quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Dica audiófila: Fone AKG K404

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Meu atual fone, mas que logo irei trocar é uma pequena decepção, mas não deixa de ser um bom dispositivo para você, que procura uma bacana opção de custo-benefício no mercado audiófilo.

A primeira vez que conheci esse fone foi num shopping aqui da cidade, numa dessas lojinhas de bancada da AKG. Não sabia que a marca era assim tão acessível, fisicamente falando e me surpreendi. Depois vi o preço do fone, meros 60 reais e fiquei atraído. Tempos depois, quando meu Edifier parou de funcionar (snif :’( ), decidi comprar esse fone, que havia me chamado a atenção há muito tempo.

No entanto, me decepcionei, primeiro porque ele é muito menor do que o Edifier, é um over-ear que incomoda se você é daqueles, como eu, que passam muito tempo ouvindo música. Outra desvantagem é que a sua potência sonora não é tão alta, ou seja, nada de música alta. Sua estrutura também deixa a desejar, parecendo muito frágil, mas só parecendo, pois o aparelho é resistente.

Fora isso, é um bom fone, apresentado uma qualidade sonora bem equilibrada, com alguma cadência maior aos graves, mas não é como esses fones vagabundos de camelô. É uma dedicação realmente válida aos graves, talvez para suprir uma necessidade física mesmo, já que você não pode deixar o volume no último em canções mais barulhentas.

Para as músicas mais calmas, como aquele jazz gostoso de um domingo de manhã, é ideal e para viajar, é fantástico. O fone é dobrável e fica muito pequeno, vindo com uma sacolinha pra você carrega-lo de um lado a outro.

É um aparelho realmente portátil, resistente e de design simples, com uma boa qualidade sonora, apresentando uma ótima relação custo-benefício.

3 pontos e meio

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Dica Musical: “Desde que o mundo é cego” por Fernando Motta (2017)

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A Lupe de Lupe acabou e acho que não volta mais, mas enquanto houverem músicos talentosos da Geração Perdida de Minas Gerais na ativa, como Fernando Motta, eu vou estar contente.

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Conheci Fernando Motta a primeira vez durante a turnê “Sem sair na Rolling Stones 2.0”, em que ele tocou guitarra junto com Vitor Bauer e Jonathan Tadeu, apresentando algumas músicas bem tristes numa noite quente muito legal.

Não me surpreendi, mas quando o primeiro single desse álbum saiu (“Futebol (colônia de férias)”) me animei e logo que o álbum saiu ouvi. A maioria das músicas eram, de fato, bem diferentes do single, mas não deixam de ter o seu valor.

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São, em sua maioria, músicas tristes, seguindo uma pegada meio lo-fi, de arranjos simples e letras inventivas, com uma forte pegada romântica em suas elaborações narrativas. É um álbum bem reservado, mas pensativo, com grandes espaços para que cada arranjo e pensamento que Fernando Motta joga possa cair, descansar e ser assimilado pelo ouvinte.

E o álbum também apresenta uma certa narrativa quando ouvido de cabo a rabo, as canções vão se tornando mais elaboradas e também mais agitadas, se tornando mais elétricas e animadas conforme o álbum se aproxima do fim, para terminar num quase monólogo, bem relaxante e tranquilo.

Típico daquela turminha bacana de Minas Gerais que vêm fazendo um ótimo trabalho e este disco de Fernando Motta não é diferente.

É um álbum bom, inventivo, pensativo, mas agitado, com poucas, porém marcantes explosões sonoras ao longo de sua projeção.

4 pontos

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Dica quadrinística: “Os maiores Super-Heróis do mundo” de Paul Dini e Alex Ross (2005)

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Depois da publicação de “O Reino do Amanhã”, Alex Ross começou a pensar na publicação de uma história que retomasse o lado mais clássico dos heróis, só que sem carregar a metalinguagem do quadrinho posterior e para isso contou com a ajuda de Paul Dini e juntos criaram uma mini série em 6 edições num formato especial, que foi compilada no volume chamado “Os maiores Super-Heróis do mundo”.

4 das quatro edições foram lançadas para celebrar o aniversário de 60 anos de Super-Homem, Batman, Mulher-Maravilha e o Shazam, cada um focando num tema arquetípico para os super-heróis; paz, crime, mito e magia, respectivamente. As outras 2 histórias são especiais da Liga da Justiça, a primeira contando a origem de outros personagens essencial da super-equipe; Flash, Aquaman, Lanterna Verde, Ajax, Arqueiro Verde, Canário Negro, Homem-Elástico, Gavião Negro e Mulher-Gavião. A segunda conta uma aventura na qual a Liga da Justiça deve trabalhar unida para poder vencer um inimigo do espaço.

O que mais chama a atenção nas histórias compiladas nesse livro é o aspecto humanizador das histórias, aproximando os heróis de dramas reais, fazendo-os abandonar os seus poderes para conseguir exercer sua função heroica, nem sempre com resultados positivos. Como Super-homem, que tenta acabar com a fome mundial, mas se vê impossibilitado de criar um impacto em grande escala, pela ganância humana ou a história de Mulher-Maravilha, que sequer consegue se aproximar das pessoas que mais precisa dela por puro preconceito. E o inimigo do espaço na história da Liga da Justiça? É um vírus, invisível e letal.

Juntas, essas histórias conseguem exercer o papel fundamental das histórias em quadrinhos, que é o de aumentar a empatia das pessoas através de uma saudável leitura. Somos apresentados a histórias que emocionam e nos fazem acreditar no poder que nós, seres humanos comuns, temos. São, realmente, inspiradoras.

Um aspecto interessante e não sei se foi intencional ou não (provavelmente sim) é o aspecto político dessas histórias. Todas elas podem ser facilmente identificadas com ideias liberais-conservadores clássicos e uma análise ideológica mais à direita pode ser facilmente realizada. Já na história do Super-Homem temos uma bonita lição de individualismo, a espontaneidade da criatividade humana e a liberdade. As próximas histórias apenas reforçam ideias de solidariedade, empreendedorismo e ordem espontânea.

A edição lançada esse ano para a Panini é realmente de luxo, num formato muito maior que os de quadrinhos normais, porém no tamanho original, pois o intuito de Paul Dini e Alex Ross era o de proporcionar uma experiência de leitura que retomasse uma tradição antiga dos Estados Unidos, onde quadrinhos eram publicados em formato maior.

A arte de Alex Ross é impecável, o texto de Paul Dini é valoroso e acaba valendo cada centavo investido nessa legítima obra de arte.

5 pontos

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Um post de Economia com um economista de verdade.

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Este post surgiu como uma ideia para podcast, mas como eu logo acabei desistindo dessa ideia (embora ainda esteja pensando num podcast de final de ano), eu decidi adotar a ideia de um podcast sobre economia para um post, o que acabou se transformando numa entrevista com meu colega McPhisto (atendendo a seus pedidos).

Essa entrevista está com alguns comentários meus, pois elaborei as perguntas sem ele e quando recebi as respostas, percebi que estava me equivocando e essa é a principal falha de uma entrevista por escrito, você não consegue se corrigir na hora e reelaborar as perguntas ou fazer perguntas com base nas respostas, explorando mais a fundo um tema que acabou de aparecer na resposta, eis porque eu queria fazer um podcast.

