terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Dica literária: Flaming Carrot

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Comecei a ler esse quadrinhos depois de ler um post sobre ele na coluna do Caruso no Abacaxi Voador.

Flaming Carrot é um personagem que estreia sua própria história em quadrinhos, homônima, e é "peculiar", para dizer o mínimo.

Olha para o desenho acima e já dá pra ter uma ideia do que se trata a história; ou seja, nada lógico! Para começar, o quadrinho passou na mão de diversas editoras lá nos anos 80 (o BOOM de quadrinhos independentes), mas nunca conseguiu o sucesso de outras publicações da época (uma minoria, de fato, sobreviveu até hoje). Suas primeiras histórias foram publicadas como fanzines, copiadas no xerox e distribuídas em eventos pelo autor, por isso sua historia de origem não é encontrada em lugar nenhum, mas o número 1 é tido como a primeira edição publicada pela editora Aardvark-Vanaheim, uma editora independente do Canadá. A editora fez relativo sucesso no Canadá com a revista Cerebus e alguns títulos, como o Flaming Carrot conseguiram pegar carona no sucesso de Cerebus e conquistaram uma boa base de fãs regionais. Após alguns problemas burocráticos, Flaming Carrot e outros títulos da editora passaram para a Renegade Press e conseguiu ser publicado de forma esporádica até 2002, dessa vez pela Dark Horse. Numa tentativa de ressuscitar o personagem a Image o publicou de 2004 a 2006.

O próprio autor não esperava que sua base de fãs fosse tão fiel e quem lê Flaming Carrot, de fato, nunca esquece. A história é sobre um homem que após ler 5000 gibis de uma vez só para ganhar uma aposta ressurgiu na frente de todos como uma cenoura flamejante. Ele não tem nenhum poder e vence os inimigos com pura determinação, imbecilidade e uma baita sorte convencional. Inimigos que podem ser de comunistas a alienígenas, todos bizarros.

O senso de humor é, de certa forma, exigente, pois se vale de elementos bizarros para provocar risadas, quebras bruscas na ação (por exemplo, algo está acontecendo, como um roubo, e o Flaming Carrot simplesmente vira suas costas e vai embora), além de uma narrativa infantilóide típica de desenhos antigos como Tom e Jerry e Pica-Pau (por exemplo, bigornas caem do céu e derrubam o inimigo, do nada), sendo meio pastelão também.

Mas um ponto extremamente positivo é que a história do Flaming Carrot não fica estagnada, há uma evolução do personagem (que é um tremendo imbecil), sendo responsável por até criar uma liga de super-heróis (os do colarinho azul, um termo estadunidense para designar os trabalhadores do setor de serviços básicos, como lixeiros, pedreiros, marceneiros, metalúrgicos, essas coisas), algo que não é comum nessas histórias mais absurdas de comédia, quem lê quadrinhos, sabe.

Outro ponto legal, mas não para todos, é o ponto de vista histórico que esse gibi garante, sendo legal para quem tem curiosidade em saber como era esse período de boom dos quadrinhos independentes, tendo um traço característico da época, sendo preto e branco e, é claro, o humor que toca em algumas questões históricas, como a Guerra Fria e a Guerra do Vietnã, por exemplo.

Enfim, Flaming Carrot é uma obra que, a princípio, assusta, mas vale a pena ser lido e gera uma certa compensação moral ao final, por se tratar de algo tão obscuro, mas ao mesmo tempo, tão divertido, se, é claro, você souber desligar de fato o cérebro para lê-lo.

4 pontos

p.s.: as histórias do Flaming Carrot foram compiladas em 3 volumes (acho) capa dura pela Dark Horse ou Imagem (não lembro), mas não é muito fácil de ser encontrado, mesmo em terras internacionais, portanto deixo aqui um torrent que compila tudo que já foi publicado do personagem, inclusive histórias extras, como o crossover com as Tartarugas Ninja, que não foram compiladas pela Dark Horse ou Image (não lembro e tô com preguiça de pesquisar).