quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Dica cinematográfica: "O Deserto Vermelho" (1964)

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Este é um filme complicado. Desses que você tem que assistir no dia certo, um filme que te escolhe pra ser assistido e não o contrário.

“O Deserto Vermelho” conta a história de Giulliana, um mulher de um engenheiro que trabalha numa região industrial da Itália e mãe de Valério, um garoto que não deve passar dos 5 anos e que mudou após um acidente de carro. Acompanhamos sua trajetória paranoica e neurótica por um ambiente desolador, quase pós-apocalíptico, enquanto descobrimos a verdade de seu passado e podemos analisar as suas relações interpessoais.

Dirigido por Michelangelo Antonioni e o seu primeiro filme colorido é um desses filmes que alçou o nome do diretor como um dos definidores das características do cinema artístico moderno e é também apenas mais um na controversa cinematografia do diretor. Do ritmo lento à ausência de narrativa, o filme é o melhor exemplo do toque autoral do diretor, iniciando a obsessão dele por capturar o momento perfeito com as lentes das câmeras que usava.

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Isso gera longas tomadas em que os personagens se perdem no cenário pós-apocalíptico em que Antonioni criou para os seus personagens. Ele cria um universo próprio para que eles possam existir, mas é um universo hermético, em que só entra convidados e é por isso que eu não gostei tanto desse filme da primeira vez que assisti, mas agora eu me apaixonei e só consigo pensar nele.

Monica Vitti é a personagem principal, num dos seus papéis mais conhecidos de sua carreira e que merece a atenção, pois se destaca no filme todo. Ela simplesmente rouba cena e se torna cumpre como poucas o papel de figura central numa trama que dá tanta atenção ao mundo que a cerca.

Sem contar que é uma das mulheres mais belas que já pisou nesse planisfério mortal.

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Além desses aspectos, o filme ainda provoca longas divagações durante e após sua exibição, sem ser explicitamente político, é um filme que carrega uma intensidade política muito forte. Antonioni se exime de discutir temas políticos (direitos trabalhistas, relação do homem com o meio ambiente, economia e progresso), mas nunca os abandona, mantendo-os presentes ao longo do filme, sofrendo um tratamento sútil e maduro, o que também abre espaço para diversas interpretações, inclusive antagônicas.

Enfim, “O Deserto Vermelho” é um filme que exige preparo por parte do espectador, você não pode simplesmente acordar e começar a assisti-lo, mas se estiver disposto a encará-lo, irá tirar muita satisfação de seu conteúdo.

5 pontos