Enfim, fiquem com a entrevista, que está bacana e poderá esclarecer muitas questões, que você, meu leitor politizado, deve ter.

1 – Primeiramente, um bom dia, boa tarde e uma abençoada noite para você, McPhisto, agradeço por aceitar o convite. Como você está?

Bom dia Beijador de Rolas, estou muito bem, obrigado pelo convite!

2 – Segundamente, você pode nos falar um pouco da sua formação profissional, caso não seja muito incômodo?

Sou formado em Ciências Econômica há 11 anos e tenho registro profissional há 10. Sou pós-graduado em Gerenciamento de Projetos e estou me pós-graduando em Docência do Ensino Superior. Sou funcionário público atuante na área e presto conselhos sobre a Profissão a novos profissionais como parte do meu trabalho. Já atuei em diversos projetos de pesquisa em instituições como o SEBRAE e a CPRM.

3 – Terceiramente, antes de começarmos com perguntas mais profundas, gostaríamos de saber, o que diabos é “Economia”? E qual a diferença entre Economia e Ciências Econômicas, na prática?

Economia vem da junção de palavras gregas que significa ciência doméstica, ou seja, a capacidade do ser humano gerir as suas atividades domésticas. Importante frisar que na antiguidade não havia companhias ou empresas, então gerir as atividades domésticas envolviam tudo aquilo que estava dentro da propriedade de uma família, que poderiam ir desde a criação de animais até a confecção de um utensílio de cozinha, por exemplo.  Com passar do tempo, a Economia evoluiu para tudo o que envolve as relações humanas comerciais e financeiras dentro de uma sociedade. A Ciência Econômica por sua vez se firmou como método acadêmico para analisar os fatos econômicos ocorridos em nosso cotidiano e assim poder mensurar e obter resultados científicos.

4 – Tenho a impressão de que Economia é uma área quase como psicologia, ninguém sabe direito em que área do conhecimento humano ela pertence e há diversas correntes teóricas, muitas deles que se contradizem em diversos pontos. Minha impressão está correta? E se sim, quais são as principais correntes de pensamento dentro da Economia?

A Economia apesar de ter um referencial matemático e estatístico muito forte é uma ciência da área de humanas, e nos últimos 50 anos com estudos realizados pela Escola de Chicago, elementos da Psicologia tem ganhado cada vez mais importância na Ciência Econômica, uma vez que as decisões humanas podem causar distorções nas aplicações das políticas econômicas. Nos EUA, o campo do Marketing pertence à Ciência Econômica e seu principal expoente, Philip Kotler, é graduado, mestrado e doutorado em Economia, o Marketing nada mais é do que utilizar técnicas psicológicas para garantir uma boa relação entre organizações e consumidores.

Esse é o exemplo de uma pergunta que surgiu depois, seria interessante explorar mais esse lado teórico da Economia, mas vai ficar pra um próximo post...

5 – Ferreia de Gullart dizia que o "capitalismo não é uma teoria. Ele nasceu da necessidade real da sociedade e dos instintos do ser humano. Por isso ele é invencível. A força que torna o capitalismo invencível vem dessa origem natural indiscutível. Agora mesmo, enquanto falamos, há milhões de pessoas inventando maneiras novas de ganhar dinheiro. É óbvio que um governo central com seis burocratas dirigindo um país não vai ter a capacidade de ditar rumos a esses milhões de pessoas. Não tem cabimento." Você concorda com isso? O que diabos é capitalismo?

Concordo, pois o ser humano é egoísta e ambicioso em sua natureza, pouquíssimas são as pessoas que conseguem viver com tampouco por opção própria, é da nossa natureza sempre querer mais, sempre ter as coisas da moda, crescer profissionalmente, poder viajar, ter o joguinho novo de videogame, comprar o celular de última geração, ou seja, de uma forma ou outra, o ser humano sempre quer ter mais, quer se sentir bem  com os bens materiais e o capitalismo é a única forma de prover essas necessidades. Capitalismo é modelo econômico aonde o mercado é o responsável para equilibrar a alocação dos fatores de produção, como a mão de obra, capital e matérias primas mediante as disponibilidades da Oferta e a exigência da Demanda.  Nas Economias em que o Estado exerce o papel de alocar os fatores de produção, a produção de mercadorias não atende às necessidades da população de modo eficaz como ocorre no Capitalismo.

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A todos os babacas que colocam a culpa no Capitalismo pra todos os seus problemas no mundo, fica aqui a lição de alguém que entende de Economia, de verdade.

6 – Ao longo do século 18 e principalmente no século 19, teóricos passaram a demonizar o capitalismo, em especial, a teoria marxista. Qual seriam as bases para essas ideias? Por que elas se tornaram tão importantes e influentes até hoje?

Alguns poucos teóricos realmente passaram a demonizar o Capitalismo, mas foram apenas no século 19, uma vez que não existia uma definição completa de Capitalismo no século 18, afinal a Economia como Ciência passa a ser reconhecida pelo pioneirismo de Adam Smith. As correntes contrárias ao Capitalismo que construíram essa má reputação desse modelo econômico se embasaram em situações que realmente foram constatadas durante a Revolução Industrial, onde as condições sociais, econômicas e sanitárias eram extremamente pesadas nas grandes cidades industriais. Não haviam direitos trabalhistas, as jornadas de trabalho eram extensas e exaustivas, o trabalho infantil era permitido, a poluição era terrível, enquanto que os grandes capitalistas e suas famílias tinham condições de vida bem diferentes e confortáveis. É de se esperar que aparecessem críticos aos lados negativos desse Modelo Econômico, mas é justamente pra isso que serve o Estado, regular e promover a distribuição da riqueza pela sociedade.

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Como podem ver na resposta de McPhisto, meu primeiro equívoco, por que eu, simplesmente, não gosto de Marx, não odeio todos os marxistas, até tenho amigos marxistas, mas não tenho paciência nenhuma pra discutir Economia com eles ou qualquer outra área do conhecimento que seja muito influenciada por Marx, como história, por exemplo. Mas fica aqui meu desabafo: Marx foi muito importante, no entanto, suas ideias estão completamente defasadas. Você pode até achar que não, porque você é marxista e tal, mas elas não explicam mais a sociedade e quanto mais cedo aceitar isso, melhor.

7 – No entanto, diversos teóricos surgiram depois revidando as teorias marxistas. Em sua opinião, qual o problema das teorias marxistas?

As teorias marxistas enfatizam apenas o papel dos trabalhadores como verdadeiros donos dos resultados das produções fabris. Apesar do egoísmo e ganância dos proprietários dos meios de produção (nomenclaturas essas usadas pelos marxistas), sem eles não teríamos o avanço e as melhorias que a nossa Sociedade Econômica atual dispõe, pois as pessoas são diferentes em suas habilidades, e algumas nascem para liderar enquanto outras pra seguir, além do que o Capitalismo recompensa as pessoas pelas suas habilidades e disposição a vencer, enquanto que no socialismo todos são recompensados igualitariamente, sem reconhecer os méritos individuais.

