quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Dica literária: “The Wild Palms [If I forget thee, Jerusalem]” do William Faulkner (1939)

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O personagem central de “O apanhador no campo de centeio”, Holden Caulfield (meu equivalente na literatura americana por muito tempo) diz que um livro bom de verdade é aquele em que, assim que você termina, você fica com vontade de conversar com o seu autor.

E é assim que eu me sinto ao terminar de ler esse livro pouco conhecido de Faulkner.

A obra foi publicada sob o título de “The Wild Palms”, mas o autor queria publicar sob o misterioso título de “If I forget thee, Jerusalem”, eis porque o título dessa dica é desse tamanho e também é assim que o livro é publicado atualmente. Conta duas histórias entrelaçadas, cada uma com 5 capítulos, “The Wild Palms” e “The Old Man”, muito diferentes entre si, mas que se complementam em seu tema.

“The Wild Palms” conta a história de um recém-formado médico, o qual se envolve com uma mulher casada e os dois acabam fugindo juntos, numa trágica viagem pelos EUA, mantendo a todo custo a paixão deles viva. Já “The Old Man” conta as desventuras de um preso, que recebe uma missão de resgate durante uma enchente no sul dos EUA, mas acaba encontrando uma mulher grávida, o que o força a improvisar o caminho que seguirá em sua missão.

As duas histórias são apresentadas de maneira cruzada, começando com “The Wild Palms” e terminando com “The Old Man”, escolha feita por Faulkner para manter a tensão do livro. Pode não parecer e, realmente, as histórias enganam, mas logo no 3º capítulo (pertencente a “The Wild Palms”) percebemos que essas duas histórias irão manter uma intensidade elevada, segurando a sua atenção, ao ponto de que os capítulos têm uma média de 40 páginas, mas não percebemos o tempo passar durante a leitura.

Tipicamente, Faulkner quebra a linha do tempo da história, começando “The Wild Palms” já no clímax da história para só no 3º capítulo nos fazer voltar no tempo para saber como que os dois personagens principais da história chegaram naquele ponto. “The Old Man”, apesar de ser bem mais linear, apresenta seus momentos de experimentalismo quando a história nos faz acreditar que tudo acabou para o personagem principal logo no primeiro capítulo, apenas para ele voltar como um enviado dos céus no 2º capítulo em diante e, não só isso, ele estar narrando a história para um colega.

É incrível a facilidade como Faulkner quebra as convenções de romances, de inúmeras formas diferentes, mas mantendo uma forte consistência narrativa. Em momentos, as descrições e o uso excessivo de adjetivos pode incomodar, os capítulos são longos demais, mas a construção do texto ao longo das histórias acaba valendo a pena conforme vamos nos aproximando do final de cada capítulo.

Eu li em inglês e não tenho como comparar com a experiência de quem ler em português, porque nunca li nada do Faulkner em português, mas eu suponho que seja um desafio traduzir a obra, pois ela cheia de erros gramaticais e de pontuação, colocados de propósito seja para indicar o modo sulista de falar ou para indicar a entonação ou ainda o tempo de fala do personagem em questão.

Afora isso, as duas histórias são bonitas, apesar do conteúdo trágico, mas ao final do livro ficamos com uma sensação boa e uma vontade de ler mais. Como dito no começo do post, é um desses livros que te deixa com vontade de conversar com o autor.

Ah, e os personagens de “The Old Man” não têm nome.

4 pontos