quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Dica cinematográfica: "Mahjong" (1996)

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Confesso, não conheço muito da história de Edward Yang, mas desde que entrei em contato pela primeira vez com suas obras cinematográficas há uns bons 6 anos, fiquei fascinado com seus filmes obscuros, cultos e corajosos.

Mahjong é sua penúltima obra e, apesar de ser construída como uma farsa, carrega ótimos momentos dramáticos, contando a história de Red Fish que se vê numa batalha entre a máfia taiwanesa e seu pai, que emprestou uma quantia absurda de dinheiro e como não consegue pagar, decide fugir. Seu filho também é membro de uma gangue de vagabundos que vivem dando pequenos golpes e o filme se estende entre essa narrativa principal e as diversas ramificações geradas pela interação de Red Fish com outras figuras numa viva Taipei.

Taipei é o centro do filme, que não deixa de exibir a beleza moderna da cidade, principalmente nas cenas noturnas, mas são os personagens que roubam a cena, em especial, o núcleo formado por Luen-Luen e Marthe, uma francesa que vai para o extremo oriente em busca de um cara que a abandonou em Londres. O filme carrega muito do cosmopolitanismo que se formou no extremo oriente nos anos 90 e início dos anos 2000, gerando verdadeiras "cidades do mundo".

Isso gera diversos momentos de reflexão profundos, apesar de breves, como mais para o final do filme, quando o ex de Marthe expõe um diálogo dizendo que Taiwan será o ápice da civilização ocidental e vendo o que acontece hoje em Hong Kong seu monólogo ganha um tom profético.

Mas o filme não deixa o humor de lado, criando situações bizarras, beirando o absurdo e diálogos inteligentes, mas sarcásticos, carregando o filme com um certo humor negro que abre ainda mais oportunidades para reflexões, seguindo o pensamento anti-China, anti-materialista e patriótico pró-Taiwan de Edward Yang, presente também em outros filmes de sua carreira.

Tudo isso fazem de Mahjong um filme corajoso, sui generis, sublime e reflexivo. Uma pérola dentro da cinematografia de Edward Yang.