8 – Hoje em dia, falamos muito da Escola Austríaca. O que seria a Escola Austríaca? Qual a sua contribuição para a Economia e quais são seus defeitos?

A Escola Austríaca foi uma escola de Pensamento Econômico no qual as suas contribuições ainda ganham muita relevância até os dias de hoje e se fundamentam fortemente nas ideias originais dos Economistas Clássicos, principalmente Adam Smith. A Escola Austríaca acredita que a participação do Estado na Economia deve ser de mínima a quase inexistente numa Economia, ficando a cargo da “mão invisível do mercado” alocar todos os recursos disponíveis. As principais contribuições são referentes às ideias de estado mínimo que hoje ganham muito importâncias em relação à grande quantidade de corrupção que se constata no modelo de Estado atual. Um ponto negativo é que o mercado não funciona perfeitamente como deveria funcionar no modelo utópico defendido por eles, existem as distorções de informações, e a própria ganância intrínseca ao ser humano, permite que auto regulação seja sabotada.

9 – E a escola de Chicago? Quais suas contribuições e seus principais defeitos?

A Escola de Chicago desenvolveu e continua desenvolvendo as teorias monetaristas, aonde a Política Monetária é a ferramenta mais importante para o Desenvolvimento Econômico. Ela enfatiza que os Governos devem manter o orçamento equilibrado, com Investimentos sendo realizados pelo setor Privado tal qual defendido pela Escola Austríaca, assim como a baixa influência do Estado na Economia. Um ponto importante é a participação do Banco Central como agente regulador da Política Monetária e o mesmo deve ter total independência do Governo. Outro ponto positivo são os estudos relacionados às expectativas racionais dos agentes econômicos, sobretudo as famílias, onde fica difícil aplicar políticas econômicas de controle da inflação e desenvolvimento econômico sem levar em consideração essas expectativas. O ponto negativo é que as Políticas Monetárias levam um bom tempo para surtirem efeitos positivos numa Economia no que diz respeito à geração de emprego e renda, porém é bem eficiente na contenção da Inflação.

10 – Keynes e Hayek. Os dois a 80 por hora. Quem aumenta a economia de um país em menos tempo e quem permanece em crescimento por mais tempo?

A eficiência da Política Fiscal defendida por Keynes permite que uma Economia em recessão possa se recuperar mais rapidamente mediante o aumento dos gastos públicos, ou seja, basicamente jogar dinheiro público no mercado através de investimento para que o multiplicador keynesiano faça o efeito de multiplicação da renda. Hayek defendia que o Livre Mercado com a participação mínima do Estado na Economia seria o agente condutor do Desenvolvimento. Não é possível ter uma posição empírica, até porque isso nunca foi colocado em prática. Agora em relação à Política Monetária defendida pela Escola de Chicago fundada por George Stigler e Milton Friedman, permite que a Economia tenha um crescimento por mais tempo, pois como argumentei na pergunta 8, a Política Monetária tem efeito rápido na contenção da inflação, pois o aumento da taxa de juros retira o dinheiro (liquidez) do mercado, elevando a remuneração dos títulos públicos e assim “diminuindo” os gastos públicos. Por sua vez, com o aumento dos juros, o crédito disponível cai e assim o consumo e o investimento se retraem, acarretando assim na retração da economia, contendo a inflação. Quando se faz a operação oposta, ou seja, diminuindo os juros, o crédito aumenta e as expectativas de investimentos privados aumentam, pois a taxa de rendimento dos projetos ficam maiores e atrativos, e estes investimentos no longo prazo geram emprego, renda e consumo. É importante contextualizar que na época em que Keynes formulou a “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, o mundo estava mergulhado na grande depressão econômica da Crise de 1929, portanto eram necessárias medidas drásticas para a recuperação econômica, e em suas próprias palavras: “No longo prazo todos estaremos mortos”.

Olha só. Acho que essa foi a resposta mais importante, pois mostra que teorias econômicas, como tudo na vida, não é preto no branco. Keynes tem sua importância e sua teoria é necessária para um país, mas as teorias de Hayek também e são necessárias para um país continuar a evoluir.

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11 – Meu maior problema com o liberalismo é a questão do livre-mercado. Eu adoro a teoria, mas sempre travo na questão do monopólio. Numa visão econômica-liberal, os monopólios são um problema? Qual a solução?

Existem monopólios que são quase impossíveis de se reverter, como por exemplo as empresas de água e energia elétrica que demandam uma gigantesca infraestrutura de distribuição. Porém, muitos monopólios de empresas centenárias surgiram nas épocas em que justamente havia pouca regulação estatal. Outros se formaram das fusões de empresas, seja pela aquisição ou pela simples união amorosa de pessoas. Outro fator de surgimento de um monopólio se dá pela descoberta de um produto revolucionário ou invenção de uma nova tecnologia, e no caso em questão, as leis de patentes e de propriedade intelectual beneficiam a existência desses monopólios. Como você pode ver, são várias as causas da existência de um monopólio e elas são consequências mais da iniciativa livre do mercado do que propriamente da intervenção estatal, portanto não são de fato um problema, são na verdade a possibilidade para que empreendedores possam buscar e desenvolver novas alternativas para a quebra desses monopólios.

E com isso aprendemos que monopólios não são coisas necessariamente ruins.

12 - E na sua visão, qual a solução para os monopólios?

A solução é o estimulo e incentivo para o desenvolvimento de novas tecnologias e produtos que possam concorrer e transformar o Monopólio em Concorrência Monopolista.

Concorrência Monopolista... fazia tempo que não lia um termo tão bonito.

13 – Eu sempre achei o marxismo uma teoria muito de humanas e que ninguém no ramo da economia realmente dá bola pro barbudão, no entanto, me surpreendi quando vi que na grade curricular do curso de economia da minha faculdade tem 4 semestres de uma aula que fala, principalmente de Marx e um semestre apenas dedicado a Escola de Chicago. Você acha que os cursos de Economia deveriam ser reformulados por causa disso? Quais caminhos seguir para uma reformulação do curso?

Acredito que o curso de Economia precisa de uma reformulação urgente e os 8 semestres são insuficientes para preparar o Profissional para o Mercado de Trabalho. É necessário que além de toda a teoria que já temos, possamos ter mais discussão das teorias, mais matemática, mais disciplinas aplicadas ao mercado de trabalho e mais disciplinas de gestão para conhecer melhor o mundo corporativo. Hoje, um estudante sai despreparado da faculdade, é necessário que o mesmo curse urgentemente um MBA ou um Mestrado Profissional se o mesmo quiser colocação imediata no Mercado.

Mais um equívoco motivado pela minha birra com o barbudão. Vimos que Marx não é o único problema nos cursos de Economia, mas também a distância com o mercado de trabalho, que, aliás, é um problema em todos os cursos, eu diria.

14 – Já discutimos isso, mas acho legal incluir no post: McPhisto, imposto é roubo?

