um filme que se posiciona contra essa esquerda que se encontra no poder e faz de tudo para lá permanecer, nem que tenha que mudar todo o ordenamento jurídico do país ou destruir tudo.

Ultramente recomendado para aprendermos uma lição de história.