terça-feira, 14 de novembro de 2017

Dossiê François Truffaut (filmografia)

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Hoje, um post diferente, nenhuma dica, ou talvez sejam várias dicas. Elaborei esse dossiê com base na filmografia de Truffaut, aqui estão todos os seus filmes, analisados pelo Sommelier de Tudo. Pela sua extensão, não serão analisadas profundas, apenas comentários rápidos, com um pequeno sumário do que ocorre na obra, sem nota ou seguindo uma ordem de preferência, classificados, portanto, na ordem de lançamento.

Tenho planos para fazer outros dossiês, de coisas até menos complexas, mas minha paixão por Truffaut me motivou a fazer isso, antes de qualquer coisa. Neste final de ano, os posts estão diminuindo e não sei se conseguirei manter os 2 posts por semana, mas se não conseguir, fiquem com esse super-post que indica mais de 20 filmes para você assistir antes de morrer.

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1959 – Os incompreendidos: O primeiro filme de Truffaut é quase uma autobiografia. Truffaut chegou a afirmar quando questionado sobre o conteúdo da obra: “O que não é verdade, é biográfico”. Nesta obra, conhecemos Antoine Doinel, que viria a motivar o resto da carreira do diretor, aos 14 anos, desmotivado com a escola e desencantado com a vida familiar, o jovem Antoine passa a matar aulas para assistir filmes com os colegas, mas o seu comportamento rebelde gera consequência imprevisíveis para o garoto e até os próprios pais. É um marco da Nouvelle Vague, dando o pontapé inicial no movimento, chamando a atenção da crítica e do público pela sensibilidade com a qual o filme explora a delinquência juvenil, de forma crua, sem sentimentalismos ou julgamentos, simplesmente conhecemos a história de Antoine e os dramas pelos quais ele passa, que também foram os dramas do diretor. Aqui já conhecemos a genialidade de Truffaut, que sabia se perder em prol da arte, mesmo ao fazer uma obra autobiográfica ele conseguiu manter a história acessível e relacionável, sendo adorada por todos os amantes de cinema em todas as gerações que vieram depois. É um filme eterno.

Vale assistir? Absolutamente.

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1960 – Atirem no pianista: Truffaut também era fãzaço de Hitchcock e “Atirem no pianista” é a melhor homenagem que a Nouvelle Vague já fez ao diretor. A história de Edouard Saroyan, um pianista que abandona a carreira célebre após a morte da esposa e passa a tocar num clube noturno, reencontrando um de seus irmãos que está envolvido com a máfia, é uma obra de suspense, que mescla romance e drama familiar, como só os filmes da nouvelle vague sabiam fazer, adaptando um livro de mesmo nome. Lançado no mesmo ano que “O Acossado”, eu não sei qual é o melhor, mas “Atirem no Pianista” é uma obra cinematográfica com qualidade literária, com longos diálogos e monólogos que captam a essência da natureza humana. Pode ser que eu esteja vendo coisas demais nele, mas há passagens realmente memoráveis no filme.

Vale assistir? Demais!

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1961 – Tire-au Flanc 62: remake do filme homônimo de Jean Renoir, adaptando uma obra teatral, é um trabalho onde Truffaut divide a direção com Claude de Givray e é também um filme um pouco menor do que os outros do diretor, no entanto tem seus momentos de genialidade, principalmente na direção. O filme conta a história de Jean Lerat e seu servo, Joseph, durante o serviço dos dois no exército. É uma comédia, então não dá pra se esperar grandes lições sobre a vida, longos diálogos e passagens memoráveis, mas é muito engraçado e cumpre o que promete.

Vale assistir? Sim, mas não com urgência.

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1962 – O amor aos 20 anos: um filme separado em 5 partes, cada uma dirigida por um diretor diferente, conta diferentes histórias de amor em diferentes partes do mundo. Não é nem preciso dizer que a melhor é dirigida por Truffaut, que retorna à história de Antoine Doinel, no melhor registro de sua vida fictícia. É também a primeira parte do filme, então ele pode se tornar cansativo, embora o segmento japonês seja tão bom quanto o francês.