O Imposto faz parte do “Contrato Social” que os cidadãos fazem ao escolher aquela nação para viver, o roubo por sua vez na verdade é o jeito desorganizado, ineficiente e corruptível que o Estado aplica esses recursos que deveriam em tese beneficiar a sociedade. Utilizar o modelo do estado mínimo e permitir que o setor privado realize as funções do estado através do sistema de voucher não é a solução. A solução é investir pesadamente em educação, desde a base até o ensino superior, e mesmo assim esse investimento só terá retorno daqui a duas gerações, 50 anos, fato este que já ocorreu na maioria dos novos países desenvolvidos como Japão e Coreia do Sul.

15 – Focando agora no nosso país. Como você vê o cenário econômico do Brasil atual? Em que ponto da Economia estamos, como chegamos a esse ponto e o que precisamos fazer para sair desse ponto, se for necessário sair desse ponto?

Segundo a FGV, a economia do país parou de cair no mês de dezembro de 2016 e desde então tem crescido timidamente, na verdade se recuperando timidamente da recessão. Estamos num ponto de chegar a Estaguinflação dos anos 80, aonde a economia não crescia e registrava inflação alta. A inflação numa economia pode ser causada por diversos fatores como Inflação de demanda devido um aquecimento muito forte da Economia ou Inflação Governamental, provocada pelos gastos excessivos do Governo e emissão de moedas para “pagar” esses gastos. No caso atual, apesar de instituições como IBGE e FGV registrarem queda da inflação nos últimos 6 meses, essa queda se dá pelo baixo consumo provocado pela falta de geração de rendas. Porém o que não estão sendo incorporados aos índices de inflação, “misteriosamente”, são as altas dos preços internacionais dos combustíveis que afetam os custos dos fretes e transporte, gás de cozinha e geração de energia elétrica, que por sinal já vem um novo aumento. Pode-se dizer que o Governo com certeza está mascarando alguns dados dos cálculos desses índices. A crise política é a principal causa desse desastre econômico do nosso País, e acredito que a economia somente começará a melhorar de fato a partir de 2019, quando entrar o novo governo. É preciso que o Governo realize a privatização da Petrobras e demais estatais, e as reformas como Previdência e Trabalhista causarão pouquíssimos impactos na geração de empregos. O país precisa na verdade é de confiança, o meio empresarial está cercado de incertezas, e enquanto essas incertezas não forem dirimidas, os projetos de investimento e geração de empregos não sairão do papel.

Agora, perguntas dos leitores:

16 - Mercosul e outros blocos econômicos ajudam ou atrapalham o comércio internacional?

Os Blocos econômicos foram constituídos com o intuito de desenvolver os países participantes, através da livre movimentação de recursos, fatores de produção e mercadorias dentro do bloco e assim poder criar economias de escala para que os produtos possam concorrer no mercado internacional. De fato eles ajudam pouco no comércio internacional, pois estabelecem taxas protecionistas para mercadorias produzidas por participantes de fora do bloco, porém, beneficiam muito os países participantes dos blocos. No caso da União Europeia, ultimamente esse pacto tem apresentado problemas, pois a união monetária tira o poder dos países membros de usar a Política Monetária, e o que acontece é que os diferentes países não seguem os ajustes fiscais para que todo o bloco funcione como um só, e assim com uma única política monetária para todos, acontece o desequilíbrio. Toda forma de protecionismo é prejudicial ao comércio internacional, e nesse ponto, todas as escolas econômicas concordam que livre comércio internacional é vital para o desenvolvimento econômico das nações.

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17 - Como seria uma zona de livre comércio aqui no Brasil se o RS se separasse daqui?

Seria desastroso, pois os países do Mercosul fazem fronteiras justamente com os Estados do Sul. Como falado na pergunta anterior, um Bloco Econômico permite a livre movimentação de recursos, fatores de produção e mercadorias, e fatores de produção entende-se além de máquinas e capital, pessoas, ou seja, o passaporte livre acabaria e assim deixaria de movimentar o turismo no RS advindos dos países membros do Bloco. Muitas das exportações do RS são para países do Mercosul, e essa saída provocaria queda nas exportações também, pois as mesmas não seriam mais isentas das taxas aduaneiras. O Brasil perderia, pois diminuiria sua participação no comércio regional do bloco.

18 - Qual investimento você recomenda para uma pessoa que quer começar a ganhar um dinheiro legal, afora o trabalho?

Investimento no intuito de garantir renda extra é muito difícil de se executar ainda mais se a pessoa já dedica parte de seu tempo ao trabalho, a menos que a pessoa tenha uma poupança enorme rendendo quase nada. Se a pessoa quiser abrir mão do lazer, o mercado de ações pode ser considerado, porém exige que a mesma disponha de tempo para aprender estatística e contabilidade e poder realizar análises constantes das ações negociadas no dia a dia. Uma alternativa bem rentável é o investimento no Tesouro Direto na modalidade IPCA-10, pois garante um bom retorno, podendo o capital investido dobrar a cada 4 anos. Mas atenção aos parâmetros da Receita Federal, pois exige a incidência de imposto de renda sobre os rendimentos da aplicação e o IR é regressivo pelo tempo em que aplicação permanecer. Fuja de propostas bancárias como VGBL ou títulos de capitalização, não rende quase nada e muitas das vezes só dão dor de cabeça na hora de exercer a liquidez. Outra alternativa de investimento é a educação, invista em absorver conhecimento, seja uma pós-graduação, um curso de idiomas ou profissionalizante, tudo que puderes agregar em seu currículo pode aumentar os seus ganhos futuros no ambiente profissional.

19 – Por que produtos vendidos em lojas digitais são mais baratos que os vendidos em lojas físicas, mesmo em se tratando da mesma loja, com possibilidade de retirada no local? Por exemplo, a Saraiva vende o livro X por 80 reais na av. São Judas, porém no site é 60. Aí você compra no site, paga 60 reais e no dia útil seguinte retira na loja o livro que custa 80 reais na vitrine. Qual o sentido disso?

O sentido disso é estimular cada vez mais a substituição do ambiente físico pelo virtual, além de oferecer mais conveniência aos consumidores e assim poder fidelizar os clientes. É inegável que o comércio eletrônico é mais eficiente na redução de custos de uma empresa de varejo, pois os produtos saem diretamente do estoque para a expedição de entrega, não tendo que serem arrumados nas gôndolas das lojas e assim tiverem uma série de custos para a exposição do produto como iluminação, climatização do ambiente, segurança, limpeza, atendimento, comissão de vendas e etc.

20 - Como faço pra não ser um fudido em potencial? Todo mês é um sofrimento pra guardar dinheiro.

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Hahahhahaha, bom é necessário disciplina e abrir mão de coisas supérfluas para pode guardar dinheiro. Procure sempre pagar suas contas em dia, o pagamento de juros e multas levam uma boa parte da renda se não tiver cuidado. Tente pesquisar preços nas coisas que pretende comprar, se um tubo de creme dental de 200g custar menos do que o dobro do preço de uma de 90g, compre, tente sempre obter vantagens em promoções e nunca gaste acima do que ganhe, o planejamento dos gastos no inicio do mês é essencial para nortear todos os seus gastos durante o mês até o próximo pagamento. E quando tiver uma grana sobrando acima do que você planejou para poupar, gaste e seja feliz, afinal, ninguém é de ferro.

