terça-feira, 8 de outubro de 2019

Dica literária: "Fausto, segunda parte"

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E agora sim, a dica derradeira, a segunda parte do poema épico e trágico de Johann Wolfgang von Goethe.

A história nessa segunda parte inicia-se com Fausto deitado num gramado, uma área aberta, que irá prenunciar a amplidão que essa obra irá ganhar em comparação com seu início. Continuando seguindo o seu plano, Mefistófeles garante com que Fausto consiga tudo que ele sempre obteve, mesmo que isso envolva disfarçar-se dentro de um palácio imperial, invocar o espectro de Helena de Troia e dar a ele uma ilha inteira.

A segunda parte dá os tons épicos pelo qual Fausto é conhecido. Se na primeira parte temos muitas imagens góticas, remanescentes do romantismo, aqui o romantismo é morto, dando espaço para o neoclassicismo que Goethe passou a admirar com sua viagem para a Itália, após muitos anos de trabalho burocrático.

Temos uma nova noite de Valpúrgis, apenas com figuras mitológicas greco-romanas, a presença de Helena de Troia, uma guerra civil sendo travada sob o império desse imperador que não se apresenta e finalmente um projeto que foi expropriado por marxistas no século 20 (um tiro no pé, diga-se de passagem, mas isso não cabe nessa dica).

Mais uma vez a editora 34 faz um excelente trabalho, guiando o leitor no meio dessa amálgama de mito, religião, política, história e filosofia, com suas extensão notas de rodapé e as introduções para cada cena.

A tradução de Jenny Klabin Segall, que se confunde com a própria criação poética de Goethe (afinal a tradução de Fausto também se estendeu por quase toda a vida da tradutora, assim como a sua criação foi o projeto de vida do poeta), continuou excelente, mantendo quase todos os sentidos e, esforçando-se ao máximo para manter a estrutura e suas rimas. Foi um trabalho hercúleo admirável.

O encerramento é singelo, belo e poderoso, com imagens incríveis que retomam ao maior épico de todos os tempos, A Divina Comédia, conseguindo transpor para suas páginas quase que a mesma sensação que a obra dantesca, um espanto, uma sensação de medo, mas provocada pela grandiosidade de seu conteúdo.

Ao contrário de Dante, não sinto que Goethe estava especialmente iluminado, abençoado pelo Céu ao escrever sua obra, mas ele se revela a mim como um trabalho de um verdadeiro gênio, aquele que, nas palavras de Schiller, nem precisava se esforçar para criar uma obra incrível, imagine então quando se esforçasse? O resultado é isso aí.