Vale assistir? Com certeza!

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1962 – Jules e Jim - uma mulher para dois: Este é, provavelmente, o filme mais influente de Truffaut, sempre lembrado por diretores do mundo todo em suas entrevistas, é também um filme que sempre figura em listas de melhores da história e aparece direto nesses programas de TV voltado a cinéfilos, merecidamente. Conta a história de Jules e Jim, dois amigos que se apaixonam pela mesma mulher, Catherine, que acaba casando com Jules, embora anos depois, Jim passe a chamar a atenção de seus afetos. É mais um desses filmes que você nota o quão cabeçudo Truffaut era, pois é também uma adaptação literária. É possível traçar diversos paralelos com a literatura, a começar pela sua estrutura, que explora uma relação triangular a fundo e dando um enorme salto no tempo para desconstruir aquilo que havia construído na primeira parte do filme. Truffaut lia pra caralho, essa é a verdade e por isso é o melhor diretor de cinema de todos os tempos.

Vale assistir? Perfeitamente!

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1964 – Um só pecado: Esse não figura nas listas de melhores filmes do Truffaut, e com razão! É a história de um homem que se apaixona por uma aeromoça e começa a ter um caso com ela. Só tem um porém, ele é casado há 12 anos e tem até uma filha. É um drama que se mantém muito pé no chão, nas mãos de Godard se tornaria uma história cheia de cortes, viagens no tempo, explosões e um final desolador, nas mãos de Rohmer seria triste, porém o final nos daria aquela sensação de merecimento, que satisfaz nossos princípios morais, no entanto é um filme de Truffaut e tudo é tratado com distanciamento e sem julgamentos, uma história que cresce naturalmente. Uma pena não ser interessante, já na premissa.

Vale assistir? Não.

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1966 – Fahrenheit 451: adaptando a obra prima de Ray Bradburry, o filme de ficção científica nos conta a história de um bombeiro, mas que no universo em que o filme se situa, queima livros considerados subversivos pelo governo ditatorial. Isso até que ele começa a ler livros. É uma ficção científica feita para Truffaut, pois é nesse filme que ele pode explorar a sua paixão pela literatura, além de adaptar de maneira magnífica a obra original. É também seu primeiro filme colorido.

Vale assistir? Plenamente!

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1968 – A noiva estava de preto: Truffaut volta ao cinema noir, com esse filme que conta a história de uma mulher em busca de vingança. Pode não parecer, mas é extremamente influente, principalmente entre os diretores de filmes B do oriente. Apesar disso, não é um filme B, muito pelo contrário, é um filme que mostra a maestria com que Truffaut guia a narrativa intricada de seus filmes e as soluções que ele dá, não apenas técnicas, mas narrativas também.

Vale assistir? Cabalmente!

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1968 – Beijos Proibidos: e voltamos a Antoine Doinel, agora depois de servir ao exército, o jovem rapaz vira detetive num agência, mas não é lá grandes coisas, principalmente pela sua inexperiência. Enquanto isso, ele começa a viver um amor com a sensata Christine Darbon. É um filme lindo, muito singelo e que poderia ter encerrado o ciclo de Antoine Doinel com chave de ouro.

Vale assistir? Incondicionalmente.

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1969 – A sereia do Mississipi: neste filme, estrado por Jean-Paul Belmondo, conhecemos Louis Mahe, que mora em Madagascar e decide encontrar uma mulher através de anúncios no jornal. Ele conhece uma mulher e acaba se casando com ela, no entanto ela esconde um segredo que pode acabar com o relacionamento dos dois. É um dramalhão, mas é bem guiado por Truffaut, embora não seja memorável.

Vale assistir? Vale.