21 – Acho que, por ora é só. É uma pena não ter conseguido gravar um podcast sobre Economia, mas sinto que a entrevista foi muito produtiva. Obrigado pela disponibilidade, McPhisto. Gostaria de deixar mais algum recado para nossos amigos leitores?

Estudem , tenham paciência  e comam vegetais!

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domingo, 19 de novembro de 2017

Dica especial do Dia da Consciência Negra!

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Hoje é o dia da consciência negra e para celebrar essa data, O Sommelier de Tudo decidiu publicar uma dica que celebra o melhor filme feito de negros para negros em todos os tempos: As Branquelas.

O filme, caso você não saiba, trata-se de dois agente do FBI, Kevin e Marcus, que não tem muito crédito com o seu chefe e recebem uma missão que ninguém quer aceitar: serem guarda-costas de duas irmãs socialites, que estão sob a suspeita de serem sequestradas e acabam tendo que assumir o papel delas durante um final de semana inteira no Hotel Hampton, após elas sofrerem pequenos cortes no seus rostos.

Este filme é um clássico da comédia. Todo mundo já assistiu e se você não assistiu, alguém muito próximo de você já assistiu, porque ele fez muito sucesso, seu humor é escrachado, podre e honesto, suas piadas estão por todos os lados na internet e gerou a cena mais icônica do cinema americano da última década.

https://www.youtube.com/watch?v=_qJOBO8BQyY

Dirigido por Keenen Ivory Wayans, o mesmo gênio por trás da série mais marcante da infância de todos os millenials junto com “Chaves” e “Todo Mundo Odeia o Chris”, “Eu, a Patrou & as Crianças”, o filme ainda conta com seus irmãos Shawn e Marlon Wayans nos papéis principais, o famoso Pai do Chris, Julius, no papel icônico de Latrell Spencer, as maravilhosas Jennifer Carpenter e Brittany Daniel, além de uma porrada de caras que atuaram em outros tantos filmes dos irmãos Wayans, como “O Pequenino” e “Todo Mundo em Pânico”, o filme tem um legítimo elenco de primeira, que nunca estiveram tão entrosados em toda a sua carreira como nesse filme.

O humor seco, tosco e escrachado é, ao mesmo tempo, honesto. O filme não quer se passar de inteligentão, nem fazer uma CRÍTICA SOCIAL FODA, muito menos ser o melhor filmes de todos os tempos, ele só quer faturar uns milharezinhos pra pagar as contas e pronto, nada mais, com um humor fácil de ser compreendido e que tira risadas de todo mundo, mesmo que só um sorrisinho de canto da boca, o filme diverte todos.

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E ainda assim, o filme não é feito nas cochas, o seu início com “Latin Thugs” de Cypress Hill já é um grito de “Isso aqui não é qualquer coisa!”. Assim que a primeira cena termina, já sabemos todo o tom do filme, somos apresentados aos personagens azarados e já podemos prever que a trajetória do herói irá se iniciar. Nos aspectos narrativos, o filme pode ser amplamente estudado, criando uma história que culmina de forma explosiva à conclusão, usando de todos os elementos que um filme pode oferecer, é uma obra que beira a perfeição.

Os momentos em que o filme usa de efeitos práticos são cruciais para que o ritmo do filme seja sempre crescente. É um exemplo magnífico do que pode ser chamado de comédia de ação, algo que “Os Outros Caras” fizeram muito bem anos mais tarde.

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Com tantos pontos positivos, fica difícil encontrar pontos negativos, é um trabalho quase homérico achar algo de ruim a ser falado sobre essa fantástica obra e a verdade é que é impossível, o filme é bom demais, um clássico absoluto da comédia de ação e que merece ser reassistido centenas, não! Milhares de vezes.

 

Enfim, “As Branquelas” não é apenas o melhor filme feito de negros para negros, mas é um filme feito pra todo mundo, uma obra excelente de qualidade e sincronia fantástica, feito pelos mestres da comédia; os irmãos Wayans, sendo este, o seu magnum opus.

E que venha “As Branquelas 2”.

5 pontos

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Dica literária: “The Wild Palms [If I forget thee, Jerusalem]” do William Faulkner (1939)

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O personagem central de “O apanhador no campo de centeio”, Holden Caulfield (meu equivalente na literatura americana por muito tempo) diz que um livro bom de verdade é aquele em que, assim que você termina, você fica com vontade de conversar com o seu autor.

E é assim que eu me sinto ao terminar de ler esse livro pouco conhecido de Faulkner.

A obra foi publicada sob o título de “The Wild Palms”, mas o autor queria publicar sob o misterioso título de “If I forget thee, Jerusalem”, eis porque o título dessa dica é desse tamanho e também é assim que o livro é publicado atualmente. Conta duas histórias entrelaçadas, cada uma com 5 capítulos, “The Wild Palms” e “The Old Man”, muito diferentes entre si, mas que se complementam em seu tema.

“The Wild Palms” conta a história de um recém-formado médico, o qual se envolve com uma mulher casada e os dois acabam fugindo juntos, numa trágica viagem pelos EUA, mantendo a todo custo a paixão deles viva. Já “The Old Man” conta as desventuras de um preso, que recebe uma missão de resgate durante uma enchente no sul dos EUA, mas acaba encontrando uma mulher grávida, o que o força a improvisar o caminho que seguirá em sua missão.

As duas histórias são apresentadas de maneira cruzada, começando com “The Wild Palms” e terminando com “The Old Man”, escolha feita por Faulkner para manter a tensão do livro. Pode não parecer e, realmente, as histórias enganam, mas logo no 3º capítulo (pertencente a “The Wild Palms”) percebemos que essas duas histórias irão manter uma intensidade elevada, segurando a sua atenção, ao ponto de que os capítulos têm uma média de 40 páginas, mas não percebemos o tempo passar durante a leitura.

Tipicamente, Faulkner quebra a linha do tempo da história, começando “The Wild Palms” já no clímax da história para só no 3º capítulo nos fazer voltar no tempo para saber como que os dois personagens principais da história chegaram naquele ponto. “The Old Man”, apesar de ser bem mais linear, apresenta seus momentos de experimentalismo quando a história nos faz acreditar que tudo acabou para o personagem principal logo no primeiro capítulo, apenas para ele voltar como um enviado dos céus no 2º capítulo em diante e, não só isso, ele estar narrando a história para um colega.

É incrível a facilidade como Faulkner quebra as convenções de romances, de inúmeras formas diferentes, mas mantendo uma forte consistência narrativa. Em momentos, as descrições e o uso excessivo de adjetivos pode incomodar, os capítulos são longos demais, mas a construção do texto ao longo das histórias acaba valendo a pena conforme vamos nos aproximando do final de cada capítulo.

Eu li em inglês e não tenho como comparar com a experiência de quem ler em português, porque nunca li nada do Faulkner em português, mas eu suponho que seja um desafio traduzir a obra, pois ela cheia de erros gramaticais e de pontuação, colocados de propósito seja para indicar o modo sulista de falar ou para indicar a entonação ou ainda o tempo de fala do personagem em questão.

Afora isso, as duas histórias são bonitas, apesar do conteúdo trágico, mas ao final do livro ficamos com uma sensação boa e uma vontade de ler mais. Como dito no começo do post, é um desses livros que te deixa com vontade de conversar com o autor.

Ah, e os personagens de “The Old Man” não têm nome.

4 pontos

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Dossiê François Truffaut (filmografia)

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Hoje, um post diferente, nenhuma dica, ou talvez sejam várias dicas. Elaborei esse dossiê com base na filmografia de Truffaut, aqui estão todos os seus filmes, analisados pelo Sommelier de Tudo. Pela sua extensão, não serão analisadas profundas, apenas comentários rápidos, com um pequeno sumário do que ocorre na obra, sem nota ou seguindo uma ordem de preferência, classificados, portanto, na ordem de lançamento.

Tenho planos para fazer outros dossiês, de coisas até menos complexas, mas minha paixão por Truffaut me motivou a fazer isso, antes de qualquer coisa. Neste final de ano, os posts estão diminuindo e não sei se conseguirei manter os 2 posts por semana, mas se não conseguir, fiquem com esse super-post que indica mais de 20 filmes para você assistir antes de morrer.

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1959 – Os incompreendidos: O primeiro filme de Truffaut é quase uma autobiografia. Truffaut chegou a afirmar quando questionado sobre o conteúdo da obra: “O que não é verdade, é biográfico”. Nesta obra, conhecemos Antoine Doinel, que viria a motivar o resto da carreira do diretor, aos 14 anos, desmotivado com a escola e desencantado com a vida familiar, o jovem Antoine passa a matar aulas para assistir filmes com os colegas, mas o seu comportamento rebelde gera consequência imprevisíveis para o garoto e até os próprios pais. É um marco da Nouvelle Vague, dando o pontapé inicial no movimento, chamando a atenção da crítica e do público pela sensibilidade com a qual o filme explora a delinquência juvenil, de forma crua, sem sentimentalismos ou julgamentos, simplesmente conhecemos a história de Antoine e os dramas pelos quais ele passa, que também foram os dramas do diretor. Aqui já conhecemos a genialidade de Truffaut, que sabia se perder em prol da arte, mesmo ao fazer uma obra autobiográfica ele conseguiu manter a história acessível e relacionável, sendo adorada por todos os amantes de cinema em todas as gerações que vieram depois. É um filme eterno.

Vale assistir? Absolutamente.

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1960 – Atirem no pianista: Truffaut também era fãzaço de Hitchcock e “Atirem no pianista” é a melhor homenagem que a Nouvelle Vague já fez ao diretor. A história de Edouard Saroyan, um pianista que abandona a carreira célebre após a morte da esposa e passa a tocar num clube noturno, reencontrando um de seus irmãos que está envolvido com a máfia, é uma obra de suspense, que mescla romance e drama familiar, como só os filmes da nouvelle vague sabiam fazer, adaptando um livro de mesmo nome. Lançado no mesmo ano que “O Acossado”, eu não sei qual é o melhor, mas “Atirem no Pianista” é uma obra cinematográfica com qualidade literária, com longos diálogos e monólogos que captam a essência da natureza humana. Pode ser que eu esteja vendo coisas demais nele, mas há passagens realmente memoráveis no filme.

Vale assistir? Demais!

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1961 – Tire-au Flanc 62: remake do filme homônimo de Jean Renoir, adaptando uma obra teatral, é um trabalho onde Truffaut divide a direção com Claude de Givray e é também um filme um pouco menor do que os outros do diretor, no entanto tem seus momentos de genialidade, principalmente na direção. O filme conta a história de Jean Lerat e seu servo, Joseph, durante o serviço dos dois no exército. É uma comédia, então não dá pra se esperar grandes lições sobre a vida, longos diálogos e passagens memoráveis, mas é muito engraçado e cumpre o que promete.

Vale assistir? Sim, mas não com urgência.

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1962 – O amor aos 20 anos: um filme separado em 5 partes, cada uma dirigida por um diretor diferente, conta diferentes histórias de amor em diferentes partes do mundo. Não é nem preciso dizer que a melhor é dirigida por Truffaut, que retorna à história de Antoine Doinel, no melhor registro de sua vida fictícia. É também a primeira parte do filme, então ele pode se tornar cansativo, embora o segmento japonês seja tão bom quanto o francês.

Vale assistir? Com certeza!

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1962 – Jules e Jim - uma mulher para dois: Este é, provavelmente, o filme mais influente de Truffaut, sempre lembrado por diretores do mundo todo em suas entrevistas, é também um filme que sempre figura em listas de melhores da história e aparece direto nesses programas de TV voltado a cinéfilos, merecidamente. Conta a história de Jules e Jim, dois amigos que se apaixonam pela mesma mulher, Catherine, que acaba casando com Jules, embora anos depois, Jim passe a chamar a atenção de seus afetos. É mais um desses filmes que você nota o quão cabeçudo Truffaut era, pois é também uma adaptação literária. É possível traçar diversos paralelos com a literatura, a começar pela sua estrutura, que explora uma relação triangular a fundo e dando um enorme salto no tempo para desconstruir aquilo que havia construído na primeira parte do filme. Truffaut lia pra caralho, essa é a verdade e por isso é o melhor diretor de cinema de todos os tempos.

Vale assistir? Perfeitamente!

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1964 – Um só pecado: Esse não figura nas listas de melhores filmes do Truffaut, e com razão! É a história de um homem que se apaixona por uma aeromoça e começa a ter um caso com ela. Só tem um porém, ele é casado há 12 anos e tem até uma filha. É um drama que se mantém muito pé no chão, nas mãos de Godard se tornaria uma história cheia de cortes, viagens no tempo, explosões e um final desolador, nas mãos de Rohmer seria triste, porém o final nos daria aquela sensação de merecimento, que satisfaz nossos princípios morais, no entanto é um filme de Truffaut e tudo é tratado com distanciamento e sem julgamentos, uma história que cresce naturalmente. Uma pena não ser interessante, já na premissa.

Vale assistir? Não.

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1966 – Fahrenheit 451: adaptando a obra prima de Ray Bradburry, o filme de ficção científica nos conta a história de um bombeiro, mas que no universo em que o filme se situa, queima livros considerados subversivos pelo governo ditatorial. Isso até que ele começa a ler livros. É uma ficção científica feita para Truffaut, pois é nesse filme que ele pode explorar a sua paixão pela literatura, além de adaptar de maneira magnífica a obra original. É também seu primeiro filme colorido.

Vale assistir? Plenamente!

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1968 – A noiva estava de preto: Truffaut volta ao cinema noir, com esse filme que conta a história de uma mulher em busca de vingança. Pode não parecer, mas é extremamente influente, principalmente entre os diretores de filmes B do oriente. Apesar disso, não é um filme B, muito pelo contrário, é um filme que mostra a maestria com que Truffaut guia a narrativa intricada de seus filmes e as soluções que ele dá, não apenas técnicas, mas narrativas também.

Vale assistir? Cabalmente!

