terça-feira, 8 de janeiro de 2019

O filme mais libertário de 2018

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Não é surpresa para ninguém que o filme mais aguardado de 2018 é a continuação que ninguém esperava de um dos melhores filmes de animação da década passada. O que eu não esperava é que esse filme fosse ser o equivalente para esta década de “Duro de Matar”.

“Os Incríveis” foi lançado em 2004, numa época em que os ânimos políticos já estavam exauridos nos EUA e havia se instaurado uma tortura psicológica a nível nacional com o tema do terrorismo, que aos poucos foi se tornando uma triste memória e substituído por outras crises morais. Nessa época, o discurso libertário de “Os Incríveis” passou praticamente despercebido e seu mundo idealista onde a ideia de excelência é combatida em nome de uma igualdade social imposta pelo Estado para se colocar um passo a frente dos problemas sem perceber o quão nocivo isso é foi ofuscado pelo carisma de uma família que restaura clássicos elementos de quadrinhos de super-heróis numa sátira amigável.

Agora, mais de 10 anos após o lançamento do primeiro filme os ânimos políticos estão mais do que exaltados e o filme infantil foi, aos poucos, ganhando um espaço notável na lista de “filmes odiados pelos abobalhados” ao lado de obras de gênios como Nolan, Rohmer e Kusturica.

Mesmo sob as asas da empresa mais infame de entretenimento do mundo, “Os Incríveis 2” não abandonou o discurso que defendia no primeiro filme e, melhor, reforçou esse discurso, abandonando os momentos em que poderia ter ganho pontos com a galera do politicamente correto para isso.

O filme parte do ponto em que parou no primeiro filme, com a família Pêra detendo o Escavador, mas ocasionando uma onda de destruição infraestrutural na cidade. A partir daí, eles perdem o auxílio do governo que tinham (o dublador de Ricardo Dicker morreu e essa foi uma boa escapatória para o sumiço do personagem) e conhecemos o magnata da tecnologia Winston Deavor e sua irmã, Evelyn, que elaboram um plano para restaurar o prestígio que os heróis tinham, usando a Mulher-Elástico para isso.

Daí em diante o filme é todo uma defesa a excepcionalidade de cada um e um ataque contra a igualdade entre seres humanos, que nunca será obtida e, portanto, é um objetivo vazio. A luta de Winston para a retomada do prestígio dos heróis é marcada por um discurso anti-governamental e pró-individualismo, que o transforma numa caricatura de Peter Thiel. Sua irmã até brinca chamando-o de “Sr. Iniciativa Livre”.

É difícil achar um linguajar desses em filmes de Hollywood.

Se não bastasse essa trama principal, temos ainda a trama secundária do Sr. Incrível esforçando-se para cuidar da família quando sua mulher sai de casa, tentando controlar tudo como um Super-Estado, quando a única solução é deixar a expressão de cada um aflorar. Ao descobrir que seu filho mais novo tem super-poderes e ele não pode controla-lo, o sr. Incrível recorre a Edna Moda e ela elabora um projeto para conter os poderes do garoto quando eles aflorarem. Não controla-los de antemão, mas reagir apenas ao problema, explicitando claramente a atitude libertária de lidar com os problemas conforme eles aparecem e não tentar se adiantar sobre eles.

Se isso já não bastasse, Dicker é a caricatura de Ronald Reagan e isso eu sempre achei. O elemento libertário é forte em “Os Incríveis 2”, tornando esse um dos melhores filmes de 2018, sem sombra de dúvida.

4 pontos e meio