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1970 – O garoto selvagem: de volta ao preto e branco, Truffaut nos apresenta a sua faceta de ator, neste filme que ele também dirigiu, contando a história de um menino que é encontrado no meio da selva e que é levado para a civilização sem saber ler, escrever ou sequer se portar como um humano. Truffaut interpreta o professor que irá cuidar e educar o menino. É um filme singelo, porém arrastado e não tem nada de muito significativo que o faça se destacar na filmografia do diretor.

Vale assistir? Só se você estudar pedagogia.

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1970 – Domicílio Conjugal: ao longo de sua carreira, Truffaut percebeu que não conseguiria se manter fiel ao que havia planejado para Antoine Doinel e é neste filme que o personagem começa a se distanciar do diretor. Agora encontramos Antoine casado com Christine, mas ele está desempregado e acaba se envolvendo com outra mulher, enquanto a sua esposa descobre estar grávida. É um ótimo filme, mas não é o melhor destino que poderíamos imaginar para Antoine, que demonstra ainda não ter crescido.

Vale assistir? Bastante.

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1971 – Duas inglesas e o amor: neste dramalhão arrastado, conhecemos Claude, que se apaixona por uma inglesa chamada Anne, a qual o convida para visita-la em sua casa no país de Gales, onde ele conhece sua irmã, Muriel, iniciando assim um óbvio triângulo amoroso. Não é um filme particularmente bom.

Vale assistir? Creio que não.

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1972 – Uma jovem tão bela como eu: Stanislas Prévine é um sociólogo que está fazendo um trabalho com mulheres criminosas, que acaba se interessando pela história Camille, uma mulher acusada de matar um de seus amantes, a qual lhe é contada pela própria acusada. É uma história contada através de flashbacks e mais uma vez conhecemos o lado literário do diretor, numa comédia dramática que não chega a ser das melhores.

Vale assistir? Se você não tiver mais nada pra ver, sim.

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1973 – A noite americana: o nome do filme vem de um recurso cinematográfico usado em filmes antigos e que já entrega que esta obra será uma enorme homenagem ao cinema. Nele acompanhamos toda uma equipe de produção de um filme, onde Truffaut interpreta o próprio diretor do filme, atores de envolvem em casos amorosos, atrizes entram em pânico, rolos de filme são estragados e a produção atrasa. Neste filme, Truffaut nos providencia, através de sua própria voz, diversos ensinamentos sobre o lado mais subjetivo do trabalho de um diretor. É magnífico!

Vale assistir? Seguramente!

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1975 – A história de Adèle H.: neste filme conhecemos Adèle Hugo, filha de Victor Hugo, doente de amor por um tenente do exército francês que é enviado para o Canadá e ela parte em perseguição a ele. É um filme fraco, melodramático e que só apresenta personagens detestáveis.

Vale assistir? De jeito nenhum!

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1976 – Na idade da inocência: Truffaut homenageia a verdadeira melhor idade com uma comédia singela para todas as famílias, acompanhando as desventuras de um grupo de crianças no verão de 1976 na França, apresentando suas frustrações, encantamentos, problemas familiares e brincadeiras. Você se sentirá assistindo um desses filmes dos anos 80 com crianças que todo mundo adora falar que ama, mas este, no caso, é bom de verdade. Um dos melhores filmes de Truffaut, com certeza.

Vale assistir? Terminantemente!

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1977 – O homem que amava as mulheres: no natal de 76, Bertrand Morane decide escrever a sua biografia, relatando uma vida voltada às mulheres, desde as suas frustrações de infância causadas pela mãe ausente, passando pela sua primeira experiência com uma prostituta e suas inúmeras conquistas. Não é um dos melhores filmes de Truffaut, mas é um filme interessante, que nos apresenta uma visão de mundo execrável de uma forma admirável, pois acabamos simpatizando com Bertrand, apesar de sabermos o quão ruim isso é. O senso de humor aguçado do filme também ajuda muito nessa questão.