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1968 – Beijos Proibidos: e voltamos a Antoine Doinel, agora depois de servir ao exército, o jovem rapaz vira detetive num agência, mas não é lá grandes coisas, principalmente pela sua inexperiência. Enquanto isso, ele começa a viver um amor com a sensata Christine Darbon. É um filme lindo, muito singelo e que poderia ter encerrado o ciclo de Antoine Doinel com chave de ouro.

Vale assistir? Incondicionalmente.

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1969 – A sereia do Mississipi: neste filme, estrado por Jean-Paul Belmondo, conhecemos Louis Mahe, que mora em Madagascar e decide encontrar uma mulher através de anúncios no jornal. Ele conhece uma mulher e acaba se casando com ela, no entanto ela esconde um segredo que pode acabar com o relacionamento dos dois. É um dramalhão, mas é bem guiado por Truffaut, embora não seja memorável.

Vale assistir? Vale.

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1970 – O garoto selvagem: de volta ao preto e branco, Truffaut nos apresenta a sua faceta de ator, neste filme que ele também dirigiu, contando a história de um menino que é encontrado no meio da selva e que é levado para a civilização sem saber ler, escrever ou sequer se portar como um humano. Truffaut interpreta o professor que irá cuidar e educar o menino. É um filme singelo, porém arrastado e não tem nada de muito significativo que o faça se destacar na filmografia do diretor.

Vale assistir? Só se você estudar pedagogia.

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1970 – Domicílio Conjugal: ao longo de sua carreira, Truffaut percebeu que não conseguiria se manter fiel ao que havia planejado para Antoine Doinel e é neste filme que o personagem começa a se distanciar do diretor. Agora encontramos Antoine casado com Christine, mas ele está desempregado e acaba se envolvendo com outra mulher, enquanto a sua esposa descobre estar grávida. É um ótimo filme, mas não é o melhor destino que poderíamos imaginar para Antoine, que demonstra ainda não ter crescido.

Vale assistir? Bastante.

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1971 – Duas inglesas e o amor: neste dramalhão arrastado, conhecemos Claude, que se apaixona por uma inglesa chamada Anne, a qual o convida para visita-la em sua casa no país de Gales, onde ele conhece sua irmã, Muriel, iniciando assim um óbvio triângulo amoroso. Não é um filme particularmente bom.

Vale assistir? Creio que não.

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1972 – Uma jovem tão bela como eu: Stanislas Prévine é um sociólogo que está fazendo um trabalho com mulheres criminosas, que acaba se interessando pela história Camille, uma mulher acusada de matar um de seus amantes, a qual lhe é contada pela própria acusada. É uma história contada através de flashbacks e mais uma vez conhecemos o lado literário do diretor, numa comédia dramática que não chega a ser das melhores.

Vale assistir? Se você não tiver mais nada pra ver, sim.

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1973 – A noite americana: o nome do filme vem de um recurso cinematográfico usado em filmes antigos e que já entrega que esta obra será uma enorme homenagem ao cinema. Nele acompanhamos toda uma equipe de produção de um filme, onde Truffaut interpreta o próprio diretor do filme, atores de envolvem em casos amorosos, atrizes entram em pânico, rolos de filme são estragados e a produção atrasa. Neste filme, Truffaut nos providencia, através de sua própria voz, diversos ensinamentos sobre o lado mais subjetivo do trabalho de um diretor. É magnífico!

Vale assistir? Seguramente!

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1975 – A história de Adèle H.: neste filme conhecemos Adèle Hugo, filha de Victor Hugo, doente de amor por um tenente do exército francês que é enviado para o Canadá e ela parte em perseguição a ele. É um filme fraco, melodramático e que só apresenta personagens detestáveis.

Vale assistir? De jeito nenhum!

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1976 – Na idade da inocência: Truffaut homenageia a verdadeira melhor idade com uma comédia singela para todas as famílias, acompanhando as desventuras de um grupo de crianças no verão de 1976 na França, apresentando suas frustrações, encantamentos, problemas familiares e brincadeiras. Você se sentirá assistindo um desses filmes dos anos 80 com crianças que todo mundo adora falar que ama, mas este, no caso, é bom de verdade. Um dos melhores filmes de Truffaut, com certeza.

Vale assistir? Terminantemente!

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1977 – O homem que amava as mulheres: no natal de 76, Bertrand Morane decide escrever a sua biografia, relatando uma vida voltada às mulheres, desde as suas frustrações de infância causadas pela mãe ausente, passando pela sua primeira experiência com uma prostituta e suas inúmeras conquistas. Não é um dos melhores filmes de Truffaut, mas é um filme interessante, que nos apresenta uma visão de mundo execrável de uma forma admirável, pois acabamos simpatizando com Bertrand, apesar de sabermos o quão ruim isso é. O senso de humor aguçado do filme também ajuda muito nessa questão.

Vale assistir? Ô!!!

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1978 – O quarto verde: na minha opinião, o filme mais experimental de Truffaut e o que eu menos entendi. Preciso rever, mas não sei se vou ter paciência, pois seu ritmo é muito arrastado. Conta a história de um jornalista que perdeu a mulher e que guarda todos os seus pertences num quarto, até que um dia esse quarto pega fogo e lá se vão todas as memórias que o jornalista guardou por tanto tempo. Muito subjetivo, é um filme para momentos sensíveis, não podemos simplesmente decidir assisti-lo, é meio que ele nos escolhe.

Vale assistir? Fica a seu critério.

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1979 – O amor em fuga: o último filme de Antoine Doinel, encerrando esse enorme ciclo na carreira do diretor, é também o filme que menos contentou Truffaut (pelo menos dos filmes que fez de Antoine) e não é pra tanto, nele vemos um Antoine ainda adolescente, apesar de já ter 35 anos, completamente distante da imagem que conecta criação e criador em “Os Incompreendidos”. Divorciado em Christine, ele passa a reencontrar as pessoas que marcaram sua vida no passado, como Colette e o ex-amante de sua mãe. Apesar dos pesares, é um ótimo filme, que encerra de maneira digna o ciclo Antoine Doinel. Truffaut pode ter se incomodado com o distanciamento do personagem, mas isso apenas deu a ele uma vida nova.

Vale assistir? Sim, senhor.

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1980 – O último metrô: neste drama histórico, conhecemos uma companhia de teatro no meio da Alemanha Nazista, que mantém escondida no subsolo do teatro o diretor judeu da companhia. Sua mulher fica responsável da produção, então acompanhamos toda a sua desenvoltura para poder apresentar as peças sem que os nazistas descubram que seu marido está escondido no subsolo. É mais um desses filmes que mescla gêneros e que exige do espectador um certo conhecimento prévio, como por exemplo, saber que o nome do filme vem de uma realidade muito própria de Paris na II Guerra Mundial. O filme nos apresenta personagens instigantes e uma história consistente, mas não é dos melhores de Truffaut, apesar de a crítica amar.

Vale assistir? Quando você já tiver assistido bastante Truffaut, sim.

