quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Dica musical: "Love Exchange Failure" do White Ward (2019)

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O black metal já nasceu morto. Num gênero tão limitado, o que as bandas podem fazer para continuar criando algo sem cair no marasmo? Uma solução é a mistura com outros gêneros, seja o shoegaze de Alcest ou, no caso da dica de hoje, o jazz.

White Ward é o nome de uma banda formada em 2012 e esse é o segundo álbum que eles lançam. Tido pela crítica como o seu melhor álbum e um dos melhores de 2019. Não posso afirmar nada quanto a primeira afirmativa, mas posso afirmar quanto a segunda. É de fato, um dos melhores álbuns do ano. Tocando em temas existencialistas, elaborando uma espécie de álbum conceitual em torno da alienação que as cidades geram junto às pessoas e o quanto isso afeta a nossa habilidade de amar, a banda mistura jazz com black metal de maneira magistral.

Ninguém iria suspeitar, mas a mistura dá muito certo, pois o jazz também é um gênero muito amplo e eles executam aqui uma mistura com aquele jazz mais cool, da segunda metade do século 20, remanescente de John Coltrane e Quincy Jones, por exemplo. Logo na primeira canção, temos um saxofone abrindo o álbum após uma espécie de prólogo onde uma guitarra elabora um som atmosférico, enquanto sirenes tocam. As imagens evocadas são de uma madrugada fria e desoladora, onde a solidão impera enquanto pontos de violência eclodem entre um quarteirão e outro.

A partir daí o som apenas cresce e após a introdução jazzística vem a explosão de guitarras desenfreadas, baixo marcante e bateria acelerada numa profusão de barulho enquanto um vocal gritante nos descreve o cenário de uma cidade caótica. O que nos é descrito seria perfeito num quadrinho do Batman e do caos viria a ordem, mas estamos falando de um álbum de black metal.

Love Exchange Failure abraça o caos.

E então entramos no álbum de fato. Cada música tem seus interlúdios, que servem para reforçar a atmosfera de desolação e nos entrega momentos de calmaria, mas que nós sabemos, precedem a tempestade. Cada um desses interlúdios prova que o White Ward se daria muito bem como uma banda de jazz. Se você tirar as partes de black metal, esse álbum se torna um dos melhores álbuns de jazz do ano também.

No entanto é black metal e assim como as canções vão evoluindo, as letras se tornam mais elaboradas, o jazz se funde com o black metal e o saxofone se mistura com as guitarras, o baixo e a bateria, auxiliando no caos, penetrando em cada acorde e expandindo as canções. A mistura é incrível e o resultado é impressionante.

O álbum, de fato, é um dos melhores do ano. Eu, que nem curto black metal, curti demais esse álbum, embora eu sempre fique com dor de cabeça após ouvi-lo. É barulho demais para mim. De qualquer forma, o esforço vale a pena.