Vale assistir? Ô!!!

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1978 – O quarto verde: na minha opinião, o filme mais experimental de Truffaut e o que eu menos entendi. Preciso rever, mas não sei se vou ter paciência, pois seu ritmo é muito arrastado. Conta a história de um jornalista que perdeu a mulher e que guarda todos os seus pertences num quarto, até que um dia esse quarto pega fogo e lá se vão todas as memórias que o jornalista guardou por tanto tempo. Muito subjetivo, é um filme para momentos sensíveis, não podemos simplesmente decidir assisti-lo, é meio que ele nos escolhe.

Vale assistir? Fica a seu critério.

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1979 – O amor em fuga: o último filme de Antoine Doinel, encerrando esse enorme ciclo na carreira do diretor, é também o filme que menos contentou Truffaut (pelo menos dos filmes que fez de Antoine) e não é pra tanto, nele vemos um Antoine ainda adolescente, apesar de já ter 35 anos, completamente distante da imagem que conecta criação e criador em “Os Incompreendidos”. Divorciado em Christine, ele passa a reencontrar as pessoas que marcaram sua vida no passado, como Colette e o ex-amante de sua mãe. Apesar dos pesares, é um ótimo filme, que encerra de maneira digna o ciclo Antoine Doinel. Truffaut pode ter se incomodado com o distanciamento do personagem, mas isso apenas deu a ele uma vida nova.

Vale assistir? Sim, senhor.

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1980 – O último metrô: neste drama histórico, conhecemos uma companhia de teatro no meio da Alemanha Nazista, que mantém escondida no subsolo do teatro o diretor judeu da companhia. Sua mulher fica responsável da produção, então acompanhamos toda a sua desenvoltura para poder apresentar as peças sem que os nazistas descubram que seu marido está escondido no subsolo. É mais um desses filmes que mescla gêneros e que exige do espectador um certo conhecimento prévio, como por exemplo, saber que o nome do filme vem de uma realidade muito própria de Paris na II Guerra Mundial. O filme nos apresenta personagens instigantes e uma história consistente, mas não é dos melhores de Truffaut, apesar de a crítica amar.

Vale assistir? Quando você já tiver assistido bastante Truffaut, sim.

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1981 – A mulher do lado: no final de sua carreira, Truffaut entrou numa espiral criativa que o fez criar filmes muito únicos, difíceis de serem analisados por uma ótica só. É assim com “O último metrô”, é assim com o último e é assim com este, que nos apresenta uma tragédia narrada pela gerente de um clube de tênis, que diz ter conhecido um homem casado e com filho, mas que foi aos poucos sendo levado a loucura quando uma ex-amante foi morar com o marido na casa ao lado. O filme fica meio arrastado no meio, mas o começo e o final fazem valer a pena o investimento de tempo nele.

Vale assistir? Oui.

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1983 – De repente, num domingo: este filme que foi dica há pouco tempo é o retorno de Truffaut ao cinema noir e policial, com um conto intricado e surpreendente, subverte os padrões do gênero, se tornando facilmente uma obra seminal, de fazer Hitchcock ficar boquiaberto. Tem algumas inconsistências ao longo de sua projeção, mas os poucos defeitos não diminuem a qualidade dessa obra fantástica, que conta a história de Julien Vercel, que se vê vítima de um complô quando sua esposa e seu amante são mortos, ficando a cargo da secretária dele, Barbara Becker, descobrir a verdade.

Vale assistir? Logicamente.

E assim, com esse último filme maravilhoso da carreira do diretor, encerro esse dossiê. Espero que lhe sirva de alguma coisa, se não pra você assistir todos os filmes, pelo menos pra assistir alguns filmes desse diretor, que se aventurou por inúmeros gêneros, sempre com solidez e bravura, até mesmo nos resultados mais malogrados.

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