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1981 – A mulher do lado: no final de sua carreira, Truffaut entrou numa espiral criativa que o fez criar filmes muito únicos, difíceis de serem analisados por uma ótica só. É assim com “O último metrô”, é assim com o último e é assim com este, que nos apresenta uma tragédia narrada pela gerente de um clube de tênis, que diz ter conhecido um homem casado e com filho, mas que foi aos poucos sendo levado a loucura quando uma ex-amante foi morar com o marido na casa ao lado. O filme fica meio arrastado no meio, mas o começo e o final fazem valer a pena o investimento de tempo nele.

Vale assistir? Oui.

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1983 – De repente, num domingo: este filme que foi dica há pouco tempo é o retorno de Truffaut ao cinema noir e policial, com um conto intricado e surpreendente, subverte os padrões do gênero, se tornando facilmente uma obra seminal, de fazer Hitchcock ficar boquiaberto. Tem algumas inconsistências ao longo de sua projeção, mas os poucos defeitos não diminuem a qualidade dessa obra fantástica, que conta a história de Julien Vercel, que se vê vítima de um complô quando sua esposa e seu amante são mortos, ficando a cargo da secretária dele, Barbara Becker, descobrir a verdade.

Vale assistir? Logicamente.

E assim, com esse último filme maravilhoso da carreira do diretor, encerro esse dossiê. Espero que lhe sirva de alguma coisa, se não pra você assistir todos os filmes, pelo menos pra assistir alguns filmes desse diretor, que se aventurou por inúmeros gêneros, sempre com solidez e bravura, até mesmo nos resultados mais malogrados.

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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Dica musical: "Nerve" por People Like You (2017)

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Falemos de uma surpresa muito agradável que tive ao visitar um dos melhores blogs da internet, Sophie’s Floorboard.

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A banda chama-se People Like You e neste ano, mais especificamente em Julho, um mês difícil para lançamentos independentes, lançaram “Verse”, o seu primeiro álbum de estúdio, completinho com 11 deliciosas músicas de rock triste, com uma mescla interessante de jazz.

E já podemos falar do aspecto principal da banda, a mescla de rock com jazz, mas não qualquer rock, aquele indie rock mais triste, reminiscente das bandas slacker dos anos 90 e descendente do emo escandaloso da metade dos anos 2000, além de um jazz mais tranquilo, menos estridente do que os experimentalismos que reviveram o gênero nos anos 60, 70 e 80, com grandes álbuns de fusion e voltando-se mais para os clássicos mais cautelosos dos anos 20 e 30.

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Descritivamente a banda pode se enquadrar na mesma categoria que American Football, mas quando paramos para ouvi-la percebemos que as similaridades terminam na intencionalidade de criar um som que mescle o rock triste com o jazz saudosista, pois People Like You é um banda muito mais voltada a criar uma ambientação melancólica para as suas músicas, focando em acordes de guitarra leves e a presença de trompetes em muitas músicas apenas reforçando essa atmosfera e não sendo o destaque.

Em momentos, essa mescla de gêneros parece forçada demais, mas eu acredito que é apenas o estilo que a banda decidiu seguir. Apesar desse ser o primeiro álbum, a banda é formada por membros de uma outra banda chamada “I Kill Giants” (excelente nome, aliás) e estão na ativa desde 2014, então eles não são inexperientes, apenas decidiram seguir um caminho que não agrada tanto ao meu ouvido, mas lendo por aí, fiquei sabendo de muita gente que curtiu esse som que a banda cria.

[bandcamp width=100% height=42 album=529024372 size=small bgcol=ffffff linkcol=0687f5 track=1667168004]

As letras acompanham as melodias e são tão ou mais tristes, cheias de incertezas e uma dramaticidade típica de eternos adolescentes. É uma característica supersaturada atualmente, mas é algo que tem o seu público e sempre terá, enquanto existir adolescentes tristes.

Enfim, People Like You nos apresenta um álbum gostoso de ouvir, não há nada de realmente novo aqui, mas é um toque a mais para aqueles que sentem saudade desse tipo de mescla de gêneros musicais, embora eu ache que o último CD do American Football ainda esteja fresco o suficiente para saciarmos nossa vontade de escutar um rock triste ao som de trompetes (e no caso ainda podemos aprender a como crescer).

3 pontos

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Dica cinematográfica: "Blade Runner 2049"

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Putz... fazia tempo que não via um filme tão bom de ficção científica.

“Blade Runner 2049” é a continuação de um dos filmes mais queridos pelos nerds dos últimos tempos, “Blade Runner” e se passa 30 anos depois do primeiro filme. Após os acontecimentos, magistralmente narrados nos curtas que o precederam, conhecemos K, um replicante de um modelo novo, que caça modelos antigos de replicantes, executando a função que Rick Deckard exercia no primeiro filme, só que de uma forma muito mais incisiva, pois em 2049, todos os modelos antigos de replicantes são caçados, não apenas aqueles que se rebelavam.

Ao “aposentar” um replicante no início do filme, K entra em contato com uma conspiração que diz que um casal de replicantes havia gerado uma vida e o detetive passa a investigar isso, explorando diversas localidades de um EUA estéril, tendo longas discussões filosóficas com cientistas cegos megalomaníacos, outros replicantes e inteligências artificiais.

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É um filme fantástico! E também é um filme gigante! Não apenas no sentido do poder que esse filme tem, no nosso mundo real mesmo, é a continuação de um filme extremamente famoso e muito bem feito, mas o filme em si, “Blade Runner 2049”, sozinho, é um filme gigante. A começar pela apresentação do mundo que esse filme nos faz, mostrando, de verdade, todo o universo de Blade Runner, de uma forma nunca antes imaginada. Os cenários são gigantes, os visuais desse filme são expansivos e, claro, é muito melhor visto num cinema.

O filme também toca em temas expansivos, temas que não fazem parte do nosso cotidiano, mas nos colocam a pensar, tendo um escopo filosófico muito maior que o primeiro.

Mas o ponto que mais quero falar nessa dica é a forma como esse filme desconstrói gêneros, pois apesar de “Blade Runner 2049” ser um filme de ficção científica, ele é um filme noir, respeitando todas as convenções do gênero, mas numa ambientação futurista e distante daquilo em que o noir havia sido proposta a representar. A mistura dos dois é magistralmente executada nesse filme, tornando-o num noir de ficção científica classudo e poderoso.

O filme enche os olhos e enche a mente.

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Os aspectos técnicos são incríveis, simplesmente. O tratamento às imagens, a trilha sonora, composta milimetricamente para se encaixar como uma luva em cada momento, mas sem te deixar esquecer de que você está vendo um filme de ficção científica, tudo trabalha tão bem que esse filme beira a perfeição. Na verdade, acho difícil que um filme atual possa ser tão bem executado quanto esse, se um filme chegou perto dos limites do cinema atual, esse filme é “Blade Runner 2049”.

Porém, a narrativa pode se tornar confusa e alguns momentos você fica pensando se não ocorreram por puro acaso. Na verdade, os personagens principais contam com essa ajuda do acaso e mais para o final ficamos sem entender claramente como K chegou à conclusão que chegou e porque tomou a atitude que tomou, embora isso ajude o filme a apresentar um final fechado.

Enfim, “Blade Runner 2049” é um filme noir, não se engane, um neo-noir, pra ser mais específico e o melhor que o cinema hollywood nos apresentou nos últimos anos.

4 